quinta-feira, 27 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA"-CAPÍTULO 33:

Isaura é presa.Álvaro,Seu Jocelino,André e Maria José também,abordados por milicianos no quarto de hóspedes.Leoncio é obrigado a regressar imediatamente ao Brasil,novamente com os seus prisioneiros.No entanto,apesar de toda esta circunstância escabrosa,Altônia e Adelaide abraçam-se,chorando.Uma diz para a outra.
-Adelaide,que fatalidade!-a diz,Altônia.
-Ah,Altônia!Quanta infâmia!Isaura não merecia isto!O que há de errado em uma pessoa de excelente carácter que só busca a felicidade?!-questiona,imparcialíssima.-Não há nada de errado,absolutamente nada!Pelo contrário!Ela só está a fugir de uma triste sina da vida,deplorável e arcaica para com os direitos humanos!...-opina,Adelaide.
-Sim,minha amicíssima!É verdade!Absolutamente vergonhoso!A minha nação é o único país do mundo a manter a escravidão!Isto é torpe demais!...-acrescenta Altônia e a concorda.
Desta maneira,o "Barão de Aguinava" e a filha Adelaide,somente são condenados a pagar uma multa por terem abrigado uma escrava foragida.Altônia pede-os mil perdões,pois jamais imaginaría trazer consigo o algoz de Isaura.
-Se eu soubesse que tú virias de supetão acompanhada deste infâme do teu irmão,com convicção,Isaura seria avisada,teria fugido e não sería recapturada!-a diz o "Barão",dando baforadas em seu cachimbo de ouro,sentado na cadeira de balanço,enquanto escutam um fado português na vitrola.
-E se eu soubesse que Isaura estivesse aqui,jamais teria trazido Leoncio!Teria guardado segredo!Mas porque Adelaide,nao me contastes?!-a indaga,Altônia.
-Não contei-te,não vás pensar que foi por falta de confiabilidade!E sim pelo facto de que a carta poderia ter sido extraviada,ou por alguma outra imprevisível circunstância Isaura ter sido vitimizada...-justifica.-Mas nada valeu!Aconteceu o que tinha de acontecer,e não podemos mudar isto,jamais!...-responde-a,Adelaide,resignada.
-Mas é!Não deu outra!Tinha de ser assim...Infelizmente assim o foi,e nada poderemos modificar...Só nos resta lamentar e rezar para que Isaura possa finalmente a felicidade encontrar...-concluí,também conformada,Altônia,fazendo o "Sinal-da-Cruz".
E o vento leva o tempo,o mesmo passa.Quando se vê Álvaro é beneficiado novamente por um "Habeas-Corpus",no Brasil,podendo aguardar o seu julgamento em liberdade,mesmo sendo um reincidente.Pelo mesmo sistema,Seu Jocelino e Maria José são beneficiados,auxiliados por Álvaro que financiou-lhes suportes jurídicos..Daqui a uma semana todos serão julgados por terem ajudado na fuga da escrava e a acompanhado.André é assenzalado e condenado a trabalhar na lavoura.
Só que o golpe de misericórdia mesmo é quando Leoncio,agora separado de sinhá Vera,que abandona o lar,voltando para a casa do irmão,Henrique,requerer à Justiça que julgue Isaura,decidindo se vão absolvê-la ou condená-la ao casamento obrigado com o jardineiro corcunda,Belchior,pelo vilão pleiteado,alegando que ela casou-lhe muitos prejuízos materíais e emocionais,ora impetrados por suas quatro fugas consecutivas.
-Pensando melhor a melhor forma de pagar-me a indenizaçao é casar-se comigo!-dita o crápula,sob sorriso malicioso,decidindo que até o dia do julgamento de Isaura,a enclausura em seu quarto de luxo,dando-lhe tudo de bom e do melhor,porém privando-a da liberdade,a essência de qualquer ser humano.
-Muito pior do que estar aqui enclausurada é estar longe de meu grande amor e de meus pais e a proximidade da sentença catastrófica que certamente a "In-Justiça" no julgamento irá imputar-me,só pelo fato de querer usufruír de minha liberdade!Eu sinto...Eu sinto que um destino infeliz a mim,ali será sentenciado!-profetiza.-Não permita oh Deus e todas as 11.000 Virgens!Não permitam esse dia,que sería o mais infeliz para mim!-implora.-Preferiría que tirassem-me a vida e levar-me para o "Céu" do que com esse homem(referíndo-se a Leoncio) casar,como ele agora,vive a me ameaçar!Sería o mesmo que casar-me com um demônio,em cenário infernal!Eu desconjuro!-diz ela,ajoelhada diante do oratório.-Mesmo porque não o amo,nunca o amei e jamais o amarei!Muito pelo contrário:só consigo desprezá-lo,odiá-lo!É como se não existisse para mim!...-confessa,chorando.
É aí que Leoncio muda de idéia...Com a chegada de sinhá Vera.
-Não poderá processar-me por abandono domicíliar,pois acabo de voltar,o de retomar o meu lugar neste lar!...-chega,altiva,e com ares de guerreira,segurando um chicote.-O espetáculo acabou Leoncio!Nunca com a Isaura hás de casar,a não ser que a morte possa nos separar!...-o fala,dando uma chicotada no assoalho.-Se és um leão do mal eu posso domá-lo!Nem que eu tenha de arrancar a minha própria pele e oferecê-lo num prato!...-termina de afrontá-lo,com cabeça erguida.
-Agora dê-me a chave do quarto,antes que eu mesma dou-te uma surra!-o ameaça.-Não desafie-me,pois sabes do que sou capaz!...-o intimida,a corajosa sinhá.
Até que ela ao abrir a porta,tome uma surpresa inesquecívelmente desagradável:Isaura está amarrada ao tronco que Leoncio mandou construír especialmente para ela no seu quarto.Um ato absurdamente reprovável.
-Meu Deus!Quanta truculência,maldito!-o fala,com ódio,ao mesmo tempo,negativamente surpreendida..-Seu ignóbil,cruel e imoral!Até que ponto tú chegastes?!Eu nunca vi isso em toda a minha vida,como eu estou vendo agora!-espanta-se,indignada.-Gênio do mal!Mandar edificar um tronco em plenos aposentos nossos de luxo da casa-grande para castigar uma pobre mulher!Isto é torpe demais!-o dá o primeiro tapa.-É inaceitável demais!-o dá o segundo tabefe.-É inadmissível demais!-o desfere o terceiro.-É covarde demais!-dá-lhe o quarto.-Seu biltre!-e termina-lhe por dá-lo o último tapa.Assim foram cinco tapas totalizados no rosto cínico de Leoncio,após Vera,como uma feiticeira,te-lo hipnotizado com o olhar e com um estalar de dedos,após esbofeteá-lo,fazê-lo tornar a sí.-E ainda obrigá-la a encher-se de jóias,mesmo vestida de escrava!Que horror!Que horror!Alto lá,que vós mercê já vai ver o que eu vou fazer!-avisa-o,revoltada.
Quando se vê,após livrar-se do chicote,sinhá Vera traz nas mãos uma picareta e um facão.
-Não Leoncio,eu não vou te matar!Mesmo porque não valería a pena jogar a minha alma no inferno por vós!Mas a Isaura eu mesma faço questão de a libertar!-e corta as cordas com o facão.-E enquanto a isto,eu vou demolí-lo e é pra já,pois aqui não é definitivamente o seu lugar!-e desfere várias picaretadas no tronco feito com areia e cimento.
O ódio faz com que sinhá Vera tome por demolir o objeto.
-Agora eu faço questão que Rosa possa estes entulhos carregar!-decide,ordenando a escrava-amante do marido que faça a limpeza completa no quarto.
Como é de praxe,Isaura devolve o colar de diamantes,as pulseiras de esmeraldas com os anéis de ouro para sinhá Vera e que Leoncio obrigou-a usar,amarrada ao tronco edificado no quarto,como se estivesse cumprindo pena como uma escrava de luxo,chegando a dar-lhe frutas finas na boca,e até obrigando-a tomar champagne na taça de ouro e a comer caviar,dizendo-a.
-És a minha escrava-rainha!...-chegou a intitulá-la.
Sinhá Vera pede a Isaura que retire do corpo as vestes de escrava,e volte a vestír-se como uma sinházinha para que torne-se cuidadora durante vinte e quatro horas de Comendador Almeida e sinhá Estér,que encontram-se entrevados numa cama,incapacitados,revezando-se como acompanhante do casal com a escrava Iraci.Podendo,inclusive,voltar a gozar de seus passeios matinais junto a Virgi Santa.Detalhe:sempre acompanhadas do feitor Cipriano,mandado por Leoncio para vigiá-las e assim evitar uma quarta fuga da escrava.
O tempo passa rápido.O julgamento de Isaura,Seu Jocelino,Maria José e Álvaro-no qual todos aguardaram-no em liberdade-chega o dia de ser consumado.O primeiro a ser julgado é Álvaro,que logo é sentenciado.
-Nao poderei condená-lo à prisão...No entanto imputo-lhe ao vosso casamento com a escrava Isaura a anulação!Pela lei eu decreto o fim do casamento de vocês!-sentencia o juiz,batendo o martelo.-E também condeno-o a indenizar o senhor Leoncio de Almeida Prado de Guaianazes,por 50 contos de réis pelo crime de lesa-patrimônio,pelo fato de ter fugido com a vossa escrava!E tê-lo assim causado prejuízos,tanto morais,quanto materiais!...-o comunica.
Agora vêm a sentença de Seu Jocelino e Maria José.
-Vós mercês também cometeram o crime de lesa-patrimônio,por também ajudarem e estar em companhia de fuga da escrava!Assim como não podem pagá-lo com patacas,podem pagá-lo com trabalho,muito trabalho!Declaro-lhes assim como novos escravos da lavoura açucareira da "Fazenda Santa Genoveva"!-os imputa a pena,enchendo os olhos de Isaura,do próprio Álvaro e dos próprios Seu Jocelino e Maria José,de lágrimas.
-Eu protesto,Vossa Excelência!Este monstro é quem deveria ser julgado e sentenciado!-diz,Álvaro.
-Protesto negado!Não foi o senhor Leoncio quem roubou vossa escrava e sim vós mercês os autores do fato!Assim mantenha-se calado,se não quizer que o mande prendê-lo por desobediência!-o ameaça.-Aliás,para isto evitar vou obrigá-lo a se retirar!...-decide,o juíz.
Desta forma Álvaro é retirado da sala do plenário.Como era de se esperar antes que o juiz profira a sentença de Isaura,sinhá Vera decide manifestar-se em favor da amiga.
-Vosso árbitro magistrado!Dê-me a liberdade de falar!...
-Sim,sinhôra!Manifestação concedida!Pode falar!-permite-a.
-Eu faço jus ao que fôra momentos antes protestado!Fazendo-lhe outros acréscimos!O querelante é o meu marido!E eu mesma por isto posso testemunhar,que ele é o algoz dela,e não ela a algoz dele,como está sendo equívocadamente interpretado!Isaura é sobretudo a vítima e ele próprio o carrasco!Desta maneira,sob forma concisa,não tendo-lhe como vos provar as minhas palavras,e sim através de testemunhas,todos sabem que Isaura é somente uma escrava em busca da felicidade,propicíada pela vossa liberdade!E liberdade esta que Leoncio não quer dá-la porque ela não o aceita como ele a deseja!Por isto vosso juíz,peço-lhe com toda a humildade de uma serva indignada com tamanha brutalidade de meu marido em negá-la a liberdade,que a sentença justíssima sería a de absolvê-la,obrigar a Leoncio dar-lhe a carta de alforria e ainda obrigá-lo a indenizá-la por tantas humilhações e ofensas,promovidos por seus constantes e torpes assédios para com ela!...-suplica-lhe ajoelhada.
Só que o juiz comporta-se indiferente às sugestões e denúncias dela,retirando-se para ter um particular com Leoncio.
-O meritíssimo há de convir que Vera está revoltada pela fato da amiga,a quem afeiçoou-se bastante,por estar sendo julgada!Mas isto não importa!Não interessa-me!Só são meras palavras,arremessadas ao vento e nada mais!Mas enfim,como havíamos combinado,o senhor meritíssimo também há de convir que Vera é com quem diante de Deus e da Madre Santa Igreja,matrimoniei-me!E segundo consta terei que obedecer à prerrogativa epíscopal de "até que a morte nos separe!"...Enfim,diante da sua decisão,de regressar ao nosso lar,já sei com quem Isaura deverá se casar!Aguarde-me e daqui a trinta minutos,trago-lhe o sortudo!...-o pede,retirando-se até a sua chácara,na "Côrte" para buscar a Belchior,o corcunda que será o marido por imposição de Isaura.
-Senhoras e senhores!Apresento-lhes um breve intervalo de trinta minutos...-os anuncía.-Queiram por obséquio,ao aguardar o cerne deste julgamento...-retira-se por um momento.
O julgamento recomeça.Leoncio quer causar grande surpresa,escondendo a Belchior em um manto negro.O Juiz sentencia,ao mesmo tempo que uma chuva torrencíal caí sobre a Côrte fluminense.
-Escrava Isaura eu vos sentencio,como forma de indenizares os prejuízos praticados contra o seu senhor Leoncio de Almeida Prado de Guaianazes,causados pelas quatro fugas da cativa,a casar-se com o jardineiro Belchior Beato da Silva Ramos!-a anuncía,ao mesmo tempo que Leoncio retira o manto negro que encobre Belchior,e também quando consuma-se o desmaio de Isaura,amparada pelo futuro marido.

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