Novas personagens aparecem...Em "Campos dos Goytacazes" estamos na "Fazenda
Santa Elizabeth",vizinha "à "Fazenda Santa Estér".É em tal que residem os Muniz
Albuquerque.O casal de irmãos Henrique e Vera,órfãos de pais e da irmã
caçula,respectivamente Barão Arcânsio,Baronesa Vinólia e Malvina-mortos em um
naufrágio na costa do litoral fluminense.Há um ano ocorrera o fato.Ambos no
salão da casa-grande,relembram a tragédia.
-É meu irmao,até parece que foi
ontem que a morte levou os nossos
entes...-relembra,Vera,entristecida,cabisbaixa,balançando-se na cadeira de
balanço,com um livro de orações nas mãos e seu terço também,além de uma rosa
vermelha.
-Pois foi,Vera!Hoje completou-se um ano da tragédia.-relembra-se
ele.-O tempo passou como um raio,mas a tristeza nos acompanhará
vitalícia...-completa Henrique,com os olhos cheios d'água.
Até que o casal de
irmãos abracem-se,confortando um ao outro,lutosos,uma vez que há um ano só
vestem-se de negro.
-Ah,meu irmão,eu sei o quanto é difícil,eles se foram,mas
a vida continua e o tempo não parou para conosco...-diz Vera abraçada ao
irmão,até que com um lenço enxugue suas lágrimas.
-Eu...eu sei,minha
irmã...eu sei...-balbucía Henrique,com a voz embargada.
-Por isto precisamos
sermos fortes,sempre,meu irmão!É como disse Jesus,após ter curado aquele
paralítico:"Levanta-te e anda!"-o tenta,reanimá-lo perante
a vida.-Eu sei que sempre fostes mais sensível do que eu meu Henrique,talvez por
ser a filha do meio eu sempre fui a mais forte,mas é preciso levantarmos meu
irmão,até pelas vossas alegrias destas vossas almas que se foram,afinal de
onde estiverem,querem ver a nossa felicidade!E para isso temos de nos esmerarmos
em resgatá-la em nossos corações quebrantados pela falta!Então eu repito,meu
irmão,eu repito com veemência fincada no fundo de minh'alma:é preciso,sob
prioridade máxima,que consiguemos recuperarmos a fortaleza d'alma,mesmo que esta
nos esteja longínqua,mas jamais,aos nossos olhos inalcançável!-reflete,arrojada
e ao mesmo tempo sensibilizada.-Por isto vamos perseguí-la,sempre,para podermos
alcançá-la!Só é preciso ter fé,muita fé,que Deus nos levantará!-ao irmão Vera
tenta ao máximo otimizar,utilizando-se de palavras
ultra-edificantes,proferíndo-as com todo o vigor de seu otimismo natural.
Até
que batam na porta.A mucama "Virgi Santa" vai abrí-la.Eis que adentram no salão
da casa-grande o padre Vigário,que veio especialmente da Côrte para celebrar no
engenho a missa pelo aniversário de um ano,em sufrágio das almas dos seus entes
queridos mortos,acompanhado do "Visconde Elias" e de seu filho adotivo,o músico
Antonino,que vieram específicamente de Portugal,para a esta celebração religiosa
em ambiente domicíliar,poder participar,já que Elias é o tio paterno de Henrique
e Vera.A missa então,após os cumprimentos de praxe,é realizada.Após o término
desta,Antonino,a pedido de Vera,toca ao piano uma belíssima música de Mozart.Por
exposição de tanto talento é calorosamente aplaudido por todos.Até que no dia
seguinte Vera e Henrique,surjam vestidos com outras cores,pois antes de
dormir,na noite anterior,como dita a tradição dos tempos,abandonam os vossos
lutos,após desenrolar-se um ano da morte de seus familiares.
-Meu tio,após um
ano de luto,estou mais disposta do que nunca,empenhada em casar-me,inaugurando
um novo ciclo de minha vida,a partir deste dia!-diz à mesa do
café,determinada,sinhá-moça Vera.-É como se eu acordasse de um coma profundo,que
tomou-me um ano de minha existência!-compara e completa.
-Muito
bem,sinhá!Muito bem!-a aplaude Virgi Santa.-É assim que gosto de lhe ver!Muito
disposta!Afinal eu sempre lhe disse:levante a poeira e dê a volta por
cima!Dá-lhe alegria!-reconhece a mucama,entusiasmada.
-Ótimo Virgi Santa!É
assim que se fala!Vós mercê sempre teve mesmo muita razão!-reconhece as
justificativas entusiásticas de sua mucama doméstica.-Com tristeza não se ganha
nada!É preciso lutar e muito para termos de volta a felicidade,mesmo que esta
não nos seja completa!...Carência decerto provocada pela ausência eterna da
nossa Malvina e dos nossos pais!Mas de onde estiverem,estão melhores do que
nós,afinal eram boas almas,e por isto estão sentados à direita de Deus Pai!Daí é
que Deus quem nos está dando muitas forças e eu tenho muita fé!Amém.Vamos rezar
em ação de graças,por mais um dia de vida,dádiva de Deus e por mais este café da
manhã,visto que os escravos da senzala,infelizmente,não possam usufruír do mesmo
privilégio,em sentar-se diante de uma mesa tão bem posta e farta!Mas ao Senhor
te entregamos estas injustiças,e só o Senhor as pode julgar!Glorifiquemos ao
Senhor!-ora e pede aos presentes.
Todos dizem num só côro.
-Eles está no
meio de nós!-respondem na mesa do café.
-Em nome do "Pai,do Filho e do
"Espírito Santo"!-faz o "Sinal-da-Cruz",no ar.E todos respondem,ao mesmo
tempo,"Amém".Embelezando e abençoando bastante o trecho deste conto
novelístico-literário ambientado em época escravocrata.
O tempo passa.Sinhá
Vera e Virgi Santa,sua mucama-de-companhia,especial,estão a passear entre as
palmeiras centenárias da fazenda,enquanto conversam,com Virgi segurando o
guarda-sol sobre a sua ama.Ela então a indaga.
-Eu sei que todos se
esqueceram de "perguntá",mas eu não me esqueci...-balbucía,Virgi,estas
palavras.
-O que,Virgi Santa?-Vera,a indaga.
-Com quem "inhá" pretende "si
casá"?...-é objetiva.
-Com o senhor Leoncio Ácadjo de Almeida Prado,a quem
desde a minha mais tenra infância estou prometida ao
matrimônio!...-responde-a,no que ao mesmo tempo a mucama Virgi Santa seja
atingida por uma pancada de vento frio,e tremendo da cabeça aos
pés,assustada,deixe a sombrinha caír no chao e desmaie,amparada pelos braços de
sua sinhá.
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