segunda-feira, 10 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA":CAPÍTULO 16:

Novas personagens aparecem...Em "Campos dos Goytacazes" estamos na "Fazenda Santa Elizabeth",vizinha "à "Fazenda Santa Estér".É em tal que residem os Muniz Albuquerque.O casal de irmãos Henrique e Vera,órfãos de pais e da irmã caçula,respectivamente Barão Arcânsio,Baronesa Vinólia e Malvina-mortos em um naufrágio na costa do litoral fluminense.Há um ano ocorrera o fato.Ambos no salão da casa-grande,relembram a tragédia.
-É meu irmao,até parece que foi ontem que a morte levou os nossos entes...-relembra,Vera,entristecida,cabisbaixa,balançando-se na cadeira de balanço,com um livro de orações nas mãos e seu terço também,além de uma rosa vermelha.
-Pois foi,Vera!Hoje completou-se um ano da tragédia.-relembra-se ele.-O tempo passou como um raio,mas a tristeza nos acompanhará vitalícia...-completa Henrique,com os olhos cheios d'água.
Até que o casal de irmãos abracem-se,confortando um ao outro,lutosos,uma vez que há um ano só vestem-se de negro.
-Ah,meu irmão,eu sei o quanto é difícil,eles se foram,mas a vida continua e o tempo não parou para conosco...-diz Vera abraçada ao irmão,até que com um lenço enxugue suas lágrimas.
-Eu...eu sei,minha irmã...eu sei...-balbucía Henrique,com a voz embargada.
-Por isto precisamos sermos fortes,sempre,meu irmão!É como disse Jesus,após ter curado aquele paralítico:"Levanta-te e anda!"-o tenta,reanimá-lo perante a vida.-Eu sei que sempre fostes mais sensível do que eu meu Henrique,talvez por ser a filha do meio eu sempre fui a mais forte,mas é preciso levantarmos meu irmão,até pelas vossas alegrias destas vossas almas que se foram,afinal de onde estiverem,querem ver a nossa felicidade!E para isso temos de nos esmerarmos em resgatá-la em nossos corações quebrantados pela falta!Então eu repito,meu irmão,eu repito com veemência fincada no fundo de minh'alma:é preciso,sob prioridade máxima,que consiguemos recuperarmos a fortaleza d'alma,mesmo que esta nos esteja longínqua,mas jamais,aos nossos olhos inalcançável!-reflete,arrojada e ao mesmo tempo sensibilizada.-Por isto vamos perseguí-la,sempre,para podermos alcançá-la!Só é preciso ter fé,muita fé,que Deus nos levantará!-ao irmão Vera tenta ao máximo otimizar,utilizando-se de palavras ultra-edificantes,proferíndo-as com todo o vigor de seu otimismo natural.
Até que batam na porta.A mucama "Virgi Santa" vai abrí-la.Eis que adentram no salão da casa-grande o padre Vigário,que veio especialmente da Côrte para celebrar no engenho a missa pelo aniversário de um ano,em sufrágio das almas dos seus entes queridos mortos,acompanhado do "Visconde Elias" e de seu filho adotivo,o músico Antonino,que vieram específicamente de Portugal,para a esta celebração religiosa em ambiente domicíliar,poder participar,já que Elias é o tio paterno de Henrique e Vera.A missa então,após os cumprimentos de praxe,é realizada.Após o término desta,Antonino,a pedido de Vera,toca ao piano uma belíssima música de Mozart.Por exposição de tanto talento é calorosamente aplaudido por todos.Até que no dia seguinte Vera e Henrique,surjam vestidos com outras cores,pois antes de dormir,na noite anterior,como dita a tradição dos tempos,abandonam os vossos lutos,após desenrolar-se um ano da morte de seus familiares.
-Meu tio,após um ano de luto,estou mais disposta do que nunca,empenhada em casar-me,inaugurando um novo ciclo de minha vida,a partir deste dia!-diz à mesa do café,determinada,sinhá-moça Vera.-É como se eu acordasse de um coma profundo,que tomou-me um ano de minha existência!-compara e completa.
-Muito bem,sinhá!Muito bem!-a aplaude Virgi Santa.-É assim que gosto de lhe ver!Muito disposta!Afinal eu sempre lhe disse:levante a poeira e dê a volta por cima!Dá-lhe alegria!-reconhece a mucama,entusiasmada.
-Ótimo Virgi Santa!É assim que se fala!Vós mercê sempre teve mesmo muita razão!-reconhece as justificativas entusiásticas de sua mucama doméstica.-Com tristeza não se ganha nada!É preciso lutar e muito para termos de volta a felicidade,mesmo que esta não nos seja completa!...Carência decerto provocada pela ausência eterna da nossa Malvina e dos nossos pais!Mas de onde estiverem,estão melhores do que nós,afinal eram boas almas,e por isto estão sentados à direita de Deus Pai!Daí é que Deus quem nos está dando muitas forças e eu tenho muita fé!Amém.Vamos rezar em ação de graças,por mais um dia de vida,dádiva de Deus e por mais este café da manhã,visto que os escravos da senzala,infelizmente,não possam usufruír do mesmo privilégio,em sentar-se diante de uma mesa tão bem posta e farta!Mas ao Senhor te entregamos estas injustiças,e só o Senhor as pode julgar!Glorifiquemos ao Senhor!-ora e pede aos presentes.
Todos dizem num só côro.
-Eles está no meio de nós!-respondem na mesa do café.
-Em nome do "Pai,do Filho e do "Espírito Santo"!-faz o "Sinal-da-Cruz",no ar.E todos respondem,ao mesmo tempo,"Amém".Embelezando e abençoando bastante o trecho deste conto novelístico-literário ambientado em época escravocrata.
O tempo passa.Sinhá Vera e Virgi Santa,sua mucama-de-companhia,especial,estão a passear entre as palmeiras centenárias da fazenda,enquanto conversam,com Virgi segurando o guarda-sol sobre a sua ama.Ela então a indaga.
-Eu sei que todos se esqueceram de "perguntá",mas eu não me esqueci...-balbucía,Virgi,estas palavras.
-O que,Virgi Santa?-Vera,a indaga.
-Com quem "inhá" pretende "si casá"?...-é objetiva.
-Com o senhor Leoncio Ácadjo de Almeida Prado,a quem desde a minha mais tenra infância estou prometida ao matrimônio!...-responde-a,no que ao mesmo tempo a mucama Virgi Santa seja atingida por uma pancada de vento frio,e tremendo da cabeça aos pés,assustada,deixe a sombrinha caír no chao e desmaie,amparada pelos braços de sua sinhá.

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