quarta-feira, 12 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA:CAPÍTULO 20:"

Como é de praxe,todas as vezes,após o almoço,a sinhá Estér e sua cativa,Isaura,passeiam de carruagem em volta de uma praça que fica nas proximidades da chácara residencial,na Côrte.Estes passeios pós-almoço já virara um hábito.E é exatamente nesta ocasião que acontece um incidente.Uma outra determinada carruagem está vindo em direção oposta a que Estér e Isaura estão.Até que esta outra carruagem páre bem em frente a carruagem em que elas estão.Até que as duas vejam duas "pônas"(prostitutas) descer do carro de caixa sobre molas.O Comendador Almeida desce também,despedindo-se delas ao beijá-las as mãos,pára na sequência subir na carruagem,de novo.
-Que desbriamento,Isaura!Vistes o que eu avistei agora?!Almeida transportando,cumprimentando e beijando aquelas mulheres de lupanar!Maldito adúltero!Maldito adúltero!Traíndo-me com "pônas",desde o tempo...(cabisbaixa,lagrima,ao fechar dos olhos,dando uma pequena pausa)Até que submeta-se ao reerguimento de sua cabeça e agora altiva,continue o seu discurso de mulher traída,inconformada.-Há 20 anos atrás,em que tornei-me abstêmia de práticas sexuais!Para o seu deleite!Homem vil e carnal!...-confessa à Isaura,chorando com ódio,confessando conclusivamente vosso desabafo.
-Mas isto não ficará assim!Hoje mesmo nos retiraremos para o engenho!Tão cedo não desejo ver o seu rosto cheio de desfaçatez!...Aliás,nos retiraremos agora!Cochêiro,leve-nos à "Fazenda Santa Estér"!Vamos para Campos!...-o ordena.
-Seu desejo é uma ordem,sinhá!Vamos agora mesmo para lá!-a responde o escravo-cochêiro André de Calamar.
Á estas alturas,o primo de sinhá-moça Vera e Henrique,o escritor português Camilo Castelo Branco,já chegara ao Brasil,mais específicamente ao Rio,hospedando-se na "Fazenda Santa Elizabeth",em Campos dos Goytacazes.
-Welcome,Camilo!Welcome!Como dirião os ingleses!Seja bem-vindo meu primo ao Brasil!-o recebe sinhá-moça Vera,alegre e entusiasmada com uma rosa nas mãos.
-Faço jus às mesmas hospitaleiras e afáveis palavras de minha irmã!Seja bem-vindo,Camilo!-deseja-lhe Henrique,tomando um chimarrão,com os pés descalços.
-Boas tardes,meus primos!Agradeço-lhes as felicitações do âmago de minha'lma!Tenham plenas convicções que cá estou muito feliz,por regressar à esta terra!Ouviram do Ipiranga às margens plácidas!Viva ao Brasil!...-responde-os extremamente culto e educado,com tamanho entusiasmo.
E assim,desta maneira adentra nesta novela literária,a personagem Camilo Castelo Branco,autor do romance clássico "Amor de Perdição",para tornar mais folhetinesca o nosso folhetim literário.Ele é conduzido por Virgi Santa aos seus aposentos,após ter rapidamente tomado um pouco do chimarrão,que lhe foi ofertado por Henrique,ambos muito aprecíadores da bebida "gauchêsca".
É outro dia.Tanto Comendador Almeida quanto o filho,Leoncio,estao sentados à mesa do café matinal.
-É muito estranho papai,que mamãe e Isaura tenham desaparecido,sem nos avisar!Antes de ír para a Europa nunca tinha acontecido isso aqui no Brasil!-observa,Leoncio,a este detalhe.
-É Leoncio,nunca tinha acontecido!Enquanto tú estavas no Brasil,há 20 anos atrás!Mas passou a ocorrer diversas vezes,enquanto tú estavas na Europa!Todas as vezes em que fui flagrado traíndo a tua mãe...-comenta o comendador,em pensamento,olhando fixamente,calado,para os olhos de Leoncio.
Quando se vê,pai e filho,reaparecem,na agora "Fazenda Santa Genoveva",de carruagem.Estér e o Comendador,decidem trancar-se na carruagem para discutir.O cochêiro,por ordem da sinhá,leva-os para um lugar pouco distante da casa-grande do engenho.Como forma de protesto à traiçao do marido,Estér vestiu-se de negro.A altercação começa.
-Como podes vós traír-me com aquelas "desfaçatudas" mulheres de lupanar à luz do dia,envergonhando-me diante de toda a Côrte,e ainda por cima modificas o nome da fazenda que era vínculado ao meu nome,para colocar o de tua finada mãe?!...E sem avisar-me!!!-o critica em tom protestável de reivindicação,munida de seu leque na mão direita.-Nao crêrdes Almeida que é um tanto demais para mim,escarnecendo-me a alma?!Que é troçoso demais para uma mulher só?!...-começa a chorar.
-Queres a verdade Estér?...-manifesta-se,frio e rude, o Comendador.-Se adulterei contra ti,é tú quem fizestes eu caminhar por estes caminhos...abandonou-me,a mim e ao vosso lar,acompanhada de Isaura,como se isto fosse ter recheado-me de felicidade!Ora,ora,ponha-te em meu lugar!Se tú fosses homem,agirías como eu,que como todo macho tem suas constantes necessidades...Além do que não podería ter feito-lhe outra represália,a não ser esta:o de trocar o nome da fazenda,retirando o teu e colocando o de minha santa mãe,como forma de homenageá-la e ao mesmo tempo desprezá-la!...-põe-lhe em rosto,friamente e paralelamente inquisitivo.
Enquanto discutem na carruagem,longínquamente deste ambiente,Leoncio procura por Isaura,e não a encontrando por todos os cômodos da casa,sabe pela invejosa Rosa,que ela resolveu passear sozinha até o "Bacurízêiro dos Sonhos"-árvore famosa da fazenda,por ter em seu topo sempre alguma rosa,que inexplicavelmente nasce lá.
-Ah é Rosa...-balbucía Leôncio,pensando.-Entao é o momento perfeito...Chegou a hora,Isaura...-planeja,índo atrás dela,montado em seu cavalo e levando o seu revólver.
Sem saber que o seu futuro rival,Camilo Castelo Branco também,à cavalo,saí para passear,sem imaginar que a sua futura amada também mora em terras vizinhas.Aliás,Camilo,além de bom escritor,autor de "Amor de Perdição",cujo romance Isaura ainda não conhece,"mas já ouviu falar",é um excelente atirador.Pratica em Portugal a modalidade esportiva de tiro ao alvo.Desta maneira,Camilo saí a passear para conhecer as redondezas de Campos,na verdade,revê-las.
Enquanto isto,Isaura está diante de linda árvore,olhando para uma rosa plantada pela "Mãe Natureza" em seu topo.
-É de uma raridade belissimamente incontestável!...-bem define em seu comentário.Até que Leoncio chega para perturbar-lhe.Quer beijá-la à força.Ela desvencilha-se,e foge dele,andando em torno da árvore.Leoncio então consegue pegá-la.Prepara-se para à força beijá-la.Até que chegue Camilo para salvá-la.
-Largue a moça,canalha,se não quizer ser perfurado por um tiro nas pernas!-o ameaça,ao mesmo tempo que do Céu surja o estrondo de um trovão no Céu tomado rapidamente por nuvens negras,sinalizando "chuvas que hão de chegar".
Isaura então assustada empurra a Leoncio que caí enquanto ela põe-se atrás da árvore.Leoncio levanta-se e pegando também a sua arma,prepara-se para atirar,quando Isaura num grande ato de coragem corre,pondo-se no meio dos dois,após Camilo ter descido do cavalo.
-Pelo amor de Deus!Ninguém atirará!Ou a uma frágil donzela preferem matar?!...-os clama,sob intervenção,corajosa e assustada,pegando em seu terço que carrega no pescoço.
Com essa atitude Isaura bloqueia qualquer renitência de ambos,que por causa da linda escrava loura dos olhos azuís,decidem desistir do intento,de duelar,ali.
-Então vamos Isaura!-o ordena,Leoncio.
-Vós mercê não manda em mim!Eu vou se eu quizer!-o enfrenta,em mais um ato de bravura.
-Negativo!Se vós mercê quizer,não!Se eu te mandar!Ou esqueces que és escrava de meu pai?!-a lembra sua triste condição.
-Falou bem!Eu sou escrava do vosso pai e não de vós,sinhôzinho estúpido!...-continua,Isaura,a respondê-lo com coragem.
-Então ousas em desafiar-me,hein Isaura?!...-Leoncio a ataca.-Não é um desafio!É só uma forma de proteger-me de vossas garras!As de um pervertido selvagem!-o contra-ataca.
-Chega!Se não vais por bem,irás por mal!...-quer Leoncio levá-la à força,diante de sua afronta.
-Nem mais um passo,senhor Leoncio!Nem mais um passo!...- o ordena Camilo,apontando-o a arma.-Então deixe-me levá-la para vossa casa,senhorita Isaura!-a pede,Camilo,enquanto a Leoncio aponta o revólver.
-Só por cima de meu cadáver!-vocifera,Leôncio.
-Mãos ao alto senão eu atiro!-o ordena,Camilo,no que com a obediência de Leoncio,toma-lhe a arma,pára exigir que Leoncio coloque as mãos para trás.Camilo as prende com uma algema,e põe um lenço na boca de Leoncio,o qual serve-lhe como mordaça.
-Agora,suba senhor Leoncio,no cavalo!-o ordena,continuando a mirar-lhe com a arma.
Leoncio o faz.Isaura decide cavalgar no cavalo em que está Camilo,pondo-se atrás dele,enquanto que com uma corda conduzam devagarmente o cavalo no qual Leoncio está cavalgado,imobilizado e amordaçado,bufando de ódio.Chegando na "Fazenda Santa Genoveva",Camilo dá a queixa contra Leoncio para Estér,que o dá um tapa por ter tentado novamente,agarrar à força,Isaura,agradecendo ao nobre cavalheiro por ter intercedido a favor de sua afilhada.
-Ele é um tigre selvagem mirando uma pobre lebre!-compara Estér,apontando para o filho.-Por tal muito obrigada senhor Castelo Branco!Por salvá-la da sanha deste meu filho sem juízo!-o agradece.
                      Leoncio,claro,promete se vingar.
-Aguarde-me,intrometido sacripanta,maldito cavalheiro,que eu írei à vindita!-em pensamento,o ameaça.-Ceifar-te-ei a vida para que nunca mais possas cruzar o meu caminho!
Após saber do desrespeito de Leoncio,Estér expulsa-o da fazenda.Enquanto Camilo conta o ocorrido para os primos.
-Mas é de uma covardia abominável!Como podes bolinar com uma moça tão frágil,como Isaura?!-critica-o Henrique.
-É absolutamente concordável,meu irmão!E antes que me indagues,foi a este pústula a quem fui prometida,por nossos pais!E vós mercês acham que devo casar com um demônio destes?!Óbvio que não desobedecería nunca aos nossos...Por isto serei submissa a vontade de mamãe e de papai!...-decide,surpreendentemente sinhá Vera,deixando a todos atônitos.
-Mesmo que este ato de grande coragem venha trazer-lhe muitos tormentos e infelicidades,prima Vera?!...-a indaga,Camilo Castelo Branco,boquiaberto.
-Não falas sério Vera!Ou estás a brincar?!-diz,Henrique.
-Está decidido!Nunca falei tão sério por toda a minha vida!Não estou delirando,muito menos ensandecida!Pelo contrário!Uma incrível lucidez toma-me a alma!E casar-me-ei com o pústula,nem que seja para consertar-lhe,sendo esta missão a mais difícil e a mais crucígera de toda a minha vida!Por isto,eu pago para ver,o quanto a Leoncio,eu terei de domar,ou eu não chamo-me Vera!Ou é 8 ou é 80,meus caros!...-concluí ela,extremamente altiva,corajosa e determinada.

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