segunda-feira, 24 de junho de 2013

'UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA:CAPÍTULO 29:"

Assim que empenha-se em lutar pelo amor de Isaura,Álvaro sabe que está mexendo em casa de marimbondos.Voltando a encontrar o sacripantas do Leoncio num mercado de escravos,Álvaro oferece até 400 contos de réis-a metade de sua herança pela compra da escrava.
-Então o amor pela escrava é assim tão intensificado que vós mercê é capaz de despojar-se da metade de vossa herança para alforriá-la!Quanta nobreza d'alma!-espanta-se Leoncio,destilando certa ironia.-Mas não vendo-a!Nem que vós mercê fizesse como São Francisco de Assis e me ofertasse todos os vossos bens,nem assim a venderia!Isaura é minha escrava vitalícia!Só será libertada diante de minha morte!-o comunica,rejeitando sua exorbitante proposta de compra o crápula,que dá umas baforadas num charuto.
-Espurco!Canalhocrata!Infâme!Biltre!Pulsilânime!Covarde!Crápula!Pústula!Vil!Patife!Sacripantas!Desgraçado!-rechea-o,Álvaro revoltado,a Leoncio,de xingamentos.
-Como ousas?!Como tens a coragem de tamanha audácia?!-o devolve,Leoncio.-Recheando-me com tantos predicados,sinto-me até lisonjeado...-ironiza-o e debocha.-Mas como ousas?!Como tens coragem de tamanha audácia?!-repete-lhe,agora,seriíssimo,o crápula.
-A mesma com que tenho de convidá-lo agora para um duelo pela liberdade de Isaura!-responde-o Álvaro,completando a teia do desafio entre os dois.
-Quanta coragem!Combinado!Amanhã então sob a hora marcada!Às 8 da manhã!Espero-o na "Rua das Almas",aquela mesma que fica por de trás do cemitério "Santa Bárbara",sendo que estarei acompanhado de Isaura e os vossos pais!Isto significa se conseguir me matar ganhará a liberdade da escrava!Isto eu faço questão!-avisa-o Leoncio,aceitando o desafio.-Então está fechado!Leve-me Isaura e as testemunhas que estarei lá!-concluí o intrépido Álvaro,olhando-o revoltado.
E é o que acontece.Eles encontram-se no cenário do duelo,que na melhor das hipóteses resultará em ferimentos graves,e na pior,em assassinato.O capitão-do-mato Mêriva conta os 10 segundos,para que caminhando de costas,após o mesmo virem de frente e desfiram os tiros.É o que ocorre.Os dois viram-se de frente,enquanto Isaura prostra-se ajoelhada no chão batido de terra,elevando seu crucifixo aos Céus,pedindo para que Deus não permita uma tragédia-e atiram-se ao mesmo tempo,sendo que um dos tiros desferidos por Leoncio atingem de raspão um dos braços de Álvaro,que por sua vez consegue atingír à altura do coração do inimigo,que caí.Aliás,só dois tiros foram pré-combinados para cada um.Os dois são socorridos e levados para um hospital,enquanto Isaura ao ver sangue desmaia.Os três são levados para a "Santa Casa dos Goytacazes".É nessa oportunidade que acontece a segunda fuga da escrava,pois em leitos de quartos ao lado,eles falam-se pelas janelas,decidindo pulá-las de madrugada e írem para o "Quilombo dos Cupuaçús"(nome de uma tribo índigena que habitava ali) e deste lugar fugir para um outro Estado,desta vez para a fazenda de um amigo em Minas Gerais.Leoncio,furioso,promete,com o chicote empunhando-lhe a mão direita.
-Desta vez levo para o tronco a filha de vós mercês!Aquela ingrata maldita!-profetiza a ameaça.-Mas podem ficar tranquilos que não a chicotearei,para sua pele de pêssego preservá-la,mas a deixarei três dias só a pão e água!Serão os três dias de agonia para Isaura!Debaixo de chuva,sol e sereno!-os comunica,a Seu Jocelino e Maria José,adiantando o grande sofrimento que a fará passar,após ter alta o crápula,ao ser dispensado do hospital.
Fugindo com Álvaro à cavalo para a Côrte do Rio de Janeiro,após os dois pularem as janelas do hospital,de madrugada,enquanto Leoncio dormia a peso de sedativos no quarto andar superior,eles nem imaginam o que vai acontecer.
-Desta vez passaremos um dia na fazenda do meu amigo em Minas Gerais,e na sequência íremos para muito mais longe novamente,não para o território paraense e sim para o vizinho deste:isto mesmo,fugiremos de navio para a "Província de São Luís do Maranhão"!-fala,surpreendendo-a demais,enquanto cavalgam no cavalo muito rápido que mais parece "alado".
-Virgem de Nazaré!Como vós meu amado,és um macrorrizo genial,que tem grandes raízes de amigos por todo o Brasil!Só assim conheço este belíssimo país!Esta gigantesca nação!-elogia-o Isaura,sorrindo,portanto entusiasmada.
-Sim amada Isaura!Abolicionistas e escravagistas só tem este ponto em comum:detemos raízes por todas estas jurisdições de nossa pátria!-compara,explanando-a brilhantemente.
Desta vez Isaura se travestirá de outra personagem em sua roupagem,passando-se por uma cigana,adotando o pseudônimo de Lucélia Akadí,aprendendo rapidamente dança flamenca e a manusear com habilidade dos seus dedos,as castanholas.Assim como Álvaro,que passa-se por um cigano,adotando o nome de Júlio Guerperrí.Ambos,portanto,ficam belíssimos como ciganos,perfeitamente caracterizados.Isaura principalmente,ainda mais que uma rosa vermelha adorna-lhe os lindos cabelos louros presos em um coque,onde encontra-se a flor enfiada.
Para passar o tempo ela vende rosas na praça em companhia de outras ciganas que lêem a sorte nas mãos de quem vai passando,inclusive da própria "Lucélia Akadí Isaura".
-Vós mercê é acompanhada ao mesmo tempo pela sina da tristeza,e pela da felicidade,que em companhia de vós,caminham lado a lado!-é certeira na leitura da linha de vossa mão.-Porém uma,ora te abandona,a outra te acompanha...Isto significa que tem vezes na sua vida que vós só tem momentos de felicidade,assim como em outras ocasiões,momentos de tristezas e perseguições!Mas não se intranquilize que no fim serás feliz,muito feliz!-a profetiza,auspiciosamente.-É a "Providência Divina" quem vejo te sorrir!...-concluí a vossa previsão a cigana em torno da interpretação da leitura das linhas de vossa mão,deixando-na muito surpreendida com as palavras por conhecer tão profundamente os sentimentos vitais de vossa existência.
Assim Isaura e Álvaro vivem momentos de muito romance,liberdade e felicidade,casando-se na beira de um rio,batizando seu casamento nas águas,celebrado pelo padre Grahim,que é muito amigo do médico abolicionista,Thomaz Edson,maranhense,filho de um brasileiro com uma britânica,já falecidos.Amicíssimo de Álvaro.O padre origina-se de Portugal,de passagem pela região meio-norte do Brasil,encantando-se com as belezas geograficamente maranhenses,aceitando o desafio de,sob absoluto sigilo,realizar esse matrimônio abençoado e testemunhado pela natureza,em território maranhense,no momento em que o "Arco-Íris" visita o Céu.
-A felicidade da realização de nossa união matrimonial não estava escrita pelas mãos de Deus para acontecer em território paraense,em território fluminense,nem tão pouco em território paulista,mas sim aqui em terras maranhenses!-diz Álvaro,beijando-a.
-Muito obrigada,meu Deus,Senhor daquilo que tudo pode!Muito obrigada por dar-me a dádiva!...Nunca pensei que seria feliz,justo aqui em lugar que nunca conheci,e que pensei nem existir!...Obrigadíssima meu Deus pela dádiva deste sonho!Oh terra abençoada!!!-agradece,chorando,e ao mesmo tempo sorrindo Isaura,beijando o chão da terra,após prostrar-se ajoelhada.É o máximo da humildade.
Enquanto muito longe,Leoncio roga pragas.
-Seja no lugar em que estiverem!Que alguma doença ou fatalidade,em suas vidas,lhes atravessem!Fugitivos malditos!-pragueja em voz alta no meio da sala,em sua chácara,na Côrte,até que Mãe Joana mentalize e diga diante da imagem de "Nosso Senhor Jesus Cristo Carregando Vossa Cruz".
-Praga nenhuma cairá na tenda de Isaura,e na de ninguém que por ela tenha afeição,porque mais-do-que Deus,ninguém!Ninguém!(bate o pé direito no assoalho) porque "Ele é o Maior",sempre!E o seguidor do "Anjo Mau",que nem essa peste do Leoncio!Cruz-Credo!(Benze-se pelo Sinal-da-Cruz)É muito menor!Porque um é altaneiro,"Rei do Céu" e o outro das "baixêza dús inferno"!-diz Mãe Joana,certeira nas palavras.

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