-Ó minha madrinha...-alevanta-se e corre ao seu abraço.
Abraçam-se e choram emocionadas.Ficam assim por alguns segundos.Até que a cativa se pronuncie.
-Eu já sei madrinha!Eu já sei!Perdoe-me por ter escutado atrás da porta!Tivestes uma coragem rara!Como poucas mulheres deste século!...-a confessa.
-Ó Isaura!Ó Isaura!Foi Deus quem me deu a coragem...-pegando-a nas mãos,olhando-a com muita doçura e compaixão.-Durante esses anos todos eu premeditei a tua liberdade!E que em pouquíssimo intervalo de tempo irás ganhar!Nao serás mais a escrava Isaura e sim a senhorita Isaura!É o que mereces de todo o meu coração!-a diz,com recheio de emoções n'alma,voltando a abraçá-la,enquanto Isaura a olha,com prantos rolando-lhe pela face,balançando a cabeça,nao fala nada.-Por isto,por tamanho zelo vá arrumar a tua mala,que iremos embora desta casa!Aqui neste ambiente tú não sofrerás mais com a torturante espera de seres libertada!Aqui jaz uma escrava e o nascimento de uma renovada condição,socialmente mais elevada,para ti!-a conforta.
-Muito obrigada madrinha!És uma santa!-a agradece,após ajoelhar-se e beijar as suas mãos.
-Ainda não,minha Isaura!Ainda não!Só sou uma terráquea comum em busca de justiça para com a tua vida!Nao faço mais do que a minha obrigação!Somente isto minha cara....Somente isto...-a justifica,humilde.-Agora levanta-te e anda,arrume a tua mala,pois irás comigo!...-determina,obstinada, ajudando Isaura no seu levante.
Desta maneira,quando se vê,Estér e Isaura já estão na carruagem.Elas dão adeus com lenços brancos nas mãos para Mãe Joana,que também chora.
-Eu vou "rezá" pra que voltem logo!Eu juro,sinhá!Eu juro por tudo de mais sagrado!-fala alto chorando,Mãe Joana,à medida em que a carruagem vai se distanciando.
Enquanto isso a muitíssimos quilômetros dali,Leôncio,o crápula,está na esbórnia em Lisboa,Portugal,numa taberna do meretrício,cercado por "mulheres de lupanar" portuguesas,tomando vinho com elas.
-Cá Leôncio teu pai estás a saber destas tuas esbornices aqui em território além-mar!-indaga-o a prostituta lusitana.
-Decerto que não Marialva,pois cá Leoncio nao viestes a cá para estudar!-tenta respondê-la uma colega do meretrício,lançando outra pergunta ao cliente.
-Calma,calma,calma,delícias portuguesas!-sorri,cínicamente.-Uma pergunta de cada vez,mas vou respondê-las de uma tacada só:é óbvio,público e notório,que meu pai desconhece minhas "farrices",mas é com o vosso dinheiro,patacas e patacas que emprego para pagar os meus muitos momentos de luxúria e noites e mais noites de prazeres!...-as responde.
-Minha Nossa!Então Leoncio este capital que era para tú pagares os teus estudos,tú o torras com as tuas esbórnias!-manifesta-se mais uma meretriz.
-Sim Otávia!Estás a achar ruim porque faço isto?!Se sim é o mesmo dinheiro que te sustenta,a ti e as tuas colegas de trabalho!Ou vós mercês preferirião que eu fosse gozar as delícias desta vida em outra taberna,nos braços de outras mulheres!-diz Leoncio entre uma baforada e outra de seu charuto cubano.
-Mas cá,claro que nao,ó cais!Se tú assim o preferes...Melhor para conosco,ó bolas!-o responde,Otávia.
-Óbvio,Otávia!Óbvio!Nao tenho cá eu a menor culpa se prefiro a companhia de vossas delícias do que a dos livros!Isto pra mim é a felicidade,mesmo que pecaminosa,como diría minha mae,Dona Estér,lá no Brasil!...-continua,Leoncio,em suas pervertidas alegações,imitando sotaque lusitano.
-Decertamente Leoncio!Decertamente!Afinal a vida é curta,e tudo que é proibido libidinosamente é mais gostoso mesmo,o que se há de fazer,decerto,ó decertamente!...-completa,Marialva.
-Pois então!Concordo em gênero,número e graú!Se a vida é curtíssima,então curtimos a vida,ora bolas,!Um brinde à ela!Viva a vida!Principalmente a de solteiro,porque a de casado deve ser muito chata,monótona para "Silva" nenhuma plantar batata!-e todos num só côro,num levante coletivo de taças pronuncíam "Viva!Viva!Viva!",brindando assim coletivamente.
-Então que nos queimemos no fogo do prazer!Já está na hora(olhando pra o relógio de ouro que envolve-lhe um dos braços)minhas delícias de nossas orgias!Subimos para a alcôva,rumo ao nosso prazeroso paraiso infernal...-as conduz para o quarto,no que sobem os degraus da escada caracol feita de gesso para o andar superior do casarão.
Quando se vê,Leoncio e as três prostitutas dividem a mesma cama e o mesmo lençol de seda vermelho,em mais uma noite "orgiosa",atravessando a madrugada de esbórnia,no quarto do meretrício de nome bastante sugestivo,"CASAIS FELIZES",no plural!...
Luxúrias inconsequentes de um crápula...
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