Como tudo que é bom dura pouco,o período de felicidade será interrompido.Um amigo de Leoncio,o barão de Igarassú,província de Pernambuco.Caramantino Rodrigues Alves,que está de passagem pelo Maranhão,que conhece Isaura e Álvaro,cuja pessoa não conhecem e não sabem que por ele são conhecidos,assim os reconhece,acabando por descobrir pelo jornal,os seus disfarces,olhando-os de um binóculo,no interior de sua carruagem,observando ao mesmo tempo fotos de ambos,publicadas em diversos jornais do Brasil,iniciativa impetrada por Leoncio,cuja manchete tem os seguintes dizeres:"Procura-se a escrava Isaura e o seu amásio,Álvaro".
-São os dois biltres disfarçados de ciganos!-descobre.
Como uma serpente segue-os de longe.Antes,porém de seu "bote" decisivo,é conveniente esclarecer que por sorte as únicas províncias que Leoncio nao mandou publicar as fotos de Isaura e Álvaro foram as do Maranhão,Amazonas e Pará,em cujos jornais destas praças optou pelas não-divulgaçoes,por achar que jamais Álvaro regressaría para lugares tão longínquos,uma vez que já havia fugido para o Pará,portanto não optaría em fugir para as províncias vizinhas.Lerdo engano.
Desta forma o casal Álvaro e Isaura,2 dias após o matrimônio e a lua-de-mel que culminou na primeira noite de amor entre os dois,são presos no antológico "Teatro Arthur Azevedo",na "Província de São Luís",no Maranhão,enquanto assistem a uma ópera,a montagem clássica do espetáculo "Bug Jargal",do lendário maestro paraense Gama Malcher.
Assim,ao término do panorama cênico espetacular,o homem ruim,o barão pernambucano,invade o palco,interrompe a salva de palmas do grande público para provocar o mais terrível dos constrangimentos contra Álvaro e Isaura.
-Senhores!Afastem-se desta mulher!-apontando-a.Prosseguindo...
-Ela não é senhora como as senhoras e sim uma foragida da senzala!Isto mesmo,esta mulher é uma escrava!-bombardeia a todos com tal revelação.-E este senhor que a acompanha é um abolicionista subversivo que também é foragido da "Justiça Fluminense" por ter apropriado-se indevidamente desta escrava,ajudando-a na fuga!-concluí o "espetáculo de puro constrangimento",o barão nordestino,ao mesmo tempo que a milícia maranhense aproxima-se de ambos e os comunica.-Os dois estão presos!-bradam os milicianos.
-Que opróbrio meu Deus!Quanta desgraça!-lamenta horrivelmente Isaura,desmaiando nos braços do marido.
Portanto,Isaura e Álvaro são novamente separados,voltando presos em um navio-presídio,transferidos para o Rio de Janeiro.Como Álvaro é rico,é solto por um conceituado advogado,Castilhos França,que expede o seu habeas-corpus em território fluminense,aguardando em liberdade o seu julgamento por ter ajudado na fuga da escrava.Detalhe: como o Comendador Almeida está inválido,pela lei folhetinesca desta estória,como Leoncio é o único filho varão,consequentemente passa a comandar todos os negócios de seu pai,havendo uma transferência automática de responsabilidades para ele,em função da invalidez do outro.É como se fosse lhe dado uma "Procuração Natural Obrigatória",por força das circunstâncias.Assim toma todas as decisões no lugar do pai,inclusive o de recapturar Isaura e a processar todos os envolvidos em sua fuga.A escrava passa-lhe a ser de sua alçada.
O que já era de se esperar,Isaura tem pior sorte:como prometido Leoncio a põe no tronco,amordaçada com um lençol branco,deixando-a sob os castigos dos três dias de agonia,deixando-a exposta ao frio,ao calor e a só pão e água.Olhando-a,diz:
-Tú não és mais pura,Isaura!Preferistes ser dele do que ser minha, sua ordinária!Cortastes o meu coração e a minha alma!Mas pagarás por ter submetido-me a este tirânico castigo sentimental!Pois se tú não queres me amar,obrigas-me a te odiar!...-chora,o crápula,de ódio e rancor,segurando um chicote.
Até que sinhá Estér tome as dores de Isaura.
-Leoncio,eu ordeno,eu exijo que termines estas torturas para com Isaura!-ordena,sob aborrecimento maternal.-Obedeças a mim que sou a tua mãe,senão eu mesma serei capaz de soltá-la!-o ameaça.
-Não,minha mãe,nao irei soltá-la!Por nada deste mundo!Nem que Deus e o "diabo" me pedissem,eu não os obedecería!Pois ninguém pode mandar-me!...-a afronta.
-Nem eu que te carreguei em meu ventre durante nove longos meses e dei-te à luz do mundo!-o questiona,balançando-o,ao pegá-lo fortemente pelos braços.
No ápice de tamanho aborrecimento,sinhá Estér passa mal,é acometida de um derrame cerebral e tal qual o marido,passa também a ficar em estado vegetativo.Não podendo andar,nem falar.Assim o crápula compra uma nova escrava doméstica que ajudará a cuidar de seus pais:é Iraci.Ela e Mãe Joana se revezarão nos cuidados para com os dois.Dando Ieda Neuza,também à sinhá Estér a milagrosa "Aguardente Alemã" ou a extraordinária "Tintura do Jalapão",trazidas da feira do "Vêr-Ô-Pêso",de "Santa Maria de Belém do Grão-Pará" por uma sinhá paraense,Luzia Malheiros Malcher Braga(irmã da sinhá Maria Êurita),que mora em "Campos dos Goytacazes",viúva de um barão fluminense.É ela quem dá os remédios para as mucamas de sua amiga acamada,para que as mesmas façam ela tomar.
-É muito eficaz!A "Aguardente Alemã" corta logo o derrame e a pessoa fica boa logo!Podem vós mercês confiar!...-recomenda Luzia,bondosa e solícita.
Enquanto isso sinhá Vera não pode fazer nada,a não ser acatar as ordens tiranas do marido,mesmo que o afronte várias vezes ao dia,chegando a fazer greve de sexo.
-Nao tocarás um dedo em meu corpo,enquanto não libertares Isaura daquele tronco horroroso,e digo-lhe mais:também enquanto não a alforriares!...-o impõe.
-Que seja feita vossa vontade,cara Vera,ou melhor dizendo à vossa contra-vontade!O que não fizeres comigo faço com as outras!Mulheres de lupanar é o que não faltam-me para saciar-me!...retira-se o crápula,ou melhor iría retirar-se,pois Vera é mais rápida e assim que Leoncio a dá as costas,quebra-lhe um vaso na cabeça,fazendo desmaiá-lo,pegando-lhe a chave das algemas que no tronco prendem as mãos de Isaura.
-Faço isto por minha sogra e por todos aqueles que amam Isaura!-diz inteligente e determinada,ao pegar a chave,e trancar Leoncio desmaiado no quarto,partindo para libertar Isaura do tronco,munida de um chicote,jogando-o fora e pegando um revólver.
-Saia Cipriano!Eu ordeno!Afaste-se de Isaura ou eu atiro,seu feitor bajulador e desgraçado!-o ameaça,xingando-o e mirando-o a arma.
Com uma mão aponta-lhe a arma e com a outra liberta Isaura,pedindo-a que monte em seu cavalo.
-Agora vamos,Isaura!Rumo à liberdade!-brada como uma guerreira e guardiã da escrava.
Quando se vê,já estão na Côrte.Vera entrega Isaura a Álvaro,dizendo-lhe.
-Está aqui a vossa esposa!O resto é com vós mercês!...-balbucia,Vera,com um largo sorriso nos lábios,pondo-se a galopar rapidamente em seu cavalo de volta à fazenda "Santa Genoveva" após a refrigerada sensação do dever cumprido.
Desta vez Isaura e Álvaro decidem empreender a terceira fuga,desta vez para o exterior,fugindo para Portugal,refugiando-se no castelo do "Conde Della Torre",um jovem viúvo fogoso,amigo do pai de Álvaro,Ary.
-Aqui jamais seremos encontrados,minha Isaura!Estamos além-mar!No outro lado do Atlântico!...-comemora Álvaro,bebendo vinho,enquanto Isaura come pão.
No Brasil Leoncio fica furioso porque pelas circunstâncias decidiu preservar o casamento,para não ser vítima de escândalo social,sendo obrigado a aceitar Vera,a "perdoá-la" por ter libertado a escrava.
-O fiz e não arrependo-me,nem arrependerei-me jamais!Porque sei que no "Dia do Juízo" Deus não há de me cobrar!...-sempre alega Vera,justificando seu ato nobre e intrépido.
Agora Álvaro e Isaura passeiam pela "Torre de Belém",em Lisboa,quando ela sente tonturas e desmaia nos braços do amado,que ao recobrar os sentidos...
-Beije-me Álvaro!Por semear em meu ventre o fruto do nosso amor maior...Estou grávida de ti,minha vida,meu amparo,meu herói...-o revela,em seu colo,beijando-se o casal,ao mesmo tempo que dá-se ao fundo o lindo pôr-do-sol.
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