domingo, 23 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA:CAPÍTULO 28:"

No Rio de Janeiro,após o Comendador Almeida chegar de São Paulo,ao indagar sobre Leoncio para Estér,esta fala-lhe:
-Ele foi atrás de vós na "Província Paulista"...-responde-lhe,enquanto costura uma peça de roupa vermelha,balançando-se na cadeira de balanço do salão da casa-grande.-Tú não o encontrastes?...-responde-o com outra pergunta,Estér,agora parando de costurar para abanar-se com o seu leque.
-Ora,ora,Estér!Leoncio mentiu para vós mercê,pois nem sinal deste varão naquele lugar!..Nenhum traficante de escravos avisou-me de vossa presença!Aliás e se fosse,o que iría fazer por aquelas terras,se eu mesmo fechei grandes negócios naquele solo de poderosos?!...-explana-lhe e assegura-lhe o marido.
-A não ser que tenha partido atrás de Isaura...-pensa Estér com muito medo que Rosa contara para ele,o que escutou atrás da porta.
-O que pensas mulher?Virastes estátua?!...-pergunta-lhe,exclamativo,Almeida.
-Nada,Almeida!Nada!Aliás,pensei sim,que nosso filho possa estar em algum lugar deste mundo...-disfarça,ela.
-Claro,sim,Estér!Mas onde é o que não podemos adivinharmos,a não ser se a "Pai Tomás" ressuscitássemos!...-ironiza.
Uma ventania forte "corre" pela "Fazenda Santa Genoveva".
Em Belém,Leoncio traça um plano para capturar a Isaura.Do porto da "Província do Pará",apanha uma carruagem,hospedando-se em um hotel luxuoso no centro,próximo ao "Palacete Bolonha".Abrigando-se no quarto,fuma novo charuto e deitado em seu leito,profere sórdidas e premeditadas palavras.
-Então Isaura mandou uma epístola,aquela carta desta província para a fazenda de Henrique,o meu acôutador cunhado,avisando-o de seu casamento com um tal de Álvaro,a ser impedidamente oficializado na "Basílica de Nazaré",hoje,pela noite,como Rosa contou-me!...-recapitula.-Já sei!Ficarei à espreita,diante da igreja,escondido na carruagem,junto à milícia,esperando o momento exato para capturá-la e desmascará-la!-arquiteta o intento sórdido.-Ora,ora,Isaura!Eu terei o maior prazer em estragar vossa festa!...-revela seus planos,sob dinamismo abominável,o crápula.
E é exatamente na noite do casamento de ambos em que Isaura decide usar o seu outro nome, Elizabeth Francisca(temendo que o barão Paulo a houvesse denuncíado),que Leoncio adentrando a "Basílica de Nazaré",acompanhado da milícia e uma ordem de captura expedida pelo juiz da "Vara do Rio de Janeiro",entrando no exato momento em que o pároco pergunta se há alguém que impeça o casamento,o crápula manifesta-se:
-Eu impeço!Não vou calar-me!Porque vós não pode consumar um casamento de uma escrava fugida que tem um vaga-lume na altura do ombro direito!-rasga-lhe um pedaço do vestido nesse lado de seu corpo,amostrando sua marca de nascimento,dando prosseguimento à mais terrível humilhação em plena igreja.
-E que fugiu da região Sudeste do Brasil para uma região geográfica tão recôndita e longínqua como esta,"Província Amazônica",passando a viver sob constante falsidade ideológica,apropriando-se de um nome que não é o seu!-a desmascara,perante todos,fazendo com que Álvaro repudie tal ato,pois em plena "Casa de Deus",Isaura,em busca de sua felicidade,sofre um atentado.
-Isto é repudioso demais para com esta moça,seja ela Elizabeth ou Isaura,não importa!-toma-lhe a defesa o padre "Paraense",indignado com tal invasão infâme.
-Que eu completo!Vítima de tamanha fatalidade,padre!Pois este senhor recusa-se veementemente que a minha filha goze de sua felicidade,propiciada por vossa liberdade,que o cruel exige tomar-lhe!-aponta Seu Jocelino,em direção ao pústula,Leoncio.
-É isto senhor padre!É isto!Por misericórdia,não permita tamanha crueldade!Isaura não merece!-prostra-se Maria José,ajoelhando-se e suplicando ao pároco,beijando-lhe as mãos e chorando,desesperada.
-Merece,merece sim!Uma vez que a liberdade de Isaura é arbitrária,ilegal,visto que é uma escrava fugida e por isto que estou aqui para uma apreensão desta peça viva,cujo proprietário é o meu pai!Eis os documentos comprobatórios-amostra-os, o canalha.
Só resta a Isaura lamentar,submissa.
-Meu Deus,logo aqui em vossa morada,volto para a condição de escrava!Que fatalidade!-e desmaia,sendo levada nos braços do próprio Leoncio,após retirá-la dos braços de Álvaro,que é preso junto com Seu Jocelino e Maria José,após corajosamente admítir que sabia da condição de Isaura,e por isso resolveu ajudá-la na fuga,inclusive,ajudando-a na construção da farsa,fazendo-a passar-se por outra pessoa.
Sob estas circunstâncias voltam ao Rio de Janeiro.Todos são postos numa única cela do navio.Álvaro repetindo-a várias vezes que lutará pela libertação da amada.Assim desde o Pará,Leoncio desiste de vendê-la,mesmo diante de tanta insistência.Só que chegando ao Rio de Janeiro,uma surpresa:o Comendador Almeida esbofeteia Leoncio pela "pachôrra" de ter ido capturar Isaura sem tê-lo avisado,e como é amigo pessoal do pai de Álvaro,exige que o mesmo seja libertado,não prestando queixa contra ele.E como legalmente Isaura é sua escrava,desiste de mandar prender Simone Bertolli,já que é cliente assíduo da "Casa-Grande dos Prazeres".Estér também dá um tapa no filho.E Vera no marido.
Só que as circunstâncias favorecem Leoncio.Por tamanho aborrecimento,o Comendador Almeida é vítima de um derrame cerebral,passando a ficar em estado vegetativo.Só naão ficou mais grave,sucumbido até à morte,porque Ieda Neuza,sábia,deu-lhe um remédio homeopático ou natural eficacíssimo contra tal moléstia da cabeça.
-U nã!Pra "derrâmi",só aguardente alemã!É tiro e queda pra ela não "matá Comendadô"!"Pera" lá "qui" eu vou "buscá" o vidro dela,já,já,lá no meu armário,pra "metê" uma colherada na boca "dú sinhô"!...-prontificou-se a negra cheia de sabedoria popular.
E foi o que procedêra.Mais-do-que rápida colocou uma dose de "Aguardente Alemã" na colher e enfiou-a na boca do Comendador Almeida,salvando-o da morte.
-Esse é um santo remédio sinhá!"Qui" sinhá Maria Êurita,lá do Pará,me deu,quando ela veio pra cá!...-revelara a procedência geográfica do remédio natural.
Assim, a "Aguardente Alemã" minimizou os efeitos nocivos do derrame cerebral sobre o Comendador,evitando sua morte,mas não outras sequelas,como a de não conseguir andar,nem falar,obrigando-o a ficar permanentemente acamado.Assim o crápula fica livre para agir com tirania contra Isaura,mesmo que esta seja constantemente defendida combativamente pelas sinhás Estér e Vera,as guardiãs dela.Mas ele manda que Rosa coloque um sonífero forte no chá das duas.O efeito é de 24 horas.Leoncio então castiga Isaura a ficar 24 horas presa na senzala,o que arbitrariamente manda também prender Seu Jocelino e Maria José,juntos a ela.Rosa então avisa a Leoncio que Álvaro tem a petulância de estar na sua fazenda para visitar Isaura.Ambos discutem porque o sacripantas proibe de visitá-la,mas...
-Pensando bem!Pura tolice minha!Vós mercê pode sim adentrar!Terei o maior prazer em lhe receber!E não é ironia!Juro pela invalidez de meu pai!Mil desculpas se fui "mui" ríspido para com o senhor!Está decidido!Antes de írmos à "Casa-Grande",onde está Isaura,vamos à senzala,pois necessito falar com o meu feitor...-convida-o,mostrando ser um perfeito dissimulado.-Siga-me senhor,Álvaro...-o pede,cínico e dissimulado.
Eis que chegando lá,desce do cavalo e o convida a descer.
-Venha cá!Há algo para o senhor aprecíar!...-deixando Álvaro desconfiado.É então que adentrando-se à senzala,encontra Isaura de costas,que ao virar de frente,cabisbaixa,Leoncio o fala.
-Esta é a nova Isaura,a quem o senhor acaba de encontrar!Da condição de escrava de casa virou cativa de terra!Ou melhor dizendo...Para quem antes da fuga pegava um trabalho fácil,agora está condenada ao trabalho mais do que pesado:horrivelmente sacrificado!...-o comunica,com mentira,desdém e ironia.
-Então senhor Álvaro,se vós mercê querer continuar a visitar esta escrava assenzalada na senzala,não esqueça-se de que só deverá fazê-lo mediante ofício,comunicando-me a hora marcada!-o determina,enquanto nem Seu Jocelino,Maria José e Isaura não podem falar nada,já que encontram-se amordaçados.
E com uma arma,o ameaça.
-Agora vá!Vai te embora daqui!Antes que tú te tornes um finado!Acho que já fui bonzinho demais!...- o expulsa.

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