quarta-feira, 26 de junho de 2013

'UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA":CAPÍTULO 32:

                          Na sequência um sarau marcado por incidentes...
Viscondessa tira Leoncio para dançar,tascando-lhe novo ósculo na frente do público no salão,mostrando sua má reputaçao na frente de todos.Sinhá Vera derrama um balde de prata cheio com champagne e gêlo sobre os dois,retirando-se em companhia do irmão,Henrique,que claro,reprova bastante o ato do cunhado,levando-a para a chácara da família na Côrte.
-Eis o preço que paguei meu irmão,casando-me com um homem de moral chafurdada e devassa!-põe-se a lamentar.-Chafurdada estou eu na lama da amargura...Não por amá-lo e sim por envergonhar-me na frente de todos!...Flecha-me com um desrespeito vil e impiedoso,mas não dou-me por vencida!Se ele quer jogo,boas jogadas terá!Pois a uma ótima adversária ele se digladiará e não a derrotará!Biltre pústuloso e safado...-queixa-se,sinhá Vera,deitada,no sofá da sala,cuja cabeça encontra-se apoiada por cima da perna do irmão.
Aliás o retiro de sinhá Vera favorece as circunstâncias para a prática de um novo ato de adultério por parte do marido,pois assim que retira-se enfurecida,Leoncio e a Viscondessa sobem as escadas de mãos dadas para o andar superior da casa-grande da própria,onde em seus aposentos acontece o primeiro relacionamento íntimo entre o casal.
Agora Leoncio fala abraçado à Gilberta...
-Como aguardei por este momento!A amante rica,nova,viúva e ardorosa!Que todos queriam ter ao seu lado!Como sou privilegíado!Sinto-me um homem muito invejado!-comemora ele,enquanto brinda na cama com a Viscondessa,bebendo os dois champagne francês em taças de ouro.
Porém nem mesmo a amante desviará o vilão de sua vil obsessão:o de possuír Isaura,agora uma escrava grávida e casada com um rico e benevolente abolicionista,mesmo que pelas ingratas circunstâncias esteja dele,separada.
O tempo passa e Leoncio encontra-se deitado ao lado de Rosa,quando esta dá-lhe uma sórdida e absurda idéia,para castigar ainda mais a Isaura.
-"Purque vossuncê",meu, "amanti" não casa Isaura com "ú jardineirú"?!É,só assim tú castiga mais ela,aquela praga!...-o sugere.
Leoncio aprova a sugestão de imediato,fumando seu charuto.
-Boa idéia,Rosa!-a elogia,sórdido.-Só assim posso duramente castigá-la!Já que não pára de rejeitar-me!-concluí,como sempre,tomado pelo espírito sórdido.
Até que venha a tomar uma decisão:soltará Isaura,livrando-a do pesado grilhão de ferro,que com correntes aprisionam-na a uma pesada bola de aço,castigo este chamado de "Vira-Mundo",como consta no dicionário.
Para vigíar Isaura durante 24 horas,Leoncio contrata o escravo André,até então seu cochêiro.E como sem ninguém saber,ele é namorado de Virgi Santa,esta mantém contato com sinhá Vera,avisando-a da decisão de seu marido para com Isaura.Vera,por sua vez,avisa a Álvaro,que trata logo de escrever uma carta romântica para a amada entregue a Vera,que a entrega à Virgi Santa,que a dá para André entregar,sem ninguém saber,para Isaura a ler.
Desta maneira,por trás do "Bacurízêiro dos Sonhos",André,às escondidas,dá a carta para Isaura.Só que Rosa tinhosa os surpreende,quando o escravo deu à Isaura a carta que foi envíada por Álvaro,chegando na hora.Rosa quer tomar a carta à força da cativa e as duas brigam com puxões de cabelos e rolando-se pelo gramado.André segura Rosa.Surge Leoncio empunhado de sua arma,montado em seu cavalo.Ele vocifera:
-Eu ordeno que largue ela ou eu lhe mato escravo safado!-grita o vilão,apontando-lhe a arma.
-"Issú nhô-nhô"!"Êssi" escravo safado deu uma carta do "sinhô" Árvaro" para Isaura!Eu vi "purque" cheguei na hora e "nóis" até "briguêmú" porque eu queria lhe tomar a papelada para "ú nhô-nhô intregá"!...Mas ela "num mi" deu e nem "esse inxiridú quis deixá"!...-os delata,a escrava.
Do alto do cavalo,Leoncio exige que Isaura entregue à Rosa a carta se ela não quizer ír para o tronco viver novamente as 3 horas de agonia.Isaura fica paralisada,até que Rosa venha até a ela,rasga-lhe o vestido e tire a carta que estava escondida em sua mama.Isaura caí em cima dela,furiosa.
-Tú levas a carta,mas também a lição que dou-lhe agora!-e começa a agredír Rosa com tapas,após pegá-la pelos braços e derrubá-la sobre o gramado.
As duas voltam a rolar-se pelo terreiro,sob puxões de cabelos e arranhões.Isaura cospe-lhe na cara,dá-lhe uma violenta bofetada e rasga a carta em pedacinhos.Até que Rosa voe em seu pescoço querendo estrangulá-la,mas André livra Isaura de suas garras.
-Segure Rosa,escravo, senão quizer morrer!-ordena-lhe Leoncio,voltando a ameaçá-lo com a arma.
-Como castigo,Isaura,pelo recebimento às escondidas do bilhete,pelas mãos deste escravo safado,pela carta do maldito Álvaro e pela briga com Rosa,tú vais ter os dois pés amarrados por esta corda e serdes arrastada até a fazenda!Tú e este escravo!-decreta,tiranicamente,Leoncio,que enlaça as pernas de Isaura,para arrastá-la pela mata,obrigando André,ao mesmo castigo,sob a mira do revólver.
Rosa,debocha,enquanto arranca um pedaço de mato e o põe no ouvido direito,para limpá-lo.
-Bem feito!-e gargalha,ao mesmo tempo que aparecem urubús sobrevoando o "Céu" da fazenda.
Porém Leoncio só não contava com a reação do escravo André,que puxa violentamente a corda derrubando-o do cavalo.O clima esquenta.Leoncio quer pegar a arma,mas André toma-lhe a mesma e a joga para longe.Os dois brigam com socos,enquanto André lhe diz:
-Agora lhe quebro a cara "marditú"!-e o desfere vários socos em seu rosto,quebrando-lhe dois dentes.
Rosa quer pegar o revólver,mas Isaura a impede,desenlaçando-se e correndo atrás dela,amarrando-a com a corda,após laçá-la.Isaura é quem pega a arma,enquanto André rouba o cavalo de Leoncio,montando no mesmo e índo embora acompanhado de Isaura,pegando-a pelo caminho.É a quarta fuga da escrava.
Enquanto Leoncio está com o rosto todo ensanguentado e Rosa amarrada com a roupa toda rasgada e com os braços todos arranhados.
-Malditos sejam!Que eles caiam do cavalo!-roga-lhes Leoncio a praga com todo o ódio de sua alma.
O cavalo em que estão relincha,pára,e caí,pegando-nos a imprecação de males contra o casal.Mas nem tanto,pois ao riscar de um raio no "Céu",com nuvens negras descobrindo o "Sol" e com o aparecimento do "Arco-Íris" parecem,com os vossos aparecimentos,anular o mal.Pois o cavalo recupera-se logo,e recomeça a correr.
Quando se vê,André e Isaura estão na casa-grande da Côrte,de Henrique,onde encontram Álvaro.
-Isaura!Minha amada!-abraça-a,emocionada.
-Abraça-me muito forte,ó meu amor!Eu estou aqui de novo para lhe amar!-o fala.
-Agora não podemos perdermos tempo!Partam para Portugal!Amanhã eu partirei para lá!-comunica-os,dando-lhes 20 contos de réis,acompanhando-nos Seu Jocelino e a mulher,Maria José,novamente para território lusitano.Detalhe:Isaura e André embarcam disfarçados e com documentos falsos.Ela como uma freira,"Irmã Maria do Céu" e ele como o frei "Gilberto de Jesus".Só que desta vez mais uma estratégia geograficamente genial:ao invés de embarcarem no porto do Rio de Janeiro,todos embarcam no porto da "Província de São Paulo",após fugirem para a mesma.A intenção,claro,é dificultar as buscas impetradas por Leoncio,quando munido da fotografia de Isaura,ír perguntar no porto do Rio de Janeiro se alguém a víu embarcar em algum navio,a resposta será negativa,claro.Tudo bem planejado.Assim não chamarão suspeitas.
Rapidamente,todos encontram-se na Europa,no casario colonial do "Barão de Aguinava",uma província fictícia de Portugal.O nome dele é Francisco José,onde todos são bem recebidos,inclusive,presenteando os vossos hóspedes com buquês de rosas,e ofertando-lhes copos com leite e torradas,portuguêses.Ele é tio de Álvaro.
-Muito feliz estou eu em recebê-los aqui em minha chácara!-dá-lhe as "boas-vindas".
-Felizes muitíssimo estamos nós,por estarmos aqui convosco,desfrutando de vossa hospitalidade!-agradece-lhe Isaura,conhecendo a prima de Álvaro,sinhá Adelaide,uma lusitana abolicionista como o pai que compra escravos brancos e negros,os alforria e os contrata sob trabalhos remunerados,intítulando-os de empregados.
E Isaura personificará dupla identidade.Quando ela estiver passeando pelas ruas lisboêtas,de Lisboa,em companhia de Álvaro,estará disfarçada de freira,sob o pseudônimo de "Irmã Maria do Céu",como o trouxera do Brasil.E quando estiver no domicílio do "Barão de Aguinava" estará de sinhá Isaura,vestindo belíssimos vestidos lhes emprestado pela "prima de coração"(como a chama),Adelaide.
Desta maneira cenas belíssimas,bem "romancêscas" são protagonizadas pelo casal,sem beijos em público e sim com declamações recíprocas de poemas românticos,apresentando como cenários a "Torre de Belém" e até no "Jardim das Oliveiras",local divinosamente esplendoroso,no qual ocorre a aparição milagrosamente amorosa da "Nossa Senhora de Fátima",para abençoar o amor do casal,tal qual a "Virgem de Nazaré",aparecera em sonho de Isaura,na noite anterior,ambientado em "Santa Maria de Belém do Grão-Pará".
Já no Brasil Leoncio traça um plano implacável para quando recapturar Isaura em companhia de seus cúmplices Álvaro,André,Seu Jocelino e Maria José.
-Todos serão submetidos ao grande julgamento,por darem fuga à Isaura,e junto a ela serem condenados pelo crime de lesa-patrimônio,pois estão fazendo-me gastar fortunas com as recapturas da escrava!Contabilizando-me um prejuízo de mais de 40 contos de réis!...-queixa-se o patife,enquanto o escravo Malafati limpa as botinas de seu senhor com uma flanela e as encera com cêra de abelha.
Rosa está à sua frente,segurando uma bandeja de prata.
-"Ú nhô-nhô" tem mais é "qui castigá elis mesmú"!...-incentiva a maligna.
-Puxa-saco "dús diabú"!...-pensa Ieda Neuza,espanando os móveis da sala,ouvindo toda a conversa.
Mais tarde,na cama,Leoncio confessa à Rosa.
-A Justiça tornará escravos Jocelino e Maria José!E já te posso assegurar:vou vendê-los para uma fazenda bem distante deste acre,para a "Província do Paraná"!-a revela.-Só assim Isaura e os pais nunca hão de se reencontrar!É a pior maneira de a castigar:dando chibatadas em seu coração,que chorará de tanta tristeza pelo afastamento de vosso pai e de vossa tia-mãe!-concluí o vilão ultra-sórdido contando-lhe parte da punição.
O tempo passa...Leoncio descobre de forma surpreendente o paradeiro de Isaura.Há muito tempo sem escrever uma carta à amiga portuguesa Adelaide,Altônia,a irmã bastarda de Leoncio,escreve-lhe,contando as últimas novidades em torno do conhecimento de seu irmão bastardo e da mudança de endereço,em transferír-se da Côrte da Bahia para a do Rio de Janeiro.
-Meu Deus,que incrível coincidência!A minha amiga brasileira é irmã bastarda do Leoncio,o algoz de Isaura,como vós mercês podem constar nesta carta!-revela-lhes Adelaide à mesa do café,quando na frente dos vossos hóspedes põe-se a lêr o teor de tal carta,surpreendendo-os negativamente.
-Minha Nossa Senhora,e agora?!...-pergunta-lhe,temerosa,Isaura.
-E agora,que logicamente,não posso revelar-lhe nada em torno de vosso abrigo aqui no casario!Pois este segredo poderá vir à tona,dado cá que a vida tem lá de suas imprevisibilidades,algumas das vezes,implacáveis!...-responde-a Adelaide,tranquilizando Isaura e os demais,escrevendo na hora a resposta para Altônia.
-Muitíssimo obrigada pela vossa epístola,caríssima amiga brasileira!Aqui está tudo às mil maravilhas!Quando vieres a Portugal,sabes onde hospedar-se...Aqui serás sempre bem-vinda!Mas avises-me com certa antecedência,por carta,quando decidires nesta formidável terra visitar-me!Sem mais para o momento!Tenhas bons-dias sempre!Por obséquio!Adelaide.-escreve ao mesmo tempo em que lê aos presentes o teor da mensagem.
Passa-se o tempo necessário para chegar-se a carta-resposta ao Brasil.Como Altônia recebe-a no momento em que encontra-se a saír para visitar ao irmão,Leoncio, decide levá-la consigo para lê-la diante dele na "Fazenda Santa Genoveva".
-Ora,ora,minha cara irmã de "outras cestarias",por que não visitas vossa amiga além-mar?...-pergunta-lhe,sugeríndo-a tal passeio turístico.
-Ó parada,Leoncio!Bela sugestão!Mas queres que vá visitá-la assim de supetão,imprevistamente?!-dá-lhe outra pergunta,como resposta.
-E porque nao?!Decerto,hás de saber...Que as visitas mais supimpas são as de supetões!...-forma-lhe sua opinião,respondendo-a.
-Alto sim!Concordo-te meu irmão!E é por isto,sem deixar muitos dos tempos passar que amanhã mesmo embarcarei para lá!-decide,retirando-se uma das luvas de renda branca para uma das mãos coçar.
-Alto lá!E vás sem levar-me?!Claramente que não,pois ouso-lhe em acompanhar-te nesta bela viagem internacional...-a comunica.
...E o vento levou-nos rapidamente a território lusitano.Quando vemos uma rajada de vento abre abruptamente uma das janelas da sala de estar do casario do "Barão de Aguinava".Alguém bate na porta.Quem a abre é Isaura...
-Meu Deus!...-exclama ela,como que fulminada por uma flecha certeira em seu coração,quase desmaiando.
-Oh meu Deus,que nada!-levanta Leoncio malignamente as sombrancelhas.-Venha cá sua maldita escrava!-a diz Leoncio,pegando-a fortemente pelos braços,trazendo-a diante de seus olhos odiosos,enquanto que com a outra mão tapa-lhe a boca.
-Que coincidência afortunada,a mais auspiciosa de toda a minha vida!-elogia o destino,o crápula.-Andas Altônia!Vais buscar a milícia para prender a esta desertora!Andes!Nao percas tempo!-a ordena,no que para completar a sua muita boa sorte,mesmo em face de circunstâncias tão mesquinhas,a carruagem da milícia da "Província de Aguinava" passa.

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