quarta-feira, 12 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA":CAPÍTULO 21:

-Sim,muito bravo de vossa parte!Mas não achas que estás atirando-se aos leões,minha irmã?!-Henrique a questiona.
-Sim!Estou!Mas não entro nessa arena desarmada!Levo todos os meus canhões!Portanto não te preocupes meu irmão que eu sei muito bem defender-me do crápula!Ele conhecerá o bastante o peso de minhas mãos,e se preciso for,até do meu chicote!-dá uma chicotada sobre o assoalho da casa.-Ah,se vai!...-dá mostras da fortíssima personalidade,retirando-se ao subir das escadas.
E quando se vê,Leoncio e Vera já estão casados.Quem conduzíu a noiva até o altar foi o seu irmão Henrique.Aconteceu,inclusive,um incidente.No momento de dizer sim,ouviu-se o barulho de um trovão no Céu,ao mesmo tempo que ocorreu um eclipse da Lua,e como se não bastasse a terra tremeu,levemente,nos primeiros minutos.Em 3 minutos tornou-se em um forte e rápido terremoto,que durara exatamente um minuto,o suficiente para fazer a igreja desabar.Sorte que os presentes tiveram tempo para saír da casa paroquíal.Assim não foram vitimizados.Sinalizando que este casamento de sinhá-moça Vera e Leoncio será uma tragédia,profetizando estes casamentos,a fatalidade.Trazendo mau augúrio aos casados.
-O áuspice nesta história é Deus,meu primo Camilo!Bem que Ele avisou!Mas Vera preferíu ser a mais teimosa e corajosa de todas as terráqueas!O Todo-Poderoso enviou-a o terremeto para que ela abandonasse o crápula no altar!Mas não!Mesmo entendendo o meu olhar,Vera preferíu autorizar a conclusão do matrimônio!Agora não resta-nos fazer mais nada!A não ser esperarmos as consequências das inconsequências deste seu ato!...-concluí Henrique,ao mesmo tempo conformado e inconformado,em prol da atitude da irmã.
E é na lua-de-mel que sinhá-moça(prestes a tornar-se sinhá-mulher) Vera,na fazenda dos sogros,executa o primeiro castigo contra Leoncio pelo fato deste desejar ardentemente Isaura.Ela simplesmente coloca uma porção cavalar de calmantes em sua taça com champagne,tombando ele no sono.Para má sorte do crápula,o comendador,seu pai,o incumbe de fechar a compra de uma leva de novos escravos na Côrte de Pernambuco,ficando lá por 1 mês para ír comprando novos escravos e os revendendo para as demais Côrtes Províncianas das regiões Norte e Nordeste do Brasil,ganhando muito dinheiro com o tráfico negreiro.Esta ordem paterna é dada logo pela primeira manhã,de casado,de Leoncio.
-Ai,que massada!Ainda nem desvirginei a minha mulher,e meu pai já envía-me para o Nordeste,para eu comprar e revender escravos,durante um mês!Até lá não sei se vou suportar no intenso desejo de a Vera deflorar!...-confessa,em pensamento pervertidamente furioso,o depravado.
Portanto,por força das circunstâncias,sinhá-moça Vera protela o seu desvirginamento por Leoncio,conservando-se donzela.E é nesse meio tempo da ausência mensal de Leoncio que ela acaba tornando-se grande amiga de Isaura,que também ganha a amizade da mucama dela,Virgi Santa,durante o primeiro passeio matinal delas nos amplos jardins da "Fazenda Santa Genoveva".É nesta oportunidade que sinhá-moça Vera diz à Isaura que sabe dos assédios infernizantes feitos à ela,por Leoncio.Isaura acaba confessando-a,mas pedindo-lhe que guarde este segredo,encarecidamente.
-Mas o santarrão sabe que eu sei,Isaura!Pois foi o meu primo quem a salvou,e o mesmo quem contou-me!Ou esquecestes deste detalhe?!...-a indaga.
-Eu sei sinhá Vera!Mas é de suma importância que ele nunca saiba que confessei à senhora,pois Deus me livre se ele soubesse que eu a fiz esta confissão!Eu não quero nem pensar!...-a diz,Isaura.
-Te tranquilizes Isaura,que por mim,nem por Virgi Santa,ele não saberá nada!Quanto a este assunto,optaremos pelo silêncio de vosso nome!Para todos os efeitos,eu só soube pela boca de Camilo,e não pela confirmação de seus lábios!Visando,sobretudo,preservá-la deste crápula!Eu sei o quanto Leôncio é ordinário!Por isto eu dei-lhe o primeiro castigo...-e as conta o que fez para ele na lua-de-mel.
Tanto Virgi Santa quanto Isaura admiram-na,por tamanha coragem.
-Então vós mercê ainda é sinhá-moça?!...-concluí Isaura.
-Sou!E enquanto ele não chegar eu o serei!Por minha própria vontade,eu ainda não fui violada!...-concluí,Vera,muito orgulhosa.
-É muitíssimo admirável ter uma figura tão sensível,combativa e inteligente ao mesmo tempo,aqui para convivermos diariamente!Que terá muito a nos ensinar...-a elogia,com franqueza extremada,Isaura.
-E que com certeza eu também,terei muito o que aprender com vocês,afinal quase tudo neste mundo é recíproco,minha cara!...-responde sinhá-moça Vera aos elogios de Isaura.
-Portanto Isaura tenha em mim uma nova grande amiga,protetora e aliada!Que Deus nos valha!...-a assegura.
Mal elas sabem que a invejosa Rosa escutou a tudo,acocada e escondida numa moita,atrás de uma árvore.
-Deixa "istá",que "quandu nhô-nhô" Leoncio "chegá",tudo pra "êli eu vou "contá",e logo,logo,esta "amizadí" vai "acabá"!...-planeja a víbora,que assim que as vê caminhar,aproveita para voltar à casa-grande do engenho.
Isaura,Virgi Santa e sinhá-moça Vera estão aproximando-se do "Bacurízêiro dos Sonhos",quando um homem montado à cavalo,está de costas para elas,até que imediatamente vire-se de frente.É Camilo Castelo Branco revelando a sua presença,para deleite de Isaura.
-Eis-me aqui o vosso herói,Isaura!Dê-me aqui a sua mão!-diz Camilo ao descer do cavalo,pedindo para beijá-la em seu membro delicado.
Isaura prontamente aceita,mesmo que acanhada.
-Com licença,senhorita!Dê-me a honra de cumprimentá-la...-e beija a sua mão delicada.
.Isaura o agradece.
-Nao te acanhes,Isaura!Nao te acanhes!Eu estou aqui para agradá-la!Tanto que vou empenhar-me em presenteá-la agora!Testemunhem vós mercês o que eu vou fazer!-as comunica,sacando de sua arma e dando amostras de que é um excelente atirador,atira em direçao à rosa e cortando-a certeiramente pela haste,fazê-la caír do topo da árvore,e oferecê-la para ela.
-Uma rosa com amor,para uma outra rosa delicada de nome Isaura,a mais bela deste jardim!...-a encanta com tais palavras,selando o amor dos dois,para fúria de Leoncio,que ao mesmo tempo um sonho aparece para avisá-lo,enquanto está no navio rumo a Pernambuco,objetivando traficar escravos.
-Isaura me traí!Isaura me traí!...Mas juro que tornarei este amor putrescível!...-e esmaga uma maçã com a mão,com os olhos brilhando de ódio.
Eis o sonho que atormentou Leoncio:
"Isaura e Camilo aproximam-se,enquanto acontece uma ventania com pétalas de rosas.O chapéu dele caí.Isaura reconhece aquele rosto."Então foi vós mercê quem apareceu-me naquele lindo sonho..."-Camilo:"Fui eu sim,Isaura...Dê-me um beijo,moça bela...",até que se beijassem,enquanto um "Arco-Íris" no Céu ilustrasse o belíssimo "pesadelo de amor" do Leoncio,que neste momento surgira,fazendo a ventania de rosas virar uma tempestade de areia,matando Camilo com um tiro e beijando à força,Isaura,que o arrancava os olhos com unhas de fera..."-Daí o pesadelo terminou.
Enquanto na vida real,Isaura e Camilo vivenciam um sonho lindo de amor,usufruíndo de muitos momentos felizes.Sinhá-moça Vera e a mucama Virgi Santa são as "únicas"(desconhecendo que Rosa também sabe) sabedouras deste segredo amoroso.Consequentemente funcionam como "meninas de recados",entre os dois,apoiando os encontros às escondidas do casal.
Agora é sinhá Estér quem sonha rezando diante da imagem de "Nosso Senhor Jesus Cristo Carregando Vossa Cruz".
"PAI-NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU!SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME!VENHA A NÓS O VOSSO REINO!SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU!O PÃO NOSSO DE CADA DIA DAI-NOS HOJE!PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS,ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO E NÃO NOS DEIXEIS CAÍR EM TENTAÇÃO,MAS LIVRAI-NOS DO MAL.AMÉM".
Uma borboleta azul pousa sobre a sua cama.É neste momento que sinhá Estér acorda,enquanto Ieda Neuza a traz uma bandeja com biscoitos e suco de maracujá.
-É felicidade,sinhá!É felicidade!-diz a mucama referíndo-se ao belo inseto colorido e alado.
-Amém,Ieda Neuza!Amém!Que Deus nos ouça e traga-nos muitos felizes momentos sobre as nossas vidas!-a declara,erguendo as mãos aos Céus.
-Amém,sinhá!Amém!Aleluia!Axé!-roga,divinosamente,Ieda.
Um mês desenrola-se na contagem do tempo."Sol e chuva,casamento de viúva!"-exclama sinhá-moça Vera,pela manhã,olhando o fenômeno climático por uma pequena fresta entre as cortinas,atrás das janelas.É aí entao que após falar,abre totalmente as cortinas,sorrindo e maravilhada.Isaura e Virgi Santa a acompanham.Quando se vê,uma carruagem chega na fazenda.
-É Leoncio!-observa Vera.Ele adentra a casa-grande debaixo de um guarda-chuva empunhado por um escravo,enquanto os outros carregam as vossas bagagens.
-Minha Virgem de Nazaré,o demônio chegou!-diz em pensamento,Isaura.-Minha Nossa Senhora da Defesa,defendei-me!-vira-se de costas e faz o "Sinal-da-Cruz".Ela retira-se para avisar a madrinha em seus aposentos.Comendador,um dia anterior a chegada do filho,viajou a negócios para a "Província de São Paulo".
-Bons dias minha esposa!-a saúda,beijando-lhe as mãos.-Finalmente regressei de tão longa viagem,após ter executado tão bons negócios,em solos pernambucanos,mais precisamente na "Província de Recife",a "Veneza Brasileira"...Quão linda a cidade...-diz,completando,na sequência,em pensamento.
-E quão lindas e deleitosas as meretrizes,mulheres de lupanar de lá!Hum,umas iguarias bastante apetitosas...-e fecha os olhos,voltando à sua mente orgias em que tivera com prostitutas pernambucanas.
-Mas cá estou bastantissimamente cansado!Vou caír em sono e só acordo-me em vinte e quatro horas...Vamos Vera para os nossos aposentos,que quero lhe contar...-e os dois,com braços entrelaçados,retiram-se para vossos aposentos.
Não demora,finalmente,há a primeira relação sexual entre o casal,que estão dividindo a cama e os lençois.É aí que a desvirgina,extasiados,movidos pela "geografia dos desejos carnais".Tornando-se Vera agora "Sinhá-Mulher"!...
-Quase morro de abstinência!Este foi o momento mais ansioso de toda a minha existência!Mas valeu-nos esperar,pois o dia inteiro vamos copular!É o fogo do amor!Beije-me,Vera!Agora não és mais sinhá-moça e sim sinhá-mulher, minha mulher!-diz Leoncio com o corpo sobre o da cônjuge,embaixo dos lençois,enquanto beijam-se freneticamente,e ela geme.Quando se vê,a cama está ensanguentada.
-Tú me deflorastes Leoncio!Acabo de tornar-me mulher!Nao sou mais sinhá-moça!Agora sou sinhá Vera!Para sempre tua!Só tua!...-diz,olhando-o nos olhos,amostrando-lhe uma das mãos,ensanguentada com o sangue resultante do defloramento vaginal,dado em carácter pré-nupcial,após um mês do casório.Algo raro...
É de madrugada,do dia seguinte.Sinhá Vera estranha o fato de acordar e não presencíar o marido.Ela empenha-se em descobrir seu paradeiro.É aí que o flagra entrando no quarto de Isaura,deixando a porta entreaberta.Leoncio acorda Isaura,beijando-a à força.Sinhá Vera o repudía,dando-lhe um tapa,protegendo a Isaura.
-Tú não te repugnas de tamanha indecência!Tú não te sacias de mim que acabei de tornar-me tua mulher,recém-deflorada por ti,seu maníaco!-o chama sua atenção de forma que não faça um escândalo e acorde a todos da casa-grande.
Leoncio nao fala nada,consente sua repreensão e saí em disparada,índo esconder-se na adega,onde sentado sobre o chão bebe vinho na "boca ' da garrafa.Sinhá Vera e Isaura abraçam-se e choram,desgostosas,com tal ato.
-Pelo amor de vossa bondade,sinhá Vera,isente minha madrinha de mais este desgosto...-a pede,Isaura,a sinhá Vera abraçada.
-Leoncio não presta,Isaura!Leoncio não presta!Ele não vale nada!Nem uma pataca furada!É um pústula!E como é abominável!E eu teimei em casar-me com um sujeito deste...Agora pago...Mas fique tranquila...Vamos privar minha sogra de mais esta descoberta...-a assegura Vera,tranquilizando a Isaura.
A partir deste incidente,Vera decide dormir em quartos separados.-É uma decisão minha,cara sogra...Ainda não acostumei-me a idéia de ter de dividir minha cama...-a tentará despistar.
Sinhá Estér ficará desconfiada...
Como é de praxe,Vera fica com o quarto principal.Leoncio acomoda-se em outro aposento,aproveitando para receber Rosa em lugar desocupado pela esposa no leito matrimonial.Vera acaba flagrando-os e surpreendentemente chicoteia os dois,porém pára na sequencia comunicar que aceita a amante,mesmo "porque as vadias sao imprescindíveis para realizar as mais pervertidas taras de senhores casados";Porém que o adultério seja praticado bem longe dos seus aposentos,se Leoncio nao querer ser por ela abandonado.Dominado e enfeitiçado por gênio tão forte e inteligente só resta a Leoncio obedecer a mulher se não quizer ser vítima de escândalo social.E na sala da casa-grande,sinhá Vera faz vergonha ao marido,contando o duplo fato aos seus pais:o assédio constante à Isaura e o adultério praticado com Rosa.Sinhá Estér dá um tapa no filho pela "torpeza de seu cinismo",ao mesmo tempo que Comendador Almeida chegue de São Paulo e o repreende.
Como se vê,Leoncio tem uma esposa à sua altura para castigá-lo imediatamente diante de seus pecados.
-Eu serei como vossa mãe e o vosso pai deverião ter sido para convosco:fria e extremamente inquisitiva para com vossas maldades!E hai se não respeitar-me!Abandono-o e divulgo para Deus e o mundo todos os podres de vossa personalidade,e aí não terás rosto para mostrar-se-à perante a "Côrte Fluminense"!-o firmemente ameaça.
Até que tome um ato...
-Mas eu não daría esta permissão sem antes castigá-la ainda mais sua escrava vagabunda!Venha cá!-e pega firmemente Rosa pelos braços e a coloca no tronco,rasga-lhe o vestido e dá-lhe várias chibatadas nas costas,mostrando o espetáculo de sua fúria para tudo e todos do engenho.
-Quando eu sou boa,eu sou boa!Mas quando eu me enfureço,sei ser muito mais perigosa do que esta tempestade!!!-vocifera no momento em que começa a caír uma forte chuva com raios e trovoadas.





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