Quando se vê a invejosa Rosa entra no quarto de Isaura,tranca-se no mesmo,abre o guarda-roupas e pega o vestido amarelo dela.O põe sobre a cama.Despe-se,pára vestír-se com as vestes da invejada.Põe-se em frente ao espelho,mirando-se e imaginando-se como ela.Como que vendo o reflexo da própria Isaura no objeto refletor de imagens,que fica bem em frente à sua cama.
-Eu queria "roubá" tua beleza pra mim!O teu rosto!O teu corpo!A cor da tua pele!A tua voz!Os "teus cabelo"!Eu quero tudo!"Inté" tua boa sorte!"Inté" tua alma!-confessa,Rosa,invejosa,como se estivesse contracenando com a própria imagem refletida de Isaura,criada ilusionariamente pela inveja de Rosa no espelho.
Ela fecha os olhos,e de tanta inveja,os maus fluídos desta batem no espelho,como uma fumaça negra saída dos "olhos-maus" da branca com cabelos carapinhados e voltam para a própria Rosa,que atingida pela própria feitiçaria de seu "mau-olhado" a faz desmaíar,caíndo sobre a cama de Isaura.
É então que Rosa tem um sonho enquanto encontra-se desmaiada.Ela sonha que fala com o reflexo de Isaura no espelho,cuja cena segundos antes imaginara.
-Vós mercê Rosa não pode ter tudo o que eu tenho,porque cada ser é único no Universo!O que significa que jamais serás igual a mim,e portanto é bom conformar-se com o que Deus lhe deu!Afinal para que tanta inveja de mim,se sou igualmente escrava como você?!-a questiona,o reflexo de Isaura,no espelho,chamando-a à frente deste a atenção de Rosa,em seu sonho,sob desmaio.
-Igual a mim,nada!-e a "puxa",como que tirando-a do espelho,pegando-a fortemente pelos braços,sacudindo-a furiosa,com os olhos esbugalhados,desabafando-a toda a sua revolta invejosa.
-Quando que tú és uma escrava,Isaura,como eu,como as outras,sendo criada com todo tipo de mimo e formosura,como filha de sinhá,guardada debaixo da saia de sinhá?!Mas é nunca!Porque como se não bastasse"gozá" de todo tipo de privilégio,ainda foi bem educada!Por isto és uma sinhá-moça,e não uma escrava!Escrava só se for da boca pra fora,pois vive aqui como uma princesa,uma imperatriz do engenho e da casa-grande,bastante longe da senzala!Por isto eu morro de inveja de ti "sua disgrassada",porque é esta vida que eu queria e merecia pra mim,mas que Deus não me deu,porque o "diabú" me deu a pedra pra "carregá",enquanto a tua sorte foi bem "melhó"!Ah!Eu não me conformo!Bela "iscrava mardita"!-e a joga sobre a cama.
Rosa então retira do decote de seu vestido um punhal de cabo preto.O sonho vira pesadelo.Pois cheia de ódio determina.
-Por isto agora eu vou "ti matá",porque só morta tú inveja em mim não vai mais "mi provocá"!...-e quando parte para matar Isaura a punhaladas,Deus lança uma forte ventania sobre Rosa,ao abrir abrupto das janelas,criadas às costas dela,jogando-a contra o espelho,que quebra,e cujos estilhaços perfuram o seu corpo ruim,matando a inveja e a dona dela.
Neste momento,com o forte impacto do trágico desfecho do sonho,que transformara-se em horrível pesadelo,Rosa então acorda-se do desmaio,dando um grito.
-Marditaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!....
Ieda Neuza então,que estava passando neste momento,no corredor,ouve e bate na porta.
-Rosa,Rosa,Rosa!Abre!Abre!Que "diaxú" tá acontecendo aí neste quarto minina!U nã!-grita,Ieda Neuza,curiosa e assustada com o que ouvira do escândalo da outra no quarto de Isaura.
Rosa então mais-do-que-depressa,tira do corpo por debaixo do lençol amarelo,o vestido de Isaura,ao mesmo tempo que falando alto,minta para Ieda Neuza.
-Nao é nada,não,preta!-a responde,mentirosamente.
-Como que "num" é nada que tú tava gritando aí no quarto?!-teima,Ieda Neuza a indagá-la.
-Já falei,preta!"Num" foi nada!Só foi uma barata cascuda que "mi assustô" e eu matei ela enquanto eu "tava" varrendo o quarto de Isaura!-inventa outra mentira,Rosa,que à esta altura,já levantou-se da cama envolvida no lençol,vestindo o seu vestido negro longo de chita por debaixo do mesmo.
-Ah,foi isso foi!Mas cadê a vassoura,que "num ouvi" a varrida dela!-a indaga sobre esse detalhe Ieda Neuza,duvidando de Rosa.
Rosa não responde nada,mas pega a vassoura e a varre sobre a porta,para que Ieda ouça a sua varredura.
-Agora eu ouvi!Mas Rosa abre essa porta!-a pede,Ieda Neuza,teimosa e desconfiada.
-Eu nao abro não!-decide.-Vai "cuidá" de tuas "tarefa"preta,que eu tô varrendo o quarto!Deixa de "mi incomodá"!...-recusa,grosseira,Rosa,ao pedido dela.
-Tá bom então!Fica aí "nas tua varredura","qui" eu "tô" indo pra cozinha "fazê" um guizado de galinha caipira com verdura!-retira-se Ieda para cozinhar.
-Já vai tarde!Nega velha "inxirida"!...-fala,Rosa,malcriada,em pensamento,pára na sequência guardar a roupa de Isaura.
Quando Rosa abre a porta,surge Ieda,esperta.
-Deixa eu vê se tú tá varrendo mesmo...-entra no quarto,pois a Rosa havia enganado,já que ao invés de ír para a cozinha,decidiu esperá-la saír do quarto,para poder entrá-lo,deixando a outra aborrecida.
-Mas só podia ser tú mesmo,Ieda,pra ser tão "inxirida"!-comenta Rosa,ranzinza.
-Sou mesmo,ainda mais as que "varredura" é essa que eu tõ vendo tudo empoeirado!-observa Ieda,olhando detalhe por detalhe.-E cadê a barata!-teima,Ieda.
-Ah,preta velha!Fique aí com as tuas "discunfiança" que eu tô índo pra lavoura "trabalhá"!...-quer retirar-se Rosa,tentando despistar.
-Aposto que tú tava era se vestindo de Isaura!-a lança a "charada",acusando-a de tal,como que adivinhando,fazendo Rosa ficar paralisada quando já estava índo embora.Ela a xinga em pensamento.
-Preta "adivinhôna" e "disgrassada"!...-confessa,mentalmente.
Rosa não vira-se de frente,continua de costas,tapa os ouvidos com as mãos e fala.
-Ah!Tenho mais o que "fazê" do que "ficá" ouvindo as tuas "calúnia"!...-e retira-se ela.
-Calúnia nada!Até parece que eu não conheço essa daí!Ela "tava" era mesmo vestindo o vestido da outra!Quer ver...-e vai até o guarda-roupas,abrindo-o.-Eu nao tô dizendo!A roupa de Isaura tá toda "amarrotada"!-observa,ao pegá-la na cruzeta.-E nem a cama...ela "si" esqueceu "dí arrumá"!-percebe também este detalhe.-Rosa,Rosa,Rosa,tú "si" ajeita piquena" que tú "ingana" os "outro",menos eu!Hum!...Eu hein!Nunca vi tanta inveja numa pessoa só!Coitada da Isaura!...-concluí Ieda os seus perspicazes comentários,pegando a vassoura,deixada por Rosa sobre o assoalho,fazendo Ieda o que a invejosa não fez:varrer o quarto de Isaura,pedindo-a proteção de Deus para ela contra a inveja de Rosa.
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