Há um novo quotidiano matinal em relação à esta história.Sao exatamente às 6 da manhã.Nos aposentos de sinhá Estér e seu esposo,Comendador Almeida Prado haverá uma altercação.Ele então começa a ser questionado pela mulher,cujos corpos estão deitados,lado a lado.
-Mas Almeida,tú hás de saber que Isaura...
Ele a interrompe,levantando-se e ficando de costas para a esposa,que também imediatamente resolve levantar-se,e falar-lhe às costas do marido.
-Isaura sim,Almeida!Nao queira ignorá-la!Tú sabes que trato-a como filha que não tive,que infelizmente Deus não me deu,não plantou-a no meu ventre,mas que pela força da tragédia botou-a em nossa casa,para que eu pudesse criá-la como se fosse,realmente,eu repito,a minha filha!-o diz com firmeza de mulher que obedece rigorosamente as leis de Deus.
Almeida fica com cara de quem não está gostando de ouvír estas firmes palavras,mesmo que as mesmas sejam extremamente imparciais,continuando a ouví-la calado.
-Pois então Almeida!Isaura,tú hás de concordar,não é uma simples escrava,como as outras,que gozam do mesmo humilhante título!-continua firme nas palavras,pára na sequência usar de um tom mais melífluo,imposto à sua voz.-Isaura é especialmente diferente Almeida!Ela é hábil na pintura,no bordado,no toque da harpa,na leitura e na escrita!-enumera vossas qualidades.-Por isso possuí educação mais-do-que-especial!É esmerada no que faz!-continuando a enaltecer ao máximo,de Isaura,os vossos predicados.-O que queres mais dela,para torná-la liberta?!-o indaga.-Tú tens de a libertar Almeida!Tú tens de a libertar!Dá-la vossa liberdade!Pois Isaura já nao suporta mais viver nesta cadeia,nesta prisão gravemente psicológica e socíal a que tornou-se para ela esta horrível e exasperante escravidão!-vai vomitando-lhe todas as reivindicações.-Eu exijo Almeida que Isaura seja fôrra o quanto antes,pois te lembres de tua promessa para com ela!Quando se completar-se-ía 18 anos Isaura sería liberta!E não foi o que ocorreu!Vinte e oito anos já passaram-se e ainda não aconteceu!Protelastes demais!-olha para o teto do quarto.Por isto quero saber,desejo muito saber:porque prorrogastes por tanto tempo e ainda nao determinastes nada!Fale-me, Almeida!Fale-me!-exige explicações,segurando o crucifixo.-Fale-me,pelo amor de Deus,em nome de "Nosso Senhor Jesus Cristo Crucificado" que aqui tenho em minhas mãos!...
-Chega Estér!Chega!Eu não falo nada! Nem pelo amor de Deus,nem pelo amor a Satanás!-vocifera.
-Meu Deus!Que horror!...-balbucia Estér,visivelmente horrorizada,trazendo o crucifixo e as mãos ao rosto,como que perturbadamente envergonhada com tão pesadas e impactantes palavras.
-Que horror nada!Que horror é esta sua teimosia,obstinação exasperada!...-continua a vociferá-la.
-Obstinação é o que você diz,o que para mim é só mais um desejo de "Justiça"!...-fala,chorosa,Estér,enquanto ainda continua a mascarar seu rosto com as mãos empunhando o crucifixo.
-Chega!Caluda!Cale-te boca oh mulher!-a ordena,virando-se de frente,balançando-a ao pegá-la fortemente em seus braços e lançá-la sobre o leito do casal.
-Estúpido!-vocifera,ela.
-Estúpida és tú!Se eu ainda não a alforriei Estér,decerto é porque não chegou a hora!Não chegou-lhe as devidas circunstâncias!... ora!Nao queiras precipitar-te!Por isto aviso-te:se tú ficares nesta lenga-lenga,aborrecendo--me com estas cobranças estapafúrdias,malditas e teimosas,odiosamente obstinadas,sabes quando ireí alforriá-la?!Mas é nunca!Tú sabes disto!-a diz em tom ameaçador e autoritário,apontando o dedo em direção ao vosso rosto.
Estér então levanta-se e pondo-se em lado oposto ao da cama,ficando de frente para o marido,o afronta,sem largar o crucifixo,em momento algum.
-Eu jamais serei submissa à esta tua idéia torpe,mórbida e medíocre de continuar mantendo a escravidão de Isaura!-o dispara.-Por isto enquanto tú não a alforriares,eu jamais terei paz na minha vida,como eu prometi àquela alma que a colocou no mundo,um dia!-roga.
-Ah é,então tú me afrontas Estér!Te atreves a afrontar o teu marido por causa de uma escravinha destas?!Então sabes o que fazes?!Vista-te como uma escrava e vá morar com ela numa senzala!-ironiza,continuando a dar o seu espetáculo de grosseirices.
-Pois eu não aguento mais Almeida!-o diz,Estér.
-Eu é quem não devo suportar mais Estér!Tú vives rogando esta rebeldia de querer libertar Isaura!Mas enquanto eu for vivo(bate vigorosamente no peito) não a libertarei!-a confessa.-A não ser que seja riscado do livro dos viventes antes de ti!Aí sim!Tú podes dar "Glórias aos Céus"!Mas enquanto o "Anjo" não abaixar os braços para anuncíar a minha morte aqui na Terra,Isaura continuará como uma escrava,como uma escrava,ouvistes?!-brada,implacável.
Até que venha a surpreendê-lo com a seguinte revelação.
-Pois saibas tú que eu já escrevi uma carta ao "Governador do Império" para que libertes Isaura,se tú não o queres!-o confessa o ato bombástico.
-O que?!Tú fostes capaz Estér,de tamanha subversividade?!-exclama,estupefato,indo até ela e novamente sacudindo-a,ao pegá-la fortemente pelos braços.
-Fui!-o confessa,com coragem,cara a cara,face a face,no que é imediatamente e novamente lançada sobre a cama,dando continuídade às suas rebeldes palavras.-E tú desta vez não escaparás de a alforriar!O Governador é de uma hierarquia superior a tua!Por isto ele pode te obrigar,à alforriar Isaura!Eu mesma o sugerí que fosse feito um convite para Isaura tocar harpa em um sarau que será feito no seu palácio,o "Palacete Imperial",na "Província de Petrópolis"!E sería de lá que Isaura tería concedida a sua liberdade,recebendo das mãos da mais alta estirpe sua carta de alforria!-o comunica,muito surpreendente,na frente do marido,após este tê-la jogado na cama,e imediatamente levantando-se para pôr-se diante dele,no outro lado do leito,voltando à mesma posiçao,mas oposta,da de antes.
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