segunda-feira, 3 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA".CAPÍTULO 14:

Enquanto em solo português Leoncio satisfaz as suas taras,esbanjando sem menor piedade o dinheiro que o pai o envía para estudar,desfrutando-o com prostitutas portuguesas,em território brasileiro o Comendador Almeida Prado nutre a ilusão de que o filho voltará para casa formado da Europa,como um brilhante advogado.Mal sabe que o esperto filho já comprara em Coimbra,outra cidade portuguesa,um diploma falso,tornando-se um rábula.
Mas voltemos à Isaura.Ela e a madrinha Estér chegam à fazenda dos pais desta em Campos dos Goytacazes,no interior do Rio de Janeiro.
-"Fazenda Santa Cruz"-lê Estér a placa fixada na porteira.-É aqui!Chegamos, Isaura !-a anuncía.
Quando se vê Estér e Isaura são recebidas pelo Barão Alvarez da Cunha e a Baronesa Esterlina da Cunha.
-A benção meus pais!-os pede,Estér,estendendo-lhe a mão.
-Deus a abençõe,nossa filha!-dizem ao mesmo tempo os pais dela,beijando cada uma de suas mãos.
-Mas que ventos trazem-na aqui,e acompanhada de Isaura!-a indaga sinhá Esterlina,após pegar o seu leque,abrí-lo e abanar-se,em pé,no ambiente da sala.
-Exatamente a liberdade de Isaura,minha vossa mãe e meu vosso pai!-a responde,Estér.-E por causa dela fui defenestrada de casa!-os revela.
-O quê,Estér?!-espanta-se sua mãe,fechando o leque.
-É isto que acabaram de ouvir!O Almeida expulsou-me de casa porque escrevi ao "Governador"
 solicitando a liberdade de Isaura!-os explica,novamente.
-Mas minha filha,fostes capaz?!-a exclama,indagando-a ao mesmo tempo o vosso pai.
-Decerto!Caso ao contrário,aqui não estaria presencialmente diante de vós!-o responde.
-Bem-feito para ele!Há tempos tinha esta dívida para contigo,não a saldou e por isto tú o afrontou!-a diz sinhá Esterlina.
-Exatamente minha mãe!Satisfação em protelar por diversas vezes Almeida teve,e por diversos anos eu consegui,eu consegui mamãe e papai,afrontá-lo,cobrando a carta de alforria desta pobre menina!Só que ele sempre obteve subterfúgios para fugir à sua responsabilidade,e a ver navios deixar-me!Não mais suportei,e por isto o deixei!-os desabafa,índo até a mãe e ao pai para abraçar-lhes,chorando.
-Não chores mais minha filha!Não chores mais!Aquele insensível não merece uma gotícula de tuas lágrimas!-a conforta,Esterlina,passando as mãos nos cabelos da filha.
Enquanto ao seu pai,Barão Alvarez,a dá carta branca.
-Justíssimos argumentos de tua mãe o são,minha filha e os teus também!Por isto podes contar com o nosso apoio familiar!-a apóia,incondicionalmente.
-Pois não haveria ato mais nobre do que este:afrontar ao marido,e ser expulsa de casa em prol da liberdade de Isaura!-a elogia,o barão.-Que há muito devería ter sido despojada de sua condição de escrava,visto que esbanja tanta beleza e dotada da educação mais-do-que esmerada!-observa,em sua crítica construtiva,enaltecendo as virtudes de Isaura,que neste momento,cabisbaixa,o balbucía um "Muito obrigada!"
-E não é meu pai!Por isto que estou aqui,e das mãos do "Governador Imperial" Almeida será obrigado,a concedê-la a tão desejosa liberdade!-completa vossa filha,Estér.
-Portanto minha filha!Podem considerar-se,você e Isaura,como duas novas moradoras de estirpes bastante especiais,aqui em nosso território domicíliar!Sejam muito bem-vindas e estejam sempre bem muito à vontade!A casa é vossa!-diz sinhá Esterlina,apoiando a filha,tanto quanto o marido.
-Valdôra,leve-as até os vossos aposentos,por obséquio...-ordena Esterlina,educadamente,para com a sua mucama,uma escrava branca do nariz achatado e cabelos carapinhados,filha de um senhor branco com uma cativa negra do Piauí.
-Sim sinhá!E com muita satisfação!-dá-se os vossos préstimos.-Senhora e senhorita acompanhem-me,por favor...-as conduz,Valdôra,mostrando portar bastante educação tanto quanto sua proprietária.
Enquanto isso na fazenda "Santa Estér",uma tal de escrava Rosa fala mal de Isaura na sala de bordar,diante de outras escravas.
-Viram vocês...a escrava com topete de princesa não botou mais os pés aqui na fazenda...Agora ela só vive na Província,rodeada dos privilégios daquela casa...-comenta com olhos-gordos e fazendo dobradiça em seus lábios venenosos,com muita inveja,enquanto borda um guardanapo lilás.
-Tá com inveja,Rosa!Deixa a Isaura pra lá!Ela não vive a mesma vida que nós!É especial!E ainda nem se lembra que tú existe,nêga espinhosa!-é franca a escrava Ieda Neuza para com a colega invejosa,Rosa.
Rosa levanta-se,e com o bordado, a fala.
-Inveja nada!Eu não tenho inveja de ninguém!Eu fico é revoltada porque ela quer ser especial,e não é nada!É só uma escrava como nós,mas cheia de frescura como só ela é,só porque nasceu loura,branca e dos olhos azuís,mas filha de uma índia paraense com um feitor lá de Minas!...-vomita seus argumentos invejosamente ácidos.-Mas ela teve foi muita sorte,porque se tivesse nascido índia como a mãe,tava aqui,escrava no meio de nós,ou vocês acham que "inhá" aceitaría uma "bugri" pra "adotá"!Claro que não!Só resolveu isto porque ela nasceu galega,como uma alemã,uma portuguesa,uma gaúcha "dú diabú"!Também pudera,puxou pro pai!Mas não deixa de ser escrava!Nasceu como escrava,vive como escrava de casa e vai morrer escrava,porque "Comêndadô" Almeida nunca vai libertá-la,é!É porque eu tenho fé em Deus que isto nunca vai "acontêcê"!-fala bastante mal de Isaura,praguejando-a.
-Má!Cala-te boca Rosa!Nao mete não Deus nestas tuas "história" que "falá" mal dús "outro",ter "invejas alheia" e "praguejá os outro" não é de Deus não!O certo sería tú dizer ter fé no "diabú",porque esse sim,"Cruz-Credo"(faz o "Sinal-da-Cruz") pode "ti ajudá",porque tú é do mal!-é novamente franca a escrava Ieda para com a colega Rosa,no que ao término de sua franqueza ouve-se  o barulho de um trovão,assustando as escravas na sala de bordar.
-Viu Rosa!Confirmô!É Deus "ti" ralhando!Ou tú pensa que Ele(aponta para o Céu) gosta dos teus "pecadú"!Por isto Rosa,cuidado minha fiá,muito cuidado que a mao de Deus é pesada!Ele nao dorme!Presta bem atençao!Hum!-a alerta para a realidade.
-Axi!Vixe!Vá "cortá" cana Ieda Neuza,e vê "si mi isquecí" sua "inxirida"!...-retira-se Rosa,furiosa,da sala de bordar.
-Inxirida,eu!Olha quem fala...Até parece...Inxirida é ela,que vive com o nome da Isaura na boca!A Isaura é doce na língua amarga de fel dessa daí!Vixi,nunca vi!É uma inveja danada,dessas de "botá" fogo em casa de palha!E olha que inveja mata!Deus proteja Isaura,esse anjo bom!Livra ela da língua perversa desta "mulhé"!...Hum!-desabafa,Ieda Neuza,com bastante razão.



























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