sábado, 1 de junho de 2013

Uma Outra Escrava Isaura-Capítulo 05

Mãe Joana alevanta-se e depois que coloca o defumador atrás da porta principal da chácara residencial rural,a solicita algo que muito aprecía:ouvir leituras e histórias.
-Agora Isaura lê pra mim a continuação da história daquele livro vermelho,daquela língua que eu "num" sei é nada,mas "quí" tú sabe lá da Espanha!-a pede, ao mesmo tempo que Isaura levante-se,e sua mãe-de-leite enxugue-lhe as lágrimas com um lenço verde.
-Sim senhora Mãe Joana!Vou lê-la sim!Afinal eu "hablo" o espanhol,sim!Deixe-me recuperar,que a vida é uma dádiva grandiosa de Deus!Então enquanto há vida,há muita esperança!-volta a sorrir.-Leio um pequeno trecho de cada parágrafo literário em espanhol e na sequência traduzo ao português para você!-e pega o livro sobre a ponta da mesa da sala,e o lê para Mãe Joana que está sentada em mesmo recinto, agora no sofá,enquanto Isaura efetua a leitura e ao mesmo tempo balançando-se na cadeira de balanço.O livro é fictício.Só existe aqui.O nome dele é "Corazón di Mujer",ou "Coração de Mulher".Ela o lê,já o traduzindo para o português,diante da presença de Mãe Joana.
"Apaixonada por Camericho,Doña Sol abandona o noivo,Juan no altar,após entregá-lo uma vela em mãos,pedindo-lhe perdão por abandoná-lo no altar,pois sem o amar não pode-se com ele casar,pedindo-o que retire-se da paróquia divina e ceda o seu lugar para que o seu verdadeiro amado,Valentim,substitua-o no altar,pois a esse a quem deverá matrimoníar-se,e com ele,por toda a vida,o acompanhar,até que a morte os faça separar...",o traduz,Isaura,à Mae Joana,que ao término da leitura,a elogia.
-Muito bonito minha fiá!Muito bonito!Adorei!A cada leitura desse livro tú me deixa com os olhos "cheio" d'água!-confessa,ela,emocionada.
-E eu também Mãe Joana!E eu também!Por dentro eu fico toda emocionada!Demasiadamente emocionada!...-confessa,levando o livro aberto,diante do peito.-É um habilidosíssimo dramalhão espanhol muito bem elaborado!Daqueles de tirar-nos lágrimas dos olhos e enfeitiçar os nossos ouvidos!-a explica com belas palavras,enchendo de admiração a velha escrava,que vê em Isaura uma perfeita professora.
Detalhe:todas as vezes que Isaura ler este romance,ao mesmo tempo mostrar-se-à as ações vividas por suas personagens,na cabeça do leitor.É como se fosse uma novela literária dentro de outra novela literária.O que significa que Isaura acabando de ler o folhetim em português,as personagens dialogam em espanhol,vivendo um pedaço da história que Isaura acabou de narrar.Pára na sequência Isaura e Mãe Joana regressarem até a cozinha preparar o almoço de ambas.Como pode-se ver esse é um capítulo de lembranças e imaginações.O tempo passa.É 5 horas da tarde.Isaura convida novamente Mãe Joana para uma nova sessão de leitura na sala.Desta vez a declama uma poesia de sua própria autoria,como fala.
-Mãe Joana,agora eu vou lêr,lêr não,mas declamar uma poesia que eu própria escrevi.Veja se é bonita e se eu a declamo bem...-a revela,de pé,enquanto Mãe Joana está sentada sobre o assoalho,e balança a cabeça,querendo ouví-la declamar.
-Mãe Joana!Pois bem!O nome do poema é "A Liberdade".Vou lê-lo e declamá-lo agora...-a comunica,portando um pedaço de papel nas mãos.-"Oh,meu Deus!Livra-me do cativeiro da ansiedade!Dê-me amores,sempre,sem confusão!Dai liberdade ao meu coração!-ajoelha-se Isaura,como forma de oração.Continuando a declamar seu poema.-Enquanto caminhos percorri enlaçados pelos desnorteios desta vida!A minha vivência levou-me à sala de espera de tanta ansiedade!Vivi,implorei,supliquei!Foram milênios de paciência!Desembocando num rio de esperança e bem-aventurança,dos amores desgarrados!Crucígera a minha ansiedade carreguei!Que os ventos do sofrimento quase derrubaram!E que só não decaí porque sempre segurei nas mãos de Deus!Meu maior guia,meu maior mestre!Que então conduziu-me ao Paraiso!Apresentando-me a visão deste...Eis-me que assim vi-me assentada sobre um rochedo,na entrada de uma gruta,uma revoada de pássaros,ah pássaros selvagens,que revoavam um Céu azul,ora iluminado pelo Sol,ora estrelado pela Lua,que para completar fantástico espetáculo de apelo magnificamente visual,surgira o "Arco-Íris" duplo cruzando aquelas montanhas!"A Liberdade" é a felicidade!Que um dia de tanto tú procurar,tú haverás de achar!Deus então revelou-me,lá do alto dos Céus!E caí em choros de alegria!Meu Pai é muito bom e jamais deixará os seus desamparados!Amém e muito obrigada!-acaba,assim de ter a sua poesia,declamada.
-Muito bonito!Lindo,lindo,lindo,Isaura!-diz Mãe Joana com os olhos cheios d'água,enquanto a cativa branca enxuga-lhe as lágrimas com o mesmo lenço verde que traz nas mãos.

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