sábado, 1 de junho de 2013

Uma Outra Escrava Isaura-Capítulo 01

A escrava idosa Mãe Joana  aproveita que "inhá" Estér e o Comendador Almeida Prado retiraram-se para o engenho localizado geograficamente na "Província de Campos dos Goytacazes"no Estado fluminense,região Sudeste do Brasil,para adentrar a sala e dali fazer uma defumação geral sobre os demais cômodos da vivenda colonial dos seus senhores,empunhando o defumador de metal em cujo interior estão sendo queimados em brasa o preparado de ervas místicas,misturados ao incenso,benjoim e mirra,proferíndo as seguintes palavras:
-Que esta fumaça em nome de Deus espante todos os maus espíritos e traga "muita coisa boa" para esta casa!-diz enquanto defuma e ao mesmo tempo faça o "Sinal-da-Cruz".
Neste momento Isaura está debruçada sobre o seu oratório,rezando o "Pai-Nosso",segurando o seu terço de madeira e belissimamente vestida com um longo vestido vermelho,usando longas tranças louras.Forma-se uma pequena tempestade,caíndo uma chuva fina sobre a Côrte.Mãe Joana bate na porta.Isaura abre-a.A cativa pede-lhe licença.
-Tá na hora de defumar,minha Isaura!-a avisa.
Com docilidade extremada Isaura consente-a que faça a defumação em seus aposentos.
-Claro Mãe Joana!Você sabe que eu e a madrinha sempre apreciamos vossas defumações,as quais sinto trazer uma atmosfera de proteção e limpeza astrais,grandiosas para com esta vivenda!-reconhece,Isaura,sorrindo,envolta em uma aura simpática e entusiástica.
-Axé,minha "fiá"!Axé!"I num é"!Com ela eu tiro as sujeiras,fazendo uma descarga!E que descarga!Os piores inimigos Isaura são os invisíveis,que nós não podemos olhar,mas podemos sentír aprenda isso comigo!-a ensina,Mãe Joana.
-Eu sei Mãe Joana!É por isto que eu rezo por todos os dias,por todas as noites para Deus lhes tirar e  eles em nada nos perturbar,afinal bem sei que se existem anjos,existem demônios!-acrescenta Isaura,fazendo o "Sinal-da-Cruz".
-Mas "sí existí",ó!-pega num dos olhos.-"Tão amarradú" em nome de Deus!-faz o "Sinal-da-Cruz" também.-Faça-me o favor Isaura de ír abrindo "as janela pras fumaça saí" e "ús mau ispiritú í imbora" daqui!-a  pede.
-Sim!Claro Mãe Joana!-e atende,Isaura,prestativa,à vossa solicitação.
Até que acabe de defumar a vivenda quando o quadro emoldurado do pequeno Leoncio quebre inexplicavelmente na parede da sala,caíndo sobre o chão.Tanto Isaura quanto Mãe Joana acham muito estranho,assustando-se ambas com o ocorrido.
-Eu nunca vi Isaura isto na minha vida!E olha que eu não sou nova!Isso pra mim é obra do "capêta",que voltou "dús infernú" com raiva,porque eu expulsei com a defumação os "filho" dele,que "tavam" nessa casa!-diz a experiente escrava,com os olhos quase saltando-lhes da face.
-Meu Deus!-pega na boca,Isaura,assustada.-Nossa Senhora desterre!-faz o "Sinal-da-Cruz" a escrava doméstica com ares de princesa,entremeados com os de santa branca e loura.
--Já desterrou minha fiá!Já desterrou!Pra fora daqui esses "ispiritú" botou!-faz o "Sinal-da-Cruz",também.
-Amém!-roga Isaura.-Deixe-me pegar o retrato.É do "inhôzinho" Leoncio!-prontifica-se a cativa.
Ouve-se o estrondo de um trovão.
-Êitha,como dizia a minha avó Santa Maria Êurita,que "Deus tá arredando os moví" lá no Céu!Esse foi pra "pertubá" a paz do mundo,Isaura!...-diz Mãe Joana,referíndo-se não só ao trovão,como também a Leoncio.
-O trovão Mãe Joana...-a indaga,Isaura.
-Nao só o trovão,mas também esse que acabou de caír da parede!...-a revela.-Lembra-se Isaura como esse menino era uma peste!Ele chegou "inté" um dia "colocá" uma venda nos teus "olho" pra "ti" dá um beijo "rôbadú"!Lembra minha fiá?!Lembra,Isaura?!-a indaga.
Isaura a responde balançando a cabeça em sinal de afirmação,pára na sequência,olhar fixamente para o retrato do "encapetado",recordar desse dia,fechando os olhos.Flash-Back(Revivendo Isaura deste facto em sua memória portentosa e eficaz)
Uma nuvem branca chega em sua memória trazendo à tona tal lembrança...

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