quinta-feira, 27 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA"-CAPÍTULO 33:

Isaura é presa.Álvaro,Seu Jocelino,André e Maria José também,abordados por milicianos no quarto de hóspedes.Leoncio é obrigado a regressar imediatamente ao Brasil,novamente com os seus prisioneiros.No entanto,apesar de toda esta circunstância escabrosa,Altônia e Adelaide abraçam-se,chorando.Uma diz para a outra.
-Adelaide,que fatalidade!-a diz,Altônia.
-Ah,Altônia!Quanta infâmia!Isaura não merecia isto!O que há de errado em uma pessoa de excelente carácter que só busca a felicidade?!-questiona,imparcialíssima.-Não há nada de errado,absolutamente nada!Pelo contrário!Ela só está a fugir de uma triste sina da vida,deplorável e arcaica para com os direitos humanos!...-opina,Adelaide.
-Sim,minha amicíssima!É verdade!Absolutamente vergonhoso!A minha nação é o único país do mundo a manter a escravidão!Isto é torpe demais!...-acrescenta Altônia e a concorda.
Desta maneira,o "Barão de Aguinava" e a filha Adelaide,somente são condenados a pagar uma multa por terem abrigado uma escrava foragida.Altônia pede-os mil perdões,pois jamais imaginaría trazer consigo o algoz de Isaura.
-Se eu soubesse que tú virias de supetão acompanhada deste infâme do teu irmão,com convicção,Isaura seria avisada,teria fugido e não sería recapturada!-a diz o "Barão",dando baforadas em seu cachimbo de ouro,sentado na cadeira de balanço,enquanto escutam um fado português na vitrola.
-E se eu soubesse que Isaura estivesse aqui,jamais teria trazido Leoncio!Teria guardado segredo!Mas porque Adelaide,nao me contastes?!-a indaga,Altônia.
-Não contei-te,não vás pensar que foi por falta de confiabilidade!E sim pelo facto de que a carta poderia ter sido extraviada,ou por alguma outra imprevisível circunstância Isaura ter sido vitimizada...-justifica.-Mas nada valeu!Aconteceu o que tinha de acontecer,e não podemos mudar isto,jamais!...-responde-a,Adelaide,resignada.
-Mas é!Não deu outra!Tinha de ser assim...Infelizmente assim o foi,e nada poderemos modificar...Só nos resta lamentar e rezar para que Isaura possa finalmente a felicidade encontrar...-concluí,também conformada,Altônia,fazendo o "Sinal-da-Cruz".
E o vento leva o tempo,o mesmo passa.Quando se vê Álvaro é beneficiado novamente por um "Habeas-Corpus",no Brasil,podendo aguardar o seu julgamento em liberdade,mesmo sendo um reincidente.Pelo mesmo sistema,Seu Jocelino e Maria José são beneficiados,auxiliados por Álvaro que financiou-lhes suportes jurídicos..Daqui a uma semana todos serão julgados por terem ajudado na fuga da escrava e a acompanhado.André é assenzalado e condenado a trabalhar na lavoura.
Só que o golpe de misericórdia mesmo é quando Leoncio,agora separado de sinhá Vera,que abandona o lar,voltando para a casa do irmão,Henrique,requerer à Justiça que julgue Isaura,decidindo se vão absolvê-la ou condená-la ao casamento obrigado com o jardineiro corcunda,Belchior,pelo vilão pleiteado,alegando que ela casou-lhe muitos prejuízos materíais e emocionais,ora impetrados por suas quatro fugas consecutivas.
-Pensando melhor a melhor forma de pagar-me a indenizaçao é casar-se comigo!-dita o crápula,sob sorriso malicioso,decidindo que até o dia do julgamento de Isaura,a enclausura em seu quarto de luxo,dando-lhe tudo de bom e do melhor,porém privando-a da liberdade,a essência de qualquer ser humano.
-Muito pior do que estar aqui enclausurada é estar longe de meu grande amor e de meus pais e a proximidade da sentença catastrófica que certamente a "In-Justiça" no julgamento irá imputar-me,só pelo fato de querer usufruír de minha liberdade!Eu sinto...Eu sinto que um destino infeliz a mim,ali será sentenciado!-profetiza.-Não permita oh Deus e todas as 11.000 Virgens!Não permitam esse dia,que sería o mais infeliz para mim!-implora.-Preferiría que tirassem-me a vida e levar-me para o "Céu" do que com esse homem(referíndo-se a Leoncio) casar,como ele agora,vive a me ameaçar!Sería o mesmo que casar-me com um demônio,em cenário infernal!Eu desconjuro!-diz ela,ajoelhada diante do oratório.-Mesmo porque não o amo,nunca o amei e jamais o amarei!Muito pelo contrário:só consigo desprezá-lo,odiá-lo!É como se não existisse para mim!...-confessa,chorando.
É aí que Leoncio muda de idéia...Com a chegada de sinhá Vera.
-Não poderá processar-me por abandono domicíliar,pois acabo de voltar,o de retomar o meu lugar neste lar!...-chega,altiva,e com ares de guerreira,segurando um chicote.-O espetáculo acabou Leoncio!Nunca com a Isaura hás de casar,a não ser que a morte possa nos separar!...-o fala,dando uma chicotada no assoalho.-Se és um leão do mal eu posso domá-lo!Nem que eu tenha de arrancar a minha própria pele e oferecê-lo num prato!...-termina de afrontá-lo,com cabeça erguida.
-Agora dê-me a chave do quarto,antes que eu mesma dou-te uma surra!-o ameaça.-Não desafie-me,pois sabes do que sou capaz!...-o intimida,a corajosa sinhá.
Até que ela ao abrir a porta,tome uma surpresa inesquecívelmente desagradável:Isaura está amarrada ao tronco que Leoncio mandou construír especialmente para ela no seu quarto.Um ato absurdamente reprovável.
-Meu Deus!Quanta truculência,maldito!-o fala,com ódio,ao mesmo tempo,negativamente surpreendida..-Seu ignóbil,cruel e imoral!Até que ponto tú chegastes?!Eu nunca vi isso em toda a minha vida,como eu estou vendo agora!-espanta-se,indignada.-Gênio do mal!Mandar edificar um tronco em plenos aposentos nossos de luxo da casa-grande para castigar uma pobre mulher!Isto é torpe demais!-o dá o primeiro tapa.-É inaceitável demais!-o dá o segundo tabefe.-É inadmissível demais!-o desfere o terceiro.-É covarde demais!-dá-lhe o quarto.-Seu biltre!-e termina-lhe por dá-lo o último tapa.Assim foram cinco tapas totalizados no rosto cínico de Leoncio,após Vera,como uma feiticeira,te-lo hipnotizado com o olhar e com um estalar de dedos,após esbofeteá-lo,fazê-lo tornar a sí.-E ainda obrigá-la a encher-se de jóias,mesmo vestida de escrava!Que horror!Que horror!Alto lá,que vós mercê já vai ver o que eu vou fazer!-avisa-o,revoltada.
Quando se vê,após livrar-se do chicote,sinhá Vera traz nas mãos uma picareta e um facão.
-Não Leoncio,eu não vou te matar!Mesmo porque não valería a pena jogar a minha alma no inferno por vós!Mas a Isaura eu mesma faço questão de a libertar!-e corta as cordas com o facão.-E enquanto a isto,eu vou demolí-lo e é pra já,pois aqui não é definitivamente o seu lugar!-e desfere várias picaretadas no tronco feito com areia e cimento.
O ódio faz com que sinhá Vera tome por demolir o objeto.
-Agora eu faço questão que Rosa possa estes entulhos carregar!-decide,ordenando a escrava-amante do marido que faça a limpeza completa no quarto.
Como é de praxe,Isaura devolve o colar de diamantes,as pulseiras de esmeraldas com os anéis de ouro para sinhá Vera e que Leoncio obrigou-a usar,amarrada ao tronco edificado no quarto,como se estivesse cumprindo pena como uma escrava de luxo,chegando a dar-lhe frutas finas na boca,e até obrigando-a tomar champagne na taça de ouro e a comer caviar,dizendo-a.
-És a minha escrava-rainha!...-chegou a intitulá-la.
Sinhá Vera pede a Isaura que retire do corpo as vestes de escrava,e volte a vestír-se como uma sinházinha para que torne-se cuidadora durante vinte e quatro horas de Comendador Almeida e sinhá Estér,que encontram-se entrevados numa cama,incapacitados,revezando-se como acompanhante do casal com a escrava Iraci.Podendo,inclusive,voltar a gozar de seus passeios matinais junto a Virgi Santa.Detalhe:sempre acompanhadas do feitor Cipriano,mandado por Leoncio para vigiá-las e assim evitar uma quarta fuga da escrava.
O tempo passa rápido.O julgamento de Isaura,Seu Jocelino,Maria José e Álvaro-no qual todos aguardaram-no em liberdade-chega o dia de ser consumado.O primeiro a ser julgado é Álvaro,que logo é sentenciado.
-Nao poderei condená-lo à prisão...No entanto imputo-lhe ao vosso casamento com a escrava Isaura a anulação!Pela lei eu decreto o fim do casamento de vocês!-sentencia o juiz,batendo o martelo.-E também condeno-o a indenizar o senhor Leoncio de Almeida Prado de Guaianazes,por 50 contos de réis pelo crime de lesa-patrimônio,pelo fato de ter fugido com a vossa escrava!E tê-lo assim causado prejuízos,tanto morais,quanto materiais!...-o comunica.
Agora vêm a sentença de Seu Jocelino e Maria José.
-Vós mercês também cometeram o crime de lesa-patrimônio,por também ajudarem e estar em companhia de fuga da escrava!Assim como não podem pagá-lo com patacas,podem pagá-lo com trabalho,muito trabalho!Declaro-lhes assim como novos escravos da lavoura açucareira da "Fazenda Santa Genoveva"!-os imputa a pena,enchendo os olhos de Isaura,do próprio Álvaro e dos próprios Seu Jocelino e Maria José,de lágrimas.
-Eu protesto,Vossa Excelência!Este monstro é quem deveria ser julgado e sentenciado!-diz,Álvaro.
-Protesto negado!Não foi o senhor Leoncio quem roubou vossa escrava e sim vós mercês os autores do fato!Assim mantenha-se calado,se não quizer que o mande prendê-lo por desobediência!-o ameaça.-Aliás,para isto evitar vou obrigá-lo a se retirar!...-decide,o juíz.
Desta forma Álvaro é retirado da sala do plenário.Como era de se esperar antes que o juiz profira a sentença de Isaura,sinhá Vera decide manifestar-se em favor da amiga.
-Vosso árbitro magistrado!Dê-me a liberdade de falar!...
-Sim,sinhôra!Manifestação concedida!Pode falar!-permite-a.
-Eu faço jus ao que fôra momentos antes protestado!Fazendo-lhe outros acréscimos!O querelante é o meu marido!E eu mesma por isto posso testemunhar,que ele é o algoz dela,e não ela a algoz dele,como está sendo equívocadamente interpretado!Isaura é sobretudo a vítima e ele próprio o carrasco!Desta maneira,sob forma concisa,não tendo-lhe como vos provar as minhas palavras,e sim através de testemunhas,todos sabem que Isaura é somente uma escrava em busca da felicidade,propicíada pela vossa liberdade!E liberdade esta que Leoncio não quer dá-la porque ela não o aceita como ele a deseja!Por isto vosso juíz,peço-lhe com toda a humildade de uma serva indignada com tamanha brutalidade de meu marido em negá-la a liberdade,que a sentença justíssima sería a de absolvê-la,obrigar a Leoncio dar-lhe a carta de alforria e ainda obrigá-lo a indenizá-la por tantas humilhações e ofensas,promovidos por seus constantes e torpes assédios para com ela!...-suplica-lhe ajoelhada.
Só que o juiz comporta-se indiferente às sugestões e denúncias dela,retirando-se para ter um particular com Leoncio.
-O meritíssimo há de convir que Vera está revoltada pela fato da amiga,a quem afeiçoou-se bastante,por estar sendo julgada!Mas isto não importa!Não interessa-me!Só são meras palavras,arremessadas ao vento e nada mais!Mas enfim,como havíamos combinado,o senhor meritíssimo também há de convir que Vera é com quem diante de Deus e da Madre Santa Igreja,matrimoniei-me!E segundo consta terei que obedecer à prerrogativa epíscopal de "até que a morte nos separe!"...Enfim,diante da sua decisão,de regressar ao nosso lar,já sei com quem Isaura deverá se casar!Aguarde-me e daqui a trinta minutos,trago-lhe o sortudo!...-o pede,retirando-se até a sua chácara,na "Côrte" para buscar a Belchior,o corcunda que será o marido por imposição de Isaura.
-Senhoras e senhores!Apresento-lhes um breve intervalo de trinta minutos...-os anuncía.-Queiram por obséquio,ao aguardar o cerne deste julgamento...-retira-se por um momento.
O julgamento recomeça.Leoncio quer causar grande surpresa,escondendo a Belchior em um manto negro.O Juiz sentencia,ao mesmo tempo que uma chuva torrencíal caí sobre a Côrte fluminense.
-Escrava Isaura eu vos sentencio,como forma de indenizares os prejuízos praticados contra o seu senhor Leoncio de Almeida Prado de Guaianazes,causados pelas quatro fugas da cativa,a casar-se com o jardineiro Belchior Beato da Silva Ramos!-a anuncía,ao mesmo tempo que Leoncio retira o manto negro que encobre Belchior,e também quando consuma-se o desmaio de Isaura,amparada pelo futuro marido.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

'UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA":CAPÍTULO 32:

                          Na sequência um sarau marcado por incidentes...
Viscondessa tira Leoncio para dançar,tascando-lhe novo ósculo na frente do público no salão,mostrando sua má reputaçao na frente de todos.Sinhá Vera derrama um balde de prata cheio com champagne e gêlo sobre os dois,retirando-se em companhia do irmão,Henrique,que claro,reprova bastante o ato do cunhado,levando-a para a chácara da família na Côrte.
-Eis o preço que paguei meu irmão,casando-me com um homem de moral chafurdada e devassa!-põe-se a lamentar.-Chafurdada estou eu na lama da amargura...Não por amá-lo e sim por envergonhar-me na frente de todos!...Flecha-me com um desrespeito vil e impiedoso,mas não dou-me por vencida!Se ele quer jogo,boas jogadas terá!Pois a uma ótima adversária ele se digladiará e não a derrotará!Biltre pústuloso e safado...-queixa-se,sinhá Vera,deitada,no sofá da sala,cuja cabeça encontra-se apoiada por cima da perna do irmão.
Aliás o retiro de sinhá Vera favorece as circunstâncias para a prática de um novo ato de adultério por parte do marido,pois assim que retira-se enfurecida,Leoncio e a Viscondessa sobem as escadas de mãos dadas para o andar superior da casa-grande da própria,onde em seus aposentos acontece o primeiro relacionamento íntimo entre o casal.
Agora Leoncio fala abraçado à Gilberta...
-Como aguardei por este momento!A amante rica,nova,viúva e ardorosa!Que todos queriam ter ao seu lado!Como sou privilegíado!Sinto-me um homem muito invejado!-comemora ele,enquanto brinda na cama com a Viscondessa,bebendo os dois champagne francês em taças de ouro.
Porém nem mesmo a amante desviará o vilão de sua vil obsessão:o de possuír Isaura,agora uma escrava grávida e casada com um rico e benevolente abolicionista,mesmo que pelas ingratas circunstâncias esteja dele,separada.
O tempo passa e Leoncio encontra-se deitado ao lado de Rosa,quando esta dá-lhe uma sórdida e absurda idéia,para castigar ainda mais a Isaura.
-"Purque vossuncê",meu, "amanti" não casa Isaura com "ú jardineirú"?!É,só assim tú castiga mais ela,aquela praga!...-o sugere.
Leoncio aprova a sugestão de imediato,fumando seu charuto.
-Boa idéia,Rosa!-a elogia,sórdido.-Só assim posso duramente castigá-la!Já que não pára de rejeitar-me!-concluí,como sempre,tomado pelo espírito sórdido.
Até que venha a tomar uma decisão:soltará Isaura,livrando-a do pesado grilhão de ferro,que com correntes aprisionam-na a uma pesada bola de aço,castigo este chamado de "Vira-Mundo",como consta no dicionário.
Para vigíar Isaura durante 24 horas,Leoncio contrata o escravo André,até então seu cochêiro.E como sem ninguém saber,ele é namorado de Virgi Santa,esta mantém contato com sinhá Vera,avisando-a da decisão de seu marido para com Isaura.Vera,por sua vez,avisa a Álvaro,que trata logo de escrever uma carta romântica para a amada entregue a Vera,que a entrega à Virgi Santa,que a dá para André entregar,sem ninguém saber,para Isaura a ler.
Desta maneira,por trás do "Bacurízêiro dos Sonhos",André,às escondidas,dá a carta para Isaura.Só que Rosa tinhosa os surpreende,quando o escravo deu à Isaura a carta que foi envíada por Álvaro,chegando na hora.Rosa quer tomar a carta à força da cativa e as duas brigam com puxões de cabelos e rolando-se pelo gramado.André segura Rosa.Surge Leoncio empunhado de sua arma,montado em seu cavalo.Ele vocifera:
-Eu ordeno que largue ela ou eu lhe mato escravo safado!-grita o vilão,apontando-lhe a arma.
-"Issú nhô-nhô"!"Êssi" escravo safado deu uma carta do "sinhô" Árvaro" para Isaura!Eu vi "purque" cheguei na hora e "nóis" até "briguêmú" porque eu queria lhe tomar a papelada para "ú nhô-nhô intregá"!...Mas ela "num mi" deu e nem "esse inxiridú quis deixá"!...-os delata,a escrava.
Do alto do cavalo,Leoncio exige que Isaura entregue à Rosa a carta se ela não quizer ír para o tronco viver novamente as 3 horas de agonia.Isaura fica paralisada,até que Rosa venha até a ela,rasga-lhe o vestido e tire a carta que estava escondida em sua mama.Isaura caí em cima dela,furiosa.
-Tú levas a carta,mas também a lição que dou-lhe agora!-e começa a agredír Rosa com tapas,após pegá-la pelos braços e derrubá-la sobre o gramado.
As duas voltam a rolar-se pelo terreiro,sob puxões de cabelos e arranhões.Isaura cospe-lhe na cara,dá-lhe uma violenta bofetada e rasga a carta em pedacinhos.Até que Rosa voe em seu pescoço querendo estrangulá-la,mas André livra Isaura de suas garras.
-Segure Rosa,escravo, senão quizer morrer!-ordena-lhe Leoncio,voltando a ameaçá-lo com a arma.
-Como castigo,Isaura,pelo recebimento às escondidas do bilhete,pelas mãos deste escravo safado,pela carta do maldito Álvaro e pela briga com Rosa,tú vais ter os dois pés amarrados por esta corda e serdes arrastada até a fazenda!Tú e este escravo!-decreta,tiranicamente,Leoncio,que enlaça as pernas de Isaura,para arrastá-la pela mata,obrigando André,ao mesmo castigo,sob a mira do revólver.
Rosa,debocha,enquanto arranca um pedaço de mato e o põe no ouvido direito,para limpá-lo.
-Bem feito!-e gargalha,ao mesmo tempo que aparecem urubús sobrevoando o "Céu" da fazenda.
Porém Leoncio só não contava com a reação do escravo André,que puxa violentamente a corda derrubando-o do cavalo.O clima esquenta.Leoncio quer pegar a arma,mas André toma-lhe a mesma e a joga para longe.Os dois brigam com socos,enquanto André lhe diz:
-Agora lhe quebro a cara "marditú"!-e o desfere vários socos em seu rosto,quebrando-lhe dois dentes.
Rosa quer pegar o revólver,mas Isaura a impede,desenlaçando-se e correndo atrás dela,amarrando-a com a corda,após laçá-la.Isaura é quem pega a arma,enquanto André rouba o cavalo de Leoncio,montando no mesmo e índo embora acompanhado de Isaura,pegando-a pelo caminho.É a quarta fuga da escrava.
Enquanto Leoncio está com o rosto todo ensanguentado e Rosa amarrada com a roupa toda rasgada e com os braços todos arranhados.
-Malditos sejam!Que eles caiam do cavalo!-roga-lhes Leoncio a praga com todo o ódio de sua alma.
O cavalo em que estão relincha,pára,e caí,pegando-nos a imprecação de males contra o casal.Mas nem tanto,pois ao riscar de um raio no "Céu",com nuvens negras descobrindo o "Sol" e com o aparecimento do "Arco-Íris" parecem,com os vossos aparecimentos,anular o mal.Pois o cavalo recupera-se logo,e recomeça a correr.
Quando se vê,André e Isaura estão na casa-grande da Côrte,de Henrique,onde encontram Álvaro.
-Isaura!Minha amada!-abraça-a,emocionada.
-Abraça-me muito forte,ó meu amor!Eu estou aqui de novo para lhe amar!-o fala.
-Agora não podemos perdermos tempo!Partam para Portugal!Amanhã eu partirei para lá!-comunica-os,dando-lhes 20 contos de réis,acompanhando-nos Seu Jocelino e a mulher,Maria José,novamente para território lusitano.Detalhe:Isaura e André embarcam disfarçados e com documentos falsos.Ela como uma freira,"Irmã Maria do Céu" e ele como o frei "Gilberto de Jesus".Só que desta vez mais uma estratégia geograficamente genial:ao invés de embarcarem no porto do Rio de Janeiro,todos embarcam no porto da "Província de São Paulo",após fugirem para a mesma.A intenção,claro,é dificultar as buscas impetradas por Leoncio,quando munido da fotografia de Isaura,ír perguntar no porto do Rio de Janeiro se alguém a víu embarcar em algum navio,a resposta será negativa,claro.Tudo bem planejado.Assim não chamarão suspeitas.
Rapidamente,todos encontram-se na Europa,no casario colonial do "Barão de Aguinava",uma província fictícia de Portugal.O nome dele é Francisco José,onde todos são bem recebidos,inclusive,presenteando os vossos hóspedes com buquês de rosas,e ofertando-lhes copos com leite e torradas,portuguêses.Ele é tio de Álvaro.
-Muito feliz estou eu em recebê-los aqui em minha chácara!-dá-lhe as "boas-vindas".
-Felizes muitíssimo estamos nós,por estarmos aqui convosco,desfrutando de vossa hospitalidade!-agradece-lhe Isaura,conhecendo a prima de Álvaro,sinhá Adelaide,uma lusitana abolicionista como o pai que compra escravos brancos e negros,os alforria e os contrata sob trabalhos remunerados,intítulando-os de empregados.
E Isaura personificará dupla identidade.Quando ela estiver passeando pelas ruas lisboêtas,de Lisboa,em companhia de Álvaro,estará disfarçada de freira,sob o pseudônimo de "Irmã Maria do Céu",como o trouxera do Brasil.E quando estiver no domicílio do "Barão de Aguinava" estará de sinhá Isaura,vestindo belíssimos vestidos lhes emprestado pela "prima de coração"(como a chama),Adelaide.
Desta maneira cenas belíssimas,bem "romancêscas" são protagonizadas pelo casal,sem beijos em público e sim com declamações recíprocas de poemas românticos,apresentando como cenários a "Torre de Belém" e até no "Jardim das Oliveiras",local divinosamente esplendoroso,no qual ocorre a aparição milagrosamente amorosa da "Nossa Senhora de Fátima",para abençoar o amor do casal,tal qual a "Virgem de Nazaré",aparecera em sonho de Isaura,na noite anterior,ambientado em "Santa Maria de Belém do Grão-Pará".
Já no Brasil Leoncio traça um plano implacável para quando recapturar Isaura em companhia de seus cúmplices Álvaro,André,Seu Jocelino e Maria José.
-Todos serão submetidos ao grande julgamento,por darem fuga à Isaura,e junto a ela serem condenados pelo crime de lesa-patrimônio,pois estão fazendo-me gastar fortunas com as recapturas da escrava!Contabilizando-me um prejuízo de mais de 40 contos de réis!...-queixa-se o patife,enquanto o escravo Malafati limpa as botinas de seu senhor com uma flanela e as encera com cêra de abelha.
Rosa está à sua frente,segurando uma bandeja de prata.
-"Ú nhô-nhô" tem mais é "qui castigá elis mesmú"!...-incentiva a maligna.
-Puxa-saco "dús diabú"!...-pensa Ieda Neuza,espanando os móveis da sala,ouvindo toda a conversa.
Mais tarde,na cama,Leoncio confessa à Rosa.
-A Justiça tornará escravos Jocelino e Maria José!E já te posso assegurar:vou vendê-los para uma fazenda bem distante deste acre,para a "Província do Paraná"!-a revela.-Só assim Isaura e os pais nunca hão de se reencontrar!É a pior maneira de a castigar:dando chibatadas em seu coração,que chorará de tanta tristeza pelo afastamento de vosso pai e de vossa tia-mãe!-concluí o vilão ultra-sórdido contando-lhe parte da punição.
O tempo passa...Leoncio descobre de forma surpreendente o paradeiro de Isaura.Há muito tempo sem escrever uma carta à amiga portuguesa Adelaide,Altônia,a irmã bastarda de Leoncio,escreve-lhe,contando as últimas novidades em torno do conhecimento de seu irmão bastardo e da mudança de endereço,em transferír-se da Côrte da Bahia para a do Rio de Janeiro.
-Meu Deus,que incrível coincidência!A minha amiga brasileira é irmã bastarda do Leoncio,o algoz de Isaura,como vós mercês podem constar nesta carta!-revela-lhes Adelaide à mesa do café,quando na frente dos vossos hóspedes põe-se a lêr o teor de tal carta,surpreendendo-os negativamente.
-Minha Nossa Senhora,e agora?!...-pergunta-lhe,temerosa,Isaura.
-E agora,que logicamente,não posso revelar-lhe nada em torno de vosso abrigo aqui no casario!Pois este segredo poderá vir à tona,dado cá que a vida tem lá de suas imprevisibilidades,algumas das vezes,implacáveis!...-responde-a Adelaide,tranquilizando Isaura e os demais,escrevendo na hora a resposta para Altônia.
-Muitíssimo obrigada pela vossa epístola,caríssima amiga brasileira!Aqui está tudo às mil maravilhas!Quando vieres a Portugal,sabes onde hospedar-se...Aqui serás sempre bem-vinda!Mas avises-me com certa antecedência,por carta,quando decidires nesta formidável terra visitar-me!Sem mais para o momento!Tenhas bons-dias sempre!Por obséquio!Adelaide.-escreve ao mesmo tempo em que lê aos presentes o teor da mensagem.
Passa-se o tempo necessário para chegar-se a carta-resposta ao Brasil.Como Altônia recebe-a no momento em que encontra-se a saír para visitar ao irmão,Leoncio, decide levá-la consigo para lê-la diante dele na "Fazenda Santa Genoveva".
-Ora,ora,minha cara irmã de "outras cestarias",por que não visitas vossa amiga além-mar?...-pergunta-lhe,sugeríndo-a tal passeio turístico.
-Ó parada,Leoncio!Bela sugestão!Mas queres que vá visitá-la assim de supetão,imprevistamente?!-dá-lhe outra pergunta,como resposta.
-E porque nao?!Decerto,hás de saber...Que as visitas mais supimpas são as de supetões!...-forma-lhe sua opinião,respondendo-a.
-Alto sim!Concordo-te meu irmão!E é por isto,sem deixar muitos dos tempos passar que amanhã mesmo embarcarei para lá!-decide,retirando-se uma das luvas de renda branca para uma das mãos coçar.
-Alto lá!E vás sem levar-me?!Claramente que não,pois ouso-lhe em acompanhar-te nesta bela viagem internacional...-a comunica.
...E o vento levou-nos rapidamente a território lusitano.Quando vemos uma rajada de vento abre abruptamente uma das janelas da sala de estar do casario do "Barão de Aguinava".Alguém bate na porta.Quem a abre é Isaura...
-Meu Deus!...-exclama ela,como que fulminada por uma flecha certeira em seu coração,quase desmaiando.
-Oh meu Deus,que nada!-levanta Leoncio malignamente as sombrancelhas.-Venha cá sua maldita escrava!-a diz Leoncio,pegando-a fortemente pelos braços,trazendo-a diante de seus olhos odiosos,enquanto que com a outra mão tapa-lhe a boca.
-Que coincidência afortunada,a mais auspiciosa de toda a minha vida!-elogia o destino,o crápula.-Andas Altônia!Vais buscar a milícia para prender a esta desertora!Andes!Nao percas tempo!-a ordena,no que para completar a sua muita boa sorte,mesmo em face de circunstâncias tão mesquinhas,a carruagem da milícia da "Província de Aguinava" passa.

terça-feira, 25 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA:CAPÍTULO 31:"

Com Isaura em solo europeu,o vosso pai,Seu Jocelino,como sempre fôra de praxe,sabe e sempre soube muito bem sobreviver,e a sustentar a mulher, Maria José,como mascate,vendendo mercadorias pelas ruas da Côrte do Rio de Janeiro.Como moram de favor na chácara de Henrique,recebem cartas com notícias de Isaura,provenientes de Portugal.
-Isaura está muitíssimo bem,lá!E as notícias não poderião ser das mais auspiciosas!-comemora,tomando um copo com água.-Logo,logo,ela estará me dando um neto,ou quem sabe uma neta!Maria José,Isaura está grávida!-a informa,sorridente e com lágrimas nos olhos.
No entanto,alguém ouve a conversa,atrás da porta entreaberta,do quarto da pensão em que estão Seu Jocelino e Maria José.Essa pessoa revela-se...
-Então ela "tá" em Portugal e "tá emprênhecida"...-diz a mulher.-"Nhô-nhô" precisa saber...-trama.
É assim que por obra desta mulher,uma escrava doméstica gananciosa,falsa e invejosa,Mirti,esta rouba a carta com o endereço de Isaura,em Portugal,após ter fingido-se de amiga de Seu Jocelino e Maria José,para entregá-la a Leoncio,que a contratou em segredo como espiã do casal na pensão que é de propriedade de Jataína,uma ex-prostituta e marafôna de luxo,já idosa,que foi quem contou ao crápula que eles estavam hospedados em sua casa.Assim deu algumas patacas para que Mirti,a mucama de Jataína, escutasse as conversas de ambos e o repassasse alguma informação importante em torno do paradeiro de Isaura.
Portanto,em troca de sua liberdade,Mirti vende a epístola roubada para Leoncio,comprando assim a sua carta de alforria,redigida e expedida pelas mãos de sua agora ex-proprietária,Jataína Gomes Bonifácio de Andrade.Após consumar a maldade,Mirti foge para a "Província do Amazonas",Manaus,para trabalhar como mucama especial da irmã de Jataína,a madame Clarisse Gomes Pontes Malcher,uma rica viúva de um riquíssimo "Barão da Borracha",Amazonense Pontes Malcher.
Quando se vê,Leoncio acompanhado da milícia portuguesa,prendem Isaura e Álvaro,em Portugal.Desta forma são levados de volta ao Brasil.Ao "Conde Della Torre",nada lhe afetará,pois como é muito rico,dispõe de imunidade,por ser nobre.Assim dá-se o término da terceira e,talvez,última fuga da escrava.
De volta à mortificadora realidade no Brasil,mais uma vez por força de seu poderio financeiro,Álvaro é solto por meio de um novo "Habeas-Corpus",impetrado pelo excelente advogado Castilhos França.Quanto que à Isaura,desta vez Leoncio aplica-lhe um outro castigo,não menos implacável:ela passa a viver como prisioneira em seu próprio quarto na casa-grande do engenho "Santa Genoveva",simplesmente acorrentada a uma pesadíssima bola de ferro.
-Crudelíssimo tú és Leoncio,aprisionando Isaura,como se Isaura fosse uma criminosa!Isto é torpe demais!-confessa-lhe sinhá Vera,sob afronta ao marido.
-Torpe é a petulância de Isaura,que já empreendeu três fugas consecutivas,uma atrás da outra,para afrontar-me,fazendo gastar-me patacas e réis,trazendo-me prejuízos abomináveis!-dá-lhe a resposta.-Mas darei um término definitivo à esta tormenta!Quem sabe com o "Vira-Mundo" Isaura aprenderá!-impõe com estas duras palavras o castigo da "Loura do Engenho".
-Porquê não é vós quem encontra-se prisioneiro a um pesado grilhão de ferro,ó pústula!...Por isto que estás a determinar!-continua a afrontá-lo.
-Então fique no lugar de Isaura,Vera e páre-me de me atormentar!-retira-se o crápula,batendo grosseiramente a porta.
Passam-se 24 horas.E uma nova personagem ultra-polêmica para esta época escravagista aporta em nossa história.É a viúva nova,afortunada e fogosa,a "Viscondessa de Alvirtre",Gilberta Antonieta de Algozôvar,que um ano após o casamento morreu de infarto.Eis a biografia dela:
"Portuguesa da fictícia "Província de Alvirtre",a Viscondessa,cujo nome completo é Gilberta Antonieta Algozôvar Di Escandinávia",após a viúvez,decide romper com o luto viajando para o Brasil,vindo em um navio negreiro abarrotado de escravos,brancos e morenos que em sua fazenda trabalharão-todos devidamente remunerados-e ao mesmo tempo trabalhando a peso do tronco e do chicote,pois resolve fixar morada em jurisdição brasileira.
A mão-de-obra de sua casa-grande é toda masculina,existindo só mucamos,cozinheiros ou escravos domésticos.
-Nao suporto mulheres!Porque nunca nenhuma simpatizou-me!-decreta.-São todas umas cobras que me vivem trocando de peles!-costuma generalizar,daí só preferir homens.
E é escandalosa.Costuma ír para a cama com os seus subalternos-os mais bonitos,escolhidos a dedo-os quais costuma alforriar.São os seus "ex-escravos amantes".
-Eu sempre fui tão ardorosa que matei o meu marido em nosso leito!Ele não conseguiu suportar tanto fogo em minhas entranhas!-confessa ao mucamo Julião,na cama,a morte do esposo,que teve um infarto enquanto com ela copulava,se relacionava."
Dá-se assim o breve resumo da biografia da "Vossa Viscondessa Despudorada",como ela mesma auto-define-se;
Dada as circunstâncias,Leoncio retira-se temporariamente da "Fazenda Santa Genoveva",índo para a sua casa,na Côrte.Sinhá Vera está a caminho para averiguá-lo.Até que ao dar umas baforadas em seu charuto,na janela,presencía uma cena,após descer as escadas e ficar baforando na calçada de sua casa.Simplesmente ao descer da carruagem,a "Viscondessa de Alvirtre" desmaia nos braços do vilão,que a leva carregada nos braços até o vosso quarto.Ela ao acordar,o beija à força,no momento em que Leoncio queria beijá-la desmaiada.Sinhá Vera os flagra,provocando uma grave altercação entre os presenciáveis.
-Quanto escândalo!O "Beijo da Traição" em minha própria cama!Em meus próprios aposentos!-e desfere um tapa em Leoncio,pára na sequência empurrar a Viscondessa da cama chão abaixo,dizendo-a:-Saía já daqui,sua rameira!-ataca-a,sedenta pelo ciúme.
-Rameira,não!Respeite-me,pois ostento o nobre título de "Viscondessa de Alvirtre",da "Côrte Portuguesa",sua baronesa imunda!-e também a desfere um tapa,no que sinhá Vera revida-a em seguida,xingando-a.
-Imunda é vós mercê,"Viscondessa da Safadeza"!...
Até que Leoncio ao tomar o lugar da mulher é quem acaba levando o tabefe.
-Párem com esta contenda,já!Eu vos ordeno!Por obséquio,sinhôra Viscondessa!Tome por retirar-se destes aposentos e ides para a vossa casa,como se não houvesse ocorrido nada,absolutamente nada...-Leoncio,a sugere.
-Tudo bem!Eu até que compreendo a fúria colossal de vossa mulher,porque se o meu marido fosse vivo e o houvesse flagrado beijando outra em nosso leito faria o mesmo!Dava-lhe na cara e fazia tudo o mais!...-confessa,retirando-se e abanando-se com o leque.
-Mil desculpas sinhôra Vera!-a pede,encarecidamente.
-Sim!Mas no próximo flagra meto-lhes o chicote em vossas caras!-diz,ela,corajosa,de cabeça erguida e nariz empinado,tanto quanto a outra.
-Dou-lhe razão,pois faria o mesmo dona baronesa!Mas tua ameaça não se fará necessária,pois asseguro-lhe com "Palavra de Quintão"(cria tal neologismo,cujo significado só ela sabe):isto não mais se repetirá!Mas antes de retirar-me,vós mercê e vosso marido,ainda não apresentaram-se...-os solicita com toda a diplomacia.
-Como vós preferir!Chamo-me Vera de Almeida,naturalizada aqui em "Campos dos Goytacazes"...Prazer...-dá-lhe a mão.
-E eu sinhôra Viscondessa,sou Leoncio Almeida Prado de Guaianazes!Tenha a nossa amizade ao vosso dispor...-apresenta-se o crápula,beijando-lhe uma das mãos,puxado pela calça,por Vera.
-Muito honrada estou,apesar das circunstâncias,perante vossas apresentações!E cá eu,a Viscondessa,chamo-me Gilberta Antonieta Algozôvar Di Escandinávia,e como sou recém-chegada na província,convido-lhe para o meu sarau de "Boas Chegadas",em meu engenho,a fazenda "Santa Sofia",lá em Campos.Portanto espero-lhes lá,amanhã, a partir das 19 horas.Por tudo minhas desculpas e meu muito obrigada!Passar-lhes bem!-retira-se,ela.
-Já sei que terei uma rival à minha altura...Baronesa Vera "Campos" de Almeida...-pensa a Viscondessa.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

'UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA":CAPÍTULO 30:

Como tudo que é bom dura pouco,o período de felicidade será interrompido.Um amigo de Leoncio,o barão de Igarassú,província de Pernambuco.Caramantino Rodrigues Alves,que está de passagem pelo Maranhão,que conhece Isaura e Álvaro,cuja pessoa não conhecem e não sabem que por ele são conhecidos,assim os reconhece,acabando por descobrir pelo jornal,os seus disfarces,olhando-os de um binóculo,no interior de sua carruagem,observando ao mesmo tempo fotos de ambos,publicadas em diversos jornais do Brasil,iniciativa impetrada por Leoncio,cuja manchete tem os seguintes dizeres:"Procura-se a escrava Isaura e o seu amásio,Álvaro".
-São os dois biltres disfarçados de ciganos!-descobre.
Como uma serpente segue-os de longe.Antes,porém de seu "bote" decisivo,é conveniente esclarecer que por sorte as únicas províncias que Leoncio nao mandou publicar as fotos de Isaura e Álvaro foram as do Maranhão,Amazonas e Pará,em cujos jornais destas praças optou pelas não-divulgaçoes,por achar que jamais Álvaro regressaría para lugares tão longínquos,uma vez que já havia fugido para o Pará,portanto não optaría em fugir para as províncias vizinhas.Lerdo engano.
Desta forma o casal Álvaro e Isaura,2 dias após o matrimônio e a lua-de-mel que culminou na primeira noite de amor entre os dois,são presos no antológico "Teatro Arthur Azevedo",na "Província de São Luís",no Maranhão,enquanto assistem a uma ópera,a montagem clássica do espetáculo "Bug Jargal",do lendário maestro paraense Gama Malcher.
Assim,ao término do panorama cênico espetacular,o homem ruim,o barão pernambucano,invade o palco,interrompe a salva de palmas do grande público para provocar o mais terrível dos constrangimentos contra Álvaro e Isaura.
-Senhores!Afastem-se desta mulher!-apontando-a.Prosseguindo...
-Ela não é senhora como as senhoras e sim uma foragida da senzala!Isto mesmo,esta mulher é uma escrava!-bombardeia a todos com tal revelação.-E este senhor que a acompanha é um abolicionista subversivo que também é foragido da "Justiça Fluminense" por ter apropriado-se indevidamente desta escrava,ajudando-a na fuga!-concluí o "espetáculo de puro constrangimento",o barão nordestino,ao mesmo tempo que a milícia maranhense aproxima-se de ambos e os comunica.-Os dois estão presos!-bradam os milicianos.
-Que opróbrio meu Deus!Quanta desgraça!-lamenta horrivelmente Isaura,desmaiando nos braços do marido.
Portanto,Isaura e Álvaro são novamente separados,voltando presos em um navio-presídio,transferidos para o Rio de Janeiro.Como Álvaro é rico,é solto por um conceituado advogado,Castilhos França,que expede o seu habeas-corpus em território fluminense,aguardando em liberdade o seu julgamento por ter ajudado na fuga da escrava.Detalhe: como o Comendador Almeida está inválido,pela lei folhetinesca desta estória,como Leoncio é o único filho varão,consequentemente passa a comandar todos os negócios de seu pai,havendo uma transferência automática de responsabilidades para ele,em função da invalidez do outro.É como se fosse lhe dado uma "Procuração Natural Obrigatória",por força das circunstâncias.Assim toma todas as decisões no lugar do pai,inclusive o de recapturar Isaura e a processar todos os envolvidos em sua fuga.A escrava passa-lhe a ser de sua alçada.
O que já era de se esperar,Isaura tem pior sorte:como prometido Leoncio a põe no tronco,amordaçada com um lençol branco,deixando-a sob os castigos dos três dias de agonia,deixando-a exposta ao frio,ao calor e a só pão e água.Olhando-a,diz:
-Tú não és mais pura,Isaura!Preferistes ser dele do que ser minha, sua ordinária!Cortastes o meu coração e a minha alma!Mas pagarás por ter submetido-me a este tirânico castigo sentimental!Pois se tú não queres me amar,obrigas-me a te odiar!...-chora,o crápula,de ódio e rancor,segurando um chicote.
Até que sinhá Estér tome as dores de Isaura.
-Leoncio,eu ordeno,eu exijo que termines estas torturas para com Isaura!-ordena,sob aborrecimento maternal.-Obedeças a mim que sou a tua mãe,senão eu mesma serei capaz de soltá-la!-o ameaça.
-Não,minha mãe,nao irei soltá-la!Por nada deste mundo!Nem que Deus e o "diabo" me pedissem,eu não os obedecería!Pois ninguém pode mandar-me!...-a afronta.
-Nem eu que te carreguei em meu ventre durante nove longos meses e dei-te à luz do mundo!-o questiona,balançando-o,ao pegá-lo fortemente pelos braços.
No ápice de tamanho aborrecimento,sinhá Estér passa mal,é acometida de um derrame cerebral e tal qual o marido,passa também a ficar em estado vegetativo.Não podendo andar,nem falar.Assim o crápula compra uma nova escrava doméstica que ajudará a cuidar de seus pais:é Iraci.Ela e Mãe Joana se revezarão nos cuidados para com os dois.Dando Ieda Neuza,também à sinhá Estér a milagrosa "Aguardente Alemã" ou a extraordinária "Tintura do Jalapão",trazidas da feira do "Vêr-Ô-Pêso",de "Santa Maria de Belém do Grão-Pará" por uma sinhá paraense,Luzia Malheiros Malcher Braga(irmã da sinhá Maria Êurita),que mora em "Campos dos Goytacazes",viúva de um barão fluminense.É ela quem dá os remédios para as mucamas de sua amiga acamada,para que as mesmas façam ela tomar.
-É muito eficaz!A "Aguardente Alemã" corta logo o derrame e a pessoa fica boa logo!Podem vós mercês confiar!...-recomenda Luzia,bondosa e solícita.
Enquanto isso sinhá Vera não pode fazer nada,a não ser acatar as ordens tiranas do marido,mesmo que o afronte várias vezes ao dia,chegando a fazer greve de sexo.
-Nao tocarás um dedo em meu corpo,enquanto não libertares Isaura daquele tronco horroroso,e digo-lhe mais:também enquanto não a alforriares!...-o impõe.
-Que seja feita vossa vontade,cara Vera,ou melhor dizendo à vossa contra-vontade!O que não fizeres comigo faço com as outras!Mulheres de lupanar é o que não faltam-me para saciar-me!...retira-se o crápula,ou melhor iría retirar-se,pois Vera é mais rápida e assim que Leoncio a dá as costas,quebra-lhe um vaso na cabeça,fazendo desmaiá-lo,pegando-lhe a chave das algemas que no tronco prendem as mãos de Isaura.
-Faço isto por minha sogra e por todos aqueles que amam Isaura!-diz inteligente e determinada,ao pegar a chave,e trancar Leoncio desmaiado no quarto,partindo para libertar Isaura do tronco,munida de um chicote,jogando-o fora e pegando um revólver.
-Saia Cipriano!Eu ordeno!Afaste-se de Isaura ou eu atiro,seu feitor bajulador e desgraçado!-o ameaça,xingando-o e mirando-o a arma.
Com uma mão aponta-lhe a arma e com a outra liberta Isaura,pedindo-a que monte em seu cavalo.
-Agora vamos,Isaura!Rumo à liberdade!-brada como uma guerreira e guardiã da escrava.
Quando se vê,já estão na Côrte.Vera entrega Isaura a Álvaro,dizendo-lhe.
-Está aqui a vossa esposa!O resto é com vós mercês!...-balbucia,Vera,com um largo sorriso nos lábios,pondo-se a galopar rapidamente em seu cavalo de volta à fazenda "Santa Genoveva" após a refrigerada sensação do dever cumprido.
Desta vez Isaura e Álvaro decidem empreender a terceira fuga,desta vez para o exterior,fugindo para Portugal,refugiando-se no castelo do "Conde Della Torre",um jovem viúvo fogoso,amigo do pai de Álvaro,Ary.
-Aqui jamais seremos encontrados,minha Isaura!Estamos além-mar!No outro lado do Atlântico!...-comemora Álvaro,bebendo vinho,enquanto Isaura come pão.
No Brasil Leoncio fica furioso porque pelas circunstâncias decidiu preservar o casamento,para não ser vítima de escândalo social,sendo obrigado a aceitar Vera,a "perdoá-la" por ter libertado a escrava.
-O fiz e não arrependo-me,nem arrependerei-me jamais!Porque sei que no "Dia do Juízo" Deus não há de me cobrar!...-sempre alega Vera,justificando seu ato nobre e intrépido.
Agora Álvaro e Isaura passeiam pela "Torre de Belém",em Lisboa,quando ela sente tonturas e desmaia nos braços do amado,que ao recobrar os sentidos...
-Beije-me Álvaro!Por semear em meu ventre o fruto do nosso amor maior...Estou grávida de ti,minha vida,meu amparo,meu herói...-o revela,em seu colo,beijando-se o casal,ao mesmo tempo que dá-se ao fundo o lindo pôr-do-sol.


'UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA:CAPÍTULO 29:"

Assim que empenha-se em lutar pelo amor de Isaura,Álvaro sabe que está mexendo em casa de marimbondos.Voltando a encontrar o sacripantas do Leoncio num mercado de escravos,Álvaro oferece até 400 contos de réis-a metade de sua herança pela compra da escrava.
-Então o amor pela escrava é assim tão intensificado que vós mercê é capaz de despojar-se da metade de vossa herança para alforriá-la!Quanta nobreza d'alma!-espanta-se Leoncio,destilando certa ironia.-Mas não vendo-a!Nem que vós mercê fizesse como São Francisco de Assis e me ofertasse todos os vossos bens,nem assim a venderia!Isaura é minha escrava vitalícia!Só será libertada diante de minha morte!-o comunica,rejeitando sua exorbitante proposta de compra o crápula,que dá umas baforadas num charuto.
-Espurco!Canalhocrata!Infâme!Biltre!Pulsilânime!Covarde!Crápula!Pústula!Vil!Patife!Sacripantas!Desgraçado!-rechea-o,Álvaro revoltado,a Leoncio,de xingamentos.
-Como ousas?!Como tens a coragem de tamanha audácia?!-o devolve,Leoncio.-Recheando-me com tantos predicados,sinto-me até lisonjeado...-ironiza-o e debocha.-Mas como ousas?!Como tens coragem de tamanha audácia?!-repete-lhe,agora,seriíssimo,o crápula.
-A mesma com que tenho de convidá-lo agora para um duelo pela liberdade de Isaura!-responde-o Álvaro,completando a teia do desafio entre os dois.
-Quanta coragem!Combinado!Amanhã então sob a hora marcada!Às 8 da manhã!Espero-o na "Rua das Almas",aquela mesma que fica por de trás do cemitério "Santa Bárbara",sendo que estarei acompanhado de Isaura e os vossos pais!Isto significa se conseguir me matar ganhará a liberdade da escrava!Isto eu faço questão!-avisa-o Leoncio,aceitando o desafio.-Então está fechado!Leve-me Isaura e as testemunhas que estarei lá!-concluí o intrépido Álvaro,olhando-o revoltado.
E é o que acontece.Eles encontram-se no cenário do duelo,que na melhor das hipóteses resultará em ferimentos graves,e na pior,em assassinato.O capitão-do-mato Mêriva conta os 10 segundos,para que caminhando de costas,após o mesmo virem de frente e desfiram os tiros.É o que ocorre.Os dois viram-se de frente,enquanto Isaura prostra-se ajoelhada no chão batido de terra,elevando seu crucifixo aos Céus,pedindo para que Deus não permita uma tragédia-e atiram-se ao mesmo tempo,sendo que um dos tiros desferidos por Leoncio atingem de raspão um dos braços de Álvaro,que por sua vez consegue atingír à altura do coração do inimigo,que caí.Aliás,só dois tiros foram pré-combinados para cada um.Os dois são socorridos e levados para um hospital,enquanto Isaura ao ver sangue desmaia.Os três são levados para a "Santa Casa dos Goytacazes".É nessa oportunidade que acontece a segunda fuga da escrava,pois em leitos de quartos ao lado,eles falam-se pelas janelas,decidindo pulá-las de madrugada e írem para o "Quilombo dos Cupuaçús"(nome de uma tribo índigena que habitava ali) e deste lugar fugir para um outro Estado,desta vez para a fazenda de um amigo em Minas Gerais.Leoncio,furioso,promete,com o chicote empunhando-lhe a mão direita.
-Desta vez levo para o tronco a filha de vós mercês!Aquela ingrata maldita!-profetiza a ameaça.-Mas podem ficar tranquilos que não a chicotearei,para sua pele de pêssego preservá-la,mas a deixarei três dias só a pão e água!Serão os três dias de agonia para Isaura!Debaixo de chuva,sol e sereno!-os comunica,a Seu Jocelino e Maria José,adiantando o grande sofrimento que a fará passar,após ter alta o crápula,ao ser dispensado do hospital.
Fugindo com Álvaro à cavalo para a Côrte do Rio de Janeiro,após os dois pularem as janelas do hospital,de madrugada,enquanto Leoncio dormia a peso de sedativos no quarto andar superior,eles nem imaginam o que vai acontecer.
-Desta vez passaremos um dia na fazenda do meu amigo em Minas Gerais,e na sequência íremos para muito mais longe novamente,não para o território paraense e sim para o vizinho deste:isto mesmo,fugiremos de navio para a "Província de São Luís do Maranhão"!-fala,surpreendendo-a demais,enquanto cavalgam no cavalo muito rápido que mais parece "alado".
-Virgem de Nazaré!Como vós meu amado,és um macrorrizo genial,que tem grandes raízes de amigos por todo o Brasil!Só assim conheço este belíssimo país!Esta gigantesca nação!-elogia-o Isaura,sorrindo,portanto entusiasmada.
-Sim amada Isaura!Abolicionistas e escravagistas só tem este ponto em comum:detemos raízes por todas estas jurisdições de nossa pátria!-compara,explanando-a brilhantemente.
Desta vez Isaura se travestirá de outra personagem em sua roupagem,passando-se por uma cigana,adotando o pseudônimo de Lucélia Akadí,aprendendo rapidamente dança flamenca e a manusear com habilidade dos seus dedos,as castanholas.Assim como Álvaro,que passa-se por um cigano,adotando o nome de Júlio Guerperrí.Ambos,portanto,ficam belíssimos como ciganos,perfeitamente caracterizados.Isaura principalmente,ainda mais que uma rosa vermelha adorna-lhe os lindos cabelos louros presos em um coque,onde encontra-se a flor enfiada.
Para passar o tempo ela vende rosas na praça em companhia de outras ciganas que lêem a sorte nas mãos de quem vai passando,inclusive da própria "Lucélia Akadí Isaura".
-Vós mercê é acompanhada ao mesmo tempo pela sina da tristeza,e pela da felicidade,que em companhia de vós,caminham lado a lado!-é certeira na leitura da linha de vossa mão.-Porém uma,ora te abandona,a outra te acompanha...Isto significa que tem vezes na sua vida que vós só tem momentos de felicidade,assim como em outras ocasiões,momentos de tristezas e perseguições!Mas não se intranquilize que no fim serás feliz,muito feliz!-a profetiza,auspiciosamente.-É a "Providência Divina" quem vejo te sorrir!...-concluí a vossa previsão a cigana em torno da interpretação da leitura das linhas de vossa mão,deixando-na muito surpreendida com as palavras por conhecer tão profundamente os sentimentos vitais de vossa existência.
Assim Isaura e Álvaro vivem momentos de muito romance,liberdade e felicidade,casando-se na beira de um rio,batizando seu casamento nas águas,celebrado pelo padre Grahim,que é muito amigo do médico abolicionista,Thomaz Edson,maranhense,filho de um brasileiro com uma britânica,já falecidos.Amicíssimo de Álvaro.O padre origina-se de Portugal,de passagem pela região meio-norte do Brasil,encantando-se com as belezas geograficamente maranhenses,aceitando o desafio de,sob absoluto sigilo,realizar esse matrimônio abençoado e testemunhado pela natureza,em território maranhense,no momento em que o "Arco-Íris" visita o Céu.
-A felicidade da realização de nossa união matrimonial não estava escrita pelas mãos de Deus para acontecer em território paraense,em território fluminense,nem tão pouco em território paulista,mas sim aqui em terras maranhenses!-diz Álvaro,beijando-a.
-Muito obrigada,meu Deus,Senhor daquilo que tudo pode!Muito obrigada por dar-me a dádiva!...Nunca pensei que seria feliz,justo aqui em lugar que nunca conheci,e que pensei nem existir!...Obrigadíssima meu Deus pela dádiva deste sonho!Oh terra abençoada!!!-agradece,chorando,e ao mesmo tempo sorrindo Isaura,beijando o chão da terra,após prostrar-se ajoelhada.É o máximo da humildade.
Enquanto muito longe,Leoncio roga pragas.
-Seja no lugar em que estiverem!Que alguma doença ou fatalidade,em suas vidas,lhes atravessem!Fugitivos malditos!-pragueja em voz alta no meio da sala,em sua chácara,na Côrte,até que Mãe Joana mentalize e diga diante da imagem de "Nosso Senhor Jesus Cristo Carregando Vossa Cruz".
-Praga nenhuma cairá na tenda de Isaura,e na de ninguém que por ela tenha afeição,porque mais-do-que Deus,ninguém!Ninguém!(bate o pé direito no assoalho) porque "Ele é o Maior",sempre!E o seguidor do "Anjo Mau",que nem essa peste do Leoncio!Cruz-Credo!(Benze-se pelo Sinal-da-Cruz)É muito menor!Porque um é altaneiro,"Rei do Céu" e o outro das "baixêza dús inferno"!-diz Mãe Joana,certeira nas palavras.

domingo, 23 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA:CAPÍTULO 28:"

No Rio de Janeiro,após o Comendador Almeida chegar de São Paulo,ao indagar sobre Leoncio para Estér,esta fala-lhe:
-Ele foi atrás de vós na "Província Paulista"...-responde-lhe,enquanto costura uma peça de roupa vermelha,balançando-se na cadeira de balanço do salão da casa-grande.-Tú não o encontrastes?...-responde-o com outra pergunta,Estér,agora parando de costurar para abanar-se com o seu leque.
-Ora,ora,Estér!Leoncio mentiu para vós mercê,pois nem sinal deste varão naquele lugar!..Nenhum traficante de escravos avisou-me de vossa presença!Aliás e se fosse,o que iría fazer por aquelas terras,se eu mesmo fechei grandes negócios naquele solo de poderosos?!...-explana-lhe e assegura-lhe o marido.
-A não ser que tenha partido atrás de Isaura...-pensa Estér com muito medo que Rosa contara para ele,o que escutou atrás da porta.
-O que pensas mulher?Virastes estátua?!...-pergunta-lhe,exclamativo,Almeida.
-Nada,Almeida!Nada!Aliás,pensei sim,que nosso filho possa estar em algum lugar deste mundo...-disfarça,ela.
-Claro,sim,Estér!Mas onde é o que não podemos adivinharmos,a não ser se a "Pai Tomás" ressuscitássemos!...-ironiza.
Uma ventania forte "corre" pela "Fazenda Santa Genoveva".
Em Belém,Leoncio traça um plano para capturar a Isaura.Do porto da "Província do Pará",apanha uma carruagem,hospedando-se em um hotel luxuoso no centro,próximo ao "Palacete Bolonha".Abrigando-se no quarto,fuma novo charuto e deitado em seu leito,profere sórdidas e premeditadas palavras.
-Então Isaura mandou uma epístola,aquela carta desta província para a fazenda de Henrique,o meu acôutador cunhado,avisando-o de seu casamento com um tal de Álvaro,a ser impedidamente oficializado na "Basílica de Nazaré",hoje,pela noite,como Rosa contou-me!...-recapitula.-Já sei!Ficarei à espreita,diante da igreja,escondido na carruagem,junto à milícia,esperando o momento exato para capturá-la e desmascará-la!-arquiteta o intento sórdido.-Ora,ora,Isaura!Eu terei o maior prazer em estragar vossa festa!...-revela seus planos,sob dinamismo abominável,o crápula.
E é exatamente na noite do casamento de ambos em que Isaura decide usar o seu outro nome, Elizabeth Francisca(temendo que o barão Paulo a houvesse denuncíado),que Leoncio adentrando a "Basílica de Nazaré",acompanhado da milícia e uma ordem de captura expedida pelo juiz da "Vara do Rio de Janeiro",entrando no exato momento em que o pároco pergunta se há alguém que impeça o casamento,o crápula manifesta-se:
-Eu impeço!Não vou calar-me!Porque vós não pode consumar um casamento de uma escrava fugida que tem um vaga-lume na altura do ombro direito!-rasga-lhe um pedaço do vestido nesse lado de seu corpo,amostrando sua marca de nascimento,dando prosseguimento à mais terrível humilhação em plena igreja.
-E que fugiu da região Sudeste do Brasil para uma região geográfica tão recôndita e longínqua como esta,"Província Amazônica",passando a viver sob constante falsidade ideológica,apropriando-se de um nome que não é o seu!-a desmascara,perante todos,fazendo com que Álvaro repudie tal ato,pois em plena "Casa de Deus",Isaura,em busca de sua felicidade,sofre um atentado.
-Isto é repudioso demais para com esta moça,seja ela Elizabeth ou Isaura,não importa!-toma-lhe a defesa o padre "Paraense",indignado com tal invasão infâme.
-Que eu completo!Vítima de tamanha fatalidade,padre!Pois este senhor recusa-se veementemente que a minha filha goze de sua felicidade,propiciada por vossa liberdade,que o cruel exige tomar-lhe!-aponta Seu Jocelino,em direção ao pústula,Leoncio.
-É isto senhor padre!É isto!Por misericórdia,não permita tamanha crueldade!Isaura não merece!-prostra-se Maria José,ajoelhando-se e suplicando ao pároco,beijando-lhe as mãos e chorando,desesperada.
-Merece,merece sim!Uma vez que a liberdade de Isaura é arbitrária,ilegal,visto que é uma escrava fugida e por isto que estou aqui para uma apreensão desta peça viva,cujo proprietário é o meu pai!Eis os documentos comprobatórios-amostra-os, o canalha.
Só resta a Isaura lamentar,submissa.
-Meu Deus,logo aqui em vossa morada,volto para a condição de escrava!Que fatalidade!-e desmaia,sendo levada nos braços do próprio Leoncio,após retirá-la dos braços de Álvaro,que é preso junto com Seu Jocelino e Maria José,após corajosamente admítir que sabia da condição de Isaura,e por isso resolveu ajudá-la na fuga,inclusive,ajudando-a na construção da farsa,fazendo-a passar-se por outra pessoa.
Sob estas circunstâncias voltam ao Rio de Janeiro.Todos são postos numa única cela do navio.Álvaro repetindo-a várias vezes que lutará pela libertação da amada.Assim desde o Pará,Leoncio desiste de vendê-la,mesmo diante de tanta insistência.Só que chegando ao Rio de Janeiro,uma surpresa:o Comendador Almeida esbofeteia Leoncio pela "pachôrra" de ter ido capturar Isaura sem tê-lo avisado,e como é amigo pessoal do pai de Álvaro,exige que o mesmo seja libertado,não prestando queixa contra ele.E como legalmente Isaura é sua escrava,desiste de mandar prender Simone Bertolli,já que é cliente assíduo da "Casa-Grande dos Prazeres".Estér também dá um tapa no filho.E Vera no marido.
Só que as circunstâncias favorecem Leoncio.Por tamanho aborrecimento,o Comendador Almeida é vítima de um derrame cerebral,passando a ficar em estado vegetativo.Só naão ficou mais grave,sucumbido até à morte,porque Ieda Neuza,sábia,deu-lhe um remédio homeopático ou natural eficacíssimo contra tal moléstia da cabeça.
-U nã!Pra "derrâmi",só aguardente alemã!É tiro e queda pra ela não "matá Comendadô"!"Pera" lá "qui" eu vou "buscá" o vidro dela,já,já,lá no meu armário,pra "metê" uma colherada na boca "dú sinhô"!...-prontificou-se a negra cheia de sabedoria popular.
E foi o que procedêra.Mais-do-que rápida colocou uma dose de "Aguardente Alemã" na colher e enfiou-a na boca do Comendador Almeida,salvando-o da morte.
-Esse é um santo remédio sinhá!"Qui" sinhá Maria Êurita,lá do Pará,me deu,quando ela veio pra cá!...-revelara a procedência geográfica do remédio natural.
Assim, a "Aguardente Alemã" minimizou os efeitos nocivos do derrame cerebral sobre o Comendador,evitando sua morte,mas não outras sequelas,como a de não conseguir andar,nem falar,obrigando-o a ficar permanentemente acamado.Assim o crápula fica livre para agir com tirania contra Isaura,mesmo que esta seja constantemente defendida combativamente pelas sinhás Estér e Vera,as guardiãs dela.Mas ele manda que Rosa coloque um sonífero forte no chá das duas.O efeito é de 24 horas.Leoncio então castiga Isaura a ficar 24 horas presa na senzala,o que arbitrariamente manda também prender Seu Jocelino e Maria José,juntos a ela.Rosa então avisa a Leoncio que Álvaro tem a petulância de estar na sua fazenda para visitar Isaura.Ambos discutem porque o sacripantas proibe de visitá-la,mas...
-Pensando bem!Pura tolice minha!Vós mercê pode sim adentrar!Terei o maior prazer em lhe receber!E não é ironia!Juro pela invalidez de meu pai!Mil desculpas se fui "mui" ríspido para com o senhor!Está decidido!Antes de írmos à "Casa-Grande",onde está Isaura,vamos à senzala,pois necessito falar com o meu feitor...-convida-o,mostrando ser um perfeito dissimulado.-Siga-me senhor,Álvaro...-o pede,cínico e dissimulado.
Eis que chegando lá,desce do cavalo e o convida a descer.
-Venha cá!Há algo para o senhor aprecíar!...-deixando Álvaro desconfiado.É então que adentrando-se à senzala,encontra Isaura de costas,que ao virar de frente,cabisbaixa,Leoncio o fala.
-Esta é a nova Isaura,a quem o senhor acaba de encontrar!Da condição de escrava de casa virou cativa de terra!Ou melhor dizendo...Para quem antes da fuga pegava um trabalho fácil,agora está condenada ao trabalho mais do que pesado:horrivelmente sacrificado!...-o comunica,com mentira,desdém e ironia.
-Então senhor Álvaro,se vós mercê querer continuar a visitar esta escrava assenzalada na senzala,não esqueça-se de que só deverá fazê-lo mediante ofício,comunicando-me a hora marcada!-o determina,enquanto nem Seu Jocelino,Maria José e Isaura não podem falar nada,já que encontram-se amordaçados.
E com uma arma,o ameaça.
-Agora vá!Vai te embora daqui!Antes que tú te tornes um finado!Acho que já fui bonzinho demais!...- o expulsa.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA":CAPÍTULO 27:

Acrescentem à inclusão desta personagem, barão Paulo, uma ingrata coincidência...
É que como tem uma prima,a baronesa Cecília,que reside na Amazônia,foi até "Santa Maria de Belém do Grão-Pará",onde está,com o elucidativo propósito de visitá-la,e paralelamente a esta visita familiar,aproveitando para estar a negócios,ao fechar a compra de alguns búfalos na "Ilha de Cotijuba",que geograficamente fica próxima à capital paraense.Desta maneira,acaba de saír do "Grande Hotel",localizado no centro da capital provínciana do Pará, de onde releu o anúncio do jornal "Folha Fluminense",comprado no Rio de Janeiro, sobre a fuga de Isaura,é coerente repetir-se; Portanto na "Côrte de Belém ",em um concerto de uma orquestra sinfônica internacional que se realizará no "Theatro da Paz",na bilheteria,depara-se com a lindíssima Isaura,cujos cabelos encontram-se presos em um coque,o que de certa forma dificulta a sua identificação imediata, acompanhada do pai,Seu Jocelino.
-Eu acho que já vi esse belíssimo rosto em algum lugar,mas não lembro-me ao certo de onde...-balbucia o barão Paulo,em pensamento,extasiado,ficando por ela enfeitiçado.
Aliás,o reencontro da lembrança de sua memória com relaçao à escrava loura Isaura acaba acontecendo da seguinte forma:ao mesmo tempo,em sentidos opostos,Isaura desce sozinha os degraus da escada,e o barão Paulo a sobe,quando este,qual sua surpresa escandalosa,ao passar a mão no seu paletó,encontra no bolso esquerdo deste o recorte do jornal do anúncio em torno da captura de Isaura,sempre pôsto propositalmente na peça de seu vestuário,como se a anuncíada sempre o acompanhasse por todos os lugares.Ao mesmo tempo fica face-a-face com ela,a reconhecendo imediatamente,olhando-a pela fotografia publicada no jornal.
-Ó Céus!-exclama,com os olhos saltando-lhe o óculos.-Que destino inteligentíssimo!Então vim encontrá-la aqui a mais de 3.000 kilômetros de seu território de fuga!Esta(amostrá-lhe o anúncio com o vosso retrato do jornal) é a senhôrita,Dona Isaura,escrava fugida do senhor Leoncio,de Campos!-e guarda o pedaço de papel de volta ao bolso de seu paletó.-Mas como pôde do Rio de Janeiro parar até aqui no recôndito Estado do Pará?!-indaga-a,espantado.-A senhôrita está sendo capturada,agora!-e a pega firmemente pelos braços.
Isaura,extremamente assustada,o empurra,fazendo barão Paulo rolar escada abaixo e desmaiar.Isaura fica tão assustada que abandona o teatro correndo sem avisar ao pai,índo para o palecete.Isso após espertamente retirar o anúncio do jornal que ele havia colocado de volta no bolso de seu paletó,após imediatamente reconhecê-la.Só após alguns longos minutos,o barão venha a recobrar seus sentidos na "Santa Casa de Misericórdia do Pará",para onde foi levado.Informado pelo recepcionista que a filha foi embora,sem ninguém,no entanto,tê-la visto empurrando o barão da escada,Seu Jocelino acaba sabendo de tudo.
-Isaura!Sería inverossímil se esta história não saísse de teus honrosos lábios,minha filha!-fala-lhe,Seu Jocelino.
Assim extremamente apreensivos temem saír do palacete,pois a qualquer momento podem ser reconhecidos e recapturados,mesmo porque quando retorna ao Sudeste,Leoncio é pelo barão Paulo informado de que é na tão longínqua "Província Paraense" que Isaura encontra-se fugida com os "seus pais",guardando esta revelação para sí,estupefato,decidindo imediatamente viajar para lá,em segredo,a fim de num jornal local,em "A Província do Pará",o seu anúncio com o retrato falado de Isaura colocar.Só que ele não sabe que Isaura e a tia-madrasta,Maria José,só andam pelas ruas da Côrte de Belém com um véu lilás que ocultam-lhes as faces,sendo esta a nova moda entre as senhôras e senhôritas na cidade,para boa sorte de ambas,dificultando ao máximo o reconhecimento delas.Enquanto a Seu Jocelino restou-lhe raspar a cabeça,aderindo a óculos nos olhos.Porém sua natureza extremamente caseira o favorece.
Até que Isaura,acompanhada de Álvaro,cometa um ato.
-Vou confessar-lhe algo "mui" grave padre,que eu sei,tenho plena convicção,de que sob ordem divina o senhor não poderá o segredo de confissão quebrar!-e conta-lhe Isaura sua triste história no confessionário da lindíssima "Basílica de Nazaré".O padre "Paraense" é totalmente imparcial,opiniando-a.
-A sinhôrinha,nem nenhum ser vivente nesta Terra nasceram para serem escravos dos homens,que agindo dessa forma tão torpe e absurda tornaram-se escravos da ganância,e assim do diabo,cerceando a liberdade dos outros,ganhando dinheiro às custas dos infortúnios alheios!-é justíssimo.-Assim quem devería pagar muitíssimas penitências sería o seu algoz,e não vós mercê que não faz mal a ninguém,e somente está a fugir de uma grande maldade!-injeta em sua alma estas palavras tenuamente e imparcialmente sagazes.-Sendo assim vá em paz e com a mente extremamente tranquila de que levo o seu segredo para o Céu!-a tranquiliza,conclusivamente.
Isaura saí dali bastante emocionada,chorando diante de "Nossa Senhora de Nazaré",pedindo-a força e proteção.Começa a caír uma chuva torrencial sobre a cidade.
-Deus livre-me de tamanha maldade!-pediu Isaura diante da "Padroeira do Pará".
No outro dia,Isaura escrevera carta a Henrique,dando-lhe notícias pessoais de sua vida.Ele,por sua vez,repassara tais fatos à irmã,Vera,que por sua vez repassa as novidades à sogra e à mucama especial-ambas de inteira confiança.Num golpe de sorte,Rosa acaba escutando atrás da porta,sinhá Estér comentar com a nora,Vera,e Virgi Santa que Isaura deve estar muito feliz no "Palacete Bolonha",na "Província do Pará".Distraída,a escrava invejosa pisa no rabo da gata preta Mirica,que mia alto e arranha a perna esquerda de Rosa,que diz um "Ai" alto,e pára não ser flagrada,corre em disparada,esbarrando-se em Leoncio,que caminha no corredor em direção inversa,batendo de frente com ele.Estér,então,depressa,vai até os dois.
-Rosa,eu sei que tú pisastes no rabo da gata porque estavas escutando a conversa atrás da porta,sua mexeriqueira,de estirpe mais baixa!-a acusa,sua sinhá,na frente do filho,que carrega uma mala nas mãos.
-Pois sinhá está pensando errado!Eu não escutei nada!Eu estava atravessando o corredor para limpar "ús aposentú" quando eu pisei na gata,sinhá!Foi isto!-nega,veementemente,Rosa,dissimulada.
Estér fica em dúvida se ela estava mesmo atrás da porta,desistindo de acusá-la,perguntando ao filho para onde ele está indo.
-Vou para a "Província Paulista",mamãe,fechar uns negócios!Dê-me a sua benção materna!-a mente e a pede.-Deus lhe abençoe,meu filho!-o abençõa,ao mesmo tempo que o "Todo-Poderoso" ralha-o através de um trovão barulhento no Céu.
Quando se vê,antes de partir,Rosa escondida atrás da cortina,conta a Leoncio,sentado em seu gabinete,o que ouviu atrás da porta.
-Então é no "Palacete Bolonha",na "Província Paraense" em que Isaura está ocultada!Bem que eu poderia ter desconfiado!Que aquela condessa e madame de lupanar(referíndo-se à Simone Bertolli)estaría envolvida nisto!Pois o palacete pertence à própria!Já que ela mesma cedeu-me o espaço para hospedar-me nas pouquíssimas vezes que fui à "Santa Maria de Belém do Grão-Pará",quando estive presente a negócios!Maldita acôutadora!-e dá um murro na mesa,cerrando os dentes com ódio.-Ela há de me pagar!Mas quando eu voltar depois de a capturar!...
É tudo tão rápido que quando se vê Leoncio já atravessou a navio o país!Enquanto que em "Campos dos Goytacazes",Rosa fazendo cuz-cuz diga:
-"U nhô,nhô amanti" já "devi di tá" naquela província "di índio",pra "capturá" Isaura,aquela "perarta" safada...-comenta a invejosa,com olhos enviesados,enquanto rala o milho verde,utilizando o grande ralador, na cozinha,expondo sua tremenda ignorância geográfica em relaçao à "Província do Pará",achando que somente moram índios lá.
A escrava cozinheira Ieda Neuza adentra a cozinha trazendo na cabeça um cesto de palha cheio com abacates.
-Vixi,Rosa!Até agora nenhuma língua sabe por onde anda Isaura...-comenta.
-Xum!E tú "podi adivinhá" Ieda!...-a indaga,Rosa,com ironia.
-Não né sua gaiata!Se eu "pudesse adivinhá" eu era uma "nêga" cigana e não uma "iscrava"!"Tava girandú ú mundú" e não aqui "olhandú" pra tua cara!...-a responde,Ieda,malcriada,segurando o cesto com abacates.-Mas "cá pra nóis",Rosa,tú "sabi qui" eu sonhei esta "noiti"...-coloca o cesto ao centro da mesa,por cima desta,dando uma pausa,dirigindo-se à porta da cozinha,onde continua a sua fala.-..."qui" a  Isaura "tava" era "num" palácio,recebida e tratada como uma princesa,com coroa,manto e tudo,"muitú filiz beijandú" seu "príncipi incantadú"!-a provoca.-Agora "morri di inveja"!Hum!-inventa,Ieda Neuza,só para provocá-la,retirando-se em seguida,dando uma sonora gargalhada,que ecoa pelos corredores da casa-grande e,quiçá,até "na senzala"...
-"Tá"!Princesa,eu sei!Só "si fô" da senzala!"Qui" é "issú qui mereci" aquela fugida da Isaura!...-comenta,invejosa,Rosa,pegando um abacate,fazendo um gesto que queria arremessá-lo em Ieda,comendo-o na sequência,dando-lhe uma dentada na casca.
Voltando ao cenário geográfico paraense e provínciano da Amazônia,muitos são os passeios de Isaura e Álvaro pela "Belle-Époque Amazônica",ou a "Paris dos Trópicos",conhecendo os mais bucólicos lugares na região Norte do Brasil.
...Belas caminhadas turísticas estas regadas ao mais puro romantismo e momentos de felicidade,como a seguir,quando o casal em companhia de Seu Jocelino e Maria José encontram-se a passear pelo bucólico "Bosque Rodrigues Alves",um parque ecológico encravado ao centro da província da "Santa Maria de Belém do Grão-Pará".Finalmente,Isaura e Álvaro trocam o primeiro beijo neste aprazível lugar em frente a uma linda gruta,ao mesmo tempo que Seu Jocelino e Maria José beijam-se também,só que no meio da escada de mármore carrara do "Chalé de Ferro" do bosque,marcando momentos felizes para ambos os casais.
-Cheguei Isaura para buscar-te,para finalmente seres minha,somente minha!E de mais ninguém!...-fechando os olhos,imagina instantaneamente e rapidamente possuí-la à força.-Seja como amante,seja como escrava!...-abre os olhos,ao desfazer a imaginaçao vil e tórrida.-Acabou a fuga!...-diz o sórdido Leoncio,fumando um charuto,segurando sua mala no alto do navio,no porto de Belém,ao mesmo tempo que o "Céu da Baía de Guajará" seja riscado por três raios.
Neste exato momento,Isaura,como que sentindo de longe as vibrações negativas da chegada de Leoncio na província para capturá-la,é pela mesma afetada,desmaiando nos braços do amado,Álvaro,caindo algumas folhas da árvore acima sobre o casal.




terça-feira, 18 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA-CAPÍTULO 26:"

-Este troçável não está em casa,Mãe Joana!Leôncio me paga!Dar-lhe-ei uma surra que ficará para a história!-range os dentes,raivosa,sinhá Estér,em pé,quando Vera põe delicadamente sobre o sofá a sogra sentada,para que ela beba água-com-açúcar oferecida-lhe por Mãe Joana.
Sem saber que Isaura foi raptada por Leoncio,e fugiu da chácara,na Côrte,seu Jocelino e a mulher Maria José,quando preparam-se para saír são surpreendidos com as visitas de sinhás Vera e Estér,que contam-lhe sobre o ocorrido.O pai da cativa não vê outra saída a nâo ser arquitetar a fuga da filha,uma vez que o Comendador Almeida decidiu de uma vez por todas,não fazer outra carta de alforria para ela.
-Mas como arrumarião-se para fugir com ela?!-perguntam-lhes Estér,entre um gole e outro de seu chá com erva-cidreira,enquanto Mãe Joana a abana sentada com o seu leque,à frente dela.
-Quando a encontrarmos!-responde-lhe Seu Jocelino.
-Mas e se Isaura voltou para o engenho?-pergunta-lhe Vera.
-Aí arrumaremos um jeito de fazê-la fugir de lá!-diz,Jocelino.
Estér então indaga a ele se este caminho não seja o mais perigoso,pois poderia ser preso pelo "roubo da escrava".Jocelino a responde que por uma filha corre-se até o risco de pular de um abismo a outro,mesmo que saía profundamente machucado.Estér e Vera dão-lhe as mãos,anuncíando serem suas aliadas na fuga de Isaura,já que "por bem Almeida não quer,então que os que querem vê-la feliz unam-se para que ela seja libertada,pela força das circunstâncias,criadas pelas pessoas que mais a estimam nessa vida",ressalta e concluí Estér,firme e forte,na decisão de ajudar na fuga de Isaura,mesmo que pela separação isto "parta-lhe o coração",visto que Leoncio extrapolou todos os limites da razão em querê-la raptá-la e provavelmente violentá-la,atentando tiranicamente contra a vossa castidade.Mudam-se os rumos desta história:o caminho está livre para a primeira fuga da "Escrava Isaura"...
Enquanto isto,não sabendo de seu paradeiro,Álvaro recebe Isaura em sua casa,permitindo-a que fique em sua vivenda.
-Meu pai mora na Europa com a minha madrasta,que é uma atriz e dançarina na Espanha!Minha mãe é falecida!Está ali,ela,emoldurada!-apontando para o retrato pendurado na parede côr salmão da sala,e benzendo-se Álvaro.
-Sim,senhor!Caro cavalheiro!Apresentou-me vossos pais,mas o meu anjo salvador ainda não apresentou-se...Como chama-se o nobre cavalheiro?...-Isaura,o indaga.
-Ah,sim,que gafe!Desculpe-me senhorita...Chamo-me Álvaro,ao vosso dispor...-apresenta-se,beijando-lhe uma das mãos.-Aliás,gafes de ambas as partes...pois também...e vós mercê,como chama-se?-percebe, a indagando a sua identificação pessoal,a vossa característica nominal.
-E como chama-se o vosso pai?-indaga-lhe com outra pergunta Isaura ao invés de dar-lhe a resposta,um pouco apreensiva.
-Ary Alvarez Altamirano da Cruz!Já minha madrasta,antes que você possa perguntar-me é Iñes Lujan Madrecciato de Mirano!Mas quando casou-se com o meu pai aqui no Brasil passou a assinar como:Iñes Madrecciato da Cruz!Sabe-se como são estas artistas:figuras extremamente pseudolísticas!...Repletas de identidades...-a revela,não demorando para dar a sequência.
-Mas depois que a sinhôrinha adentrou a minha charrete,ficou todo o tempo calada,como que estatualizada,nao falou-me nada enfim...Volto a perguntar-lhe:como chama-se finalmente?-a oferece uma margarida retirada do vaso.
-Muito obrigada,por vosso cavalheirismo,por vossa parte!Quanta gentileza!Eu repito:quanto cavalheirismo!-o elogia sob grata intensidade.-Como eu chamo-me?Ah,sim,minhas desculpas,chamo-me Elizabeth,sim Elvira,sinhorinha Elizabeth Francisca...-o mente,pedindo mentalmente perdao à Deus,ao mesmo tempo por estar mentindo ao homem que a acudira em momento tão delicado de sua vida.
-Enfim...sinhôrinha Elizabeth Francisca...-suspira,Álvaro,alivíado,mediante a identificação dela,sem saber que é falsa.-Mas porque encontrei-a daquele jeito,correndo que como uma desesperada?-a indaga.-Parecias fugir de algo tão medonho...-deduz,o cavalheiro,curioso.
-Eu?!...-deixa caír a margarida,num ato de nervosismo,Isaura.Álvaro a pega e a dá de volta,dizendo-a,lacônico.
-É algo assustador...-balbucía,olhando-a fixamente.
-Extremamente assustador...-fala em pensamento,Isaura,relembrando-se das cenas que assustadoramente Leoncio a fizera passar.
-Desabafes,andes,desabafes,oh minha querida Elvira...-diz,Álvaro passando-lhe delicadamente as mãos na face de Isaura.
-Não,não é nada,senhor Álvaro,não é nada,absolutamente nada de suma importância...-disfarça.-É que um mendigo assustou-me pelas ruas,correndo atrás de mim!Foi isso!Como se vê uma coisa nem tão comum,mas nem tão imprevisível também...-volta a disfarçar,pedindo novamente perdão a Deus.
-Então,ponho-lhe inteira credibilidade em vossas palavras,sinhôrinha!Nao precisas explicar-me mais nada!-fala.-Mas então,resides aqui na Côrte,decerto!...-a indaga enquanto Isaura o responde de costas.
-Não,não domicílio neste território urbanístico!
-Como assim não moras?Então como viestes parar aqui?A cá estacionar?-indaga-a duplamente.
-Simples senhor Álvaro!Eu estou na casa de uma amiga.Ela é quem trouxe-me para cá...Eu saí para dar um passeio matinal,o mendigo abordou-me,eu saí correndo,o senhor atropelou-me,aliás a carruagem e de resto estou aqui,dependendo de uma alma caridosa que dê-me transporte ao engenho no qual eu moro de nome "Santa Estér"(o dá o nome antigo da fazenda),localizado na "Província de Campos dos Goytacazes"...-o detalha,Isaura.
-Ah,sim,Campos!Então é lá que domicílias?!...-a indaga.
-Sim,sim!E a minha amiga de carruagem iría levar-me!Pondo-me ao regresso...Ela é de uma fazenda vizinha...Só que à estas alturas,já deve ter partido sem mim,pensando que parti sem ela,decerto!E se chegar lá,não encontrar-me,ficará decerto muito preocupada!...-diz,Isaura,prestes a retirar-se,não despedindo-se,só dizendo-lhe um rápido,"por tudo muito obrigada",fugindo em disparada,ao mesmo tempo que ouve-se o barulho estrondoso de um trovão no Céu,e novamente,quase ser por uma outra carruagem,atropelada.Álvaro saí e da porta vê que uma senhora a chama de Isaura.
-Isaura?!-indaga-se,surpreendido.
Assim,em tempo recorde o destino de Isaura está resolvido:ali mesmo na casa de Álvaro,diante de todos os fatos esclarecidos,sinhás Estér,Vera,o pai dela,Seu Jocelino e sua tia,Maria José,a comunicam que Isaura terá de fugir,se quizer ver-se livre dos tormentos perpetrados pelos constantes assédios de Leoncio para com ela.A aceitabilidade se dá,dando-se desta forma a primeira fuga da escrava.
-Geograficamente partiremos para bem longe destas terras do Sudeste!Iremos para a "Província de Santa Maria de Belém do Grão-Pará",uma cidade bucólica em plena Amazônia!Partiremos para lá!Será quase impossível esse tal de Leôncio nos localizar!-anuncía Álvaro,formando assim com Seu Jocelino e Maria José uma pequena trupe em prol da fuga de Isaura.
Enquanto isso mais uma prostituta  surge na história.É Mêri,a irmã bastarda de sinhá Vera.Ela recém-chegou-se da Europa para trabalhar na "Casa-Grande dos Prazeres da Condessa ou Madame Simone Bertolli",que apresenta ela a Leoncio,que fica louco para ír para a cama com ela,sem saber que trata-se de sua cunhada.É exatamente por esta revelação,bombástica para Leoncio,que ela nega-se veementemente a relacionar-se com o crápula,por ele ser o seu cunhado.
-Ora,ora...Vejam então...É a primeira mulher de lupanar com ética que encontro sobre a face da Terra...-costuma Leoncio ironizá-la,dando-lhe aplausos desdenhosos.
-Quanta estupidez senhor Leoncio,se essa mesma mulher de lupanar com quem vós mercê fala não fosse a sua própria cunhada!-costuma devolver a ironia,Condessa Simone,saíndo em defesa da "Monalisa Pôna".
-Isso mesmo!Pode até não aparecer,mas até nos meretrizes temos noções do que é a honra,do que é a conduta,do que representam os valores familiares,mesmo que os mesmos estejam somente no sangue que correm em nossas veias e nada mais!-completa,Mêri.
-Agora sou eu quem falo:quanta estupidez,ou melhor seria dizer,quanta ignorância ou execrável pretensão de vossas partes!-ataca.-Desde quando uma escrava alforriada,ou pior que tornou-se uma prostituta,pode ser filha de um escravocrata e irmã de uma sinhá?!Nunca,ouviram!Nunca!Nem em sangue,nem em papéis,muito menos em "Contos da Carochinha"!Só se for em pseudos "Contos de Fadas"!Por isso deixe de frescuras!Venda-se a mim e atenha-se à realidade!Que voce não nasceu para perder dinheiro,e sim para vender-me seu lindo corpo e suas performances libidinosas,meretriz do "raio-que-a-parta"!-começa a ofendê-la Leoncio,preparando-se até para agredí-la com tapas.
-Páre!Se tocar um dedo nesta mulher,leva bala!-não titubeia em ameaçá-lo.-Se quizer levar um tiro,é só trocá-lo por um tapa!É o senhor quem decide!-ameaça-no a Condessa,apontando para o mucamo-protetor,Aldahyr,que saí armado com uma escopeta,revelando-se por de trás da cortina amarela,pronto para saír em defesa imediata à integridade física da meretriz.
-Então senhor,o que está esperando para desferí-la um tapa?!-o desafia Simone,num estalar de dedos.
É lógico que o cruel é "louco",mas nao é burro,cerrando os dentes com ódio,jurando vingança.
-Um dia farei como Nero:tocar-lhe-ei fogo nesta espelunca!...-diz aos berros,Leoncio,saíndo em disparada,no seu cavalo,ao mesmo tempo que imagina estuprar a "pseudo-cunhada",como habitualmente refere-se à Mêri,uma irresistível mulher de lupanar.
Não demora muito para na manhã seguinte,o crápula tentar estuprá-la no cemitério enquanto ela está visitando o túmulo da avó paterna,sinhá Natália,cuja sepultura fica ao lado da de seu pai,o finado barão Arcânsio.Pervertido e perverso,Leoncio não mede esforços para consumar o seu ato.
-Agora sim,não tem ninguém aqui para impedir-me de tê-la aqui,dentro de mim!Chegou a minha hora de ter-me dentro de ti!E vai ser aqui!E vai ser aqui!-diz ele ensandecido,começando a tirar sua camisa de linho azul,rasgando a dela,enquanto a pega fortemente pelos braços,saltando-lhes os olhos.
Quando prepara-se para consumar o ato,Mêri saca de seu punhal do cabo vermelho,que esconde embaixo da saia e risca-lhe o rosto com o mesmo.
-Nunca,monstro!Nunca!-o desfere o golpe.-Isto é para vós mercê nao esquecer de mim e respeitar as almas seu desgraçado!-o ataca,saíndo em seguida,em disparada,enquanto Leoncio cheio de ódio,vê na palma da mão o próprio sangue do seu rosto ensanguentado, recém-ferido pela meretriz.
-Meretriz dos Infernos!Tú me pagas por esta audácia!Tú me pagas!-vocifera.-É neste cemitério que será a tua nova morada!-aponta com o dedo indicador para baixo.
Paralelamente o que diz,Mêri fala enquanto corre olhando para trás.
-Nunca,miserável!Nunca!O meu corpo será teu!Entrego-lhe ao mais vil dos homens,ao mais pobre até!Menos a ti,seu torpe infame!...
Voltando a Leoncio...
-Por isso maldita,vá logo preparando o teu caixão,para o teu maldito corpo encaixar,que esta será a tua mais nova casa!A tua mais nova casa!...-concluí vosso histerismo,o crápula.
Simone Bertolli mais-do-que-rapidamente manda Mêri de volta para Paris,fugindo das represálias do psicopata escravocrata.
O tempo esvaí-se,como que água caíndo de cachoeira.Quando se vê consuma-se a fuga da escrava de longas tranças louras e olhos azuís,Isaura,que neste momento desembarca do navio com o pai,Seu Jocelino,a tia-madrasta,Maria José e o abolicionista Álvaro em algum porto da belíssima "Província Amazônica Santa Maria de Belém do Grao-Pará".
-Viva,meu pai!Viva!Sao os ares da liberdade!-comemora e entusiasma-se Isaura,sorrindo,ao descer as escadas do navio,em Belém.Ali em frente ao porto transita uma marcha de soldados cantando o belíssimo "Hino do Estado do Pará".Todos acham um espetáculo magnificamente patriótico,como que vissem ali uma "pequena amostra de felicidade da nação", do Brasil cheio de culturas e encantos!Todos hospedam-se no "Palacete Bolonha",de cuja propriedade pertence a Simone Bertolli,que a pedido do amigo Álvaro,resolveu ceder-lhes o luxuoso lugar para lhes hospedar,munindo-os com uma carta de recomendação a ser dada ao caseiro Osaías,para este lhes hospedar como se fossem seus parentes.
Enquanto isto,Leoncio depara-se com nova surpresa familiar.Simplesmente conhece uma irmã bastarda,fruto de uma das traições do seu pai,cujas atitudes adúlteras são várias,e assim,inúmeras.É Altônia,filha da Baronesa Altina,que após a viuvez engravidou de um homem casado,o Comendador Almeida,ocorrendo na "Côrte de Salvador",na Bahia,esse fato.Na época,para evitar e não ser vítima de escândalo socíal ela mentiu para todos que Altônia era uma criança adotada,cuja mãe,mentira,era uma escrava branca que morreu após o parto.Assim escondeu perfeitamente a gravidez auxiliada pelos vestidões da época.Fazendo com que todos,inclusive,a própria Altônia,pensasse que era adotada,mesmo que a criasse com tanto amor,de que tudo não passava de uma farsa.E também ela manteve esse segredo ajudada pela fiel mucama Das Graças,a única a sabê-lo.Ela não recebeu durante 5 meses,a partir do quarto mês-quando sua barriga começava a ficar muito saliente-visitas de nenhuma espécie,alegando,por sua mucama,que estava enclausurada em penitência à alma do marido.
Quando Altônia nasceu,a primeira e única filha de Altina com o marido,o barão Lúcio Mauro,Adélia na época com 15 anos estava estudando num colégio de freiras,na "Côrte de Manaus",no Amazonas.Só que em seu leito de morte,sinhá Altina no momento em que estava ditando o seu testamento,revelou a verdade bombástica para elas,que descobrindo serem irmãs legítimas choraram emocionadas.Mesmo que só por parte materna.Irmã Adélia foi transferida para um "Convento do Rio de Janeiro",enquanto Altônia em companhia da preceptora e governanta,sinhá Glória,compraram um casarão na "Côrte Fluminense",onde decidiram residir.Ambas tem um sotaque baiano bem carregado.
Ansiosa por conhecer vosso pai,Altônia,acompanhada de Glória,resolveram visitá-lo,mesmo correndo o risco de que não fossem bem-vindas.É aí que ao contrário do que esperavam,elas são bem recebidas por Almeida,cujo comentário:"que morreria e não saberia nunca que tinha uma filha!",o que é bem verdade,pois após aquela relação extra-conjugal com a baronesa viúva baiana ocorrida há 21 anos atrás,a mesma idade de Altônia,nunca mais encontrou-se com ela,que jamais havia lhe comunicado que dele havia engravidado.Vera e Estér ficam surpresas com o fato,tanto quanto Leoncio,todos aceitando-na pacificamente.Aliás,Leoncio até gosta de saber que tem uma única irmã.Pelo que sabe provocando ao pai.
-Até onde eu sei,só tenho esta,mesmo que não saiba,ainda meu pai se vós mercê semeou novas sementes em ventres de outras mulheres em suas andanças por aí...-provoca-lhe Leoncio na frente de todos,contornando Estér a situação constrangedora.
-Mas é a fuga de Isaura que corrói minha'lma!-vive a lastimar-se,e é o que repete quando Leoncio manda publicar no jornal "A Folha Fluminense",a mando do pai,os anúncios de recompensa para quem conseguir capturar e trazer Isaura viva por 15 contos de réis,publicando também um retrato-falado,feita sob encomenda, por um retratista esmerado,do semblante da cativa,no tal caderno.Eis o teor do tal anúncio,supra-citado abaixo,cujo retrato falado de Isaura está acima de tais palavras:
"Procura-se em carácter emergencial quem possa encontrar tal face,desta sinhôrinha de nome Isaura...A escrava Isaura!Eis o que belíssimo rosto supra-exposto acima esconde a sua real condição de cativa,sob propriedade do Comendador Almeida Prado,apresentando este como Leoncio Almeida,o vosso procurador,filho de tal figura ilustre.Como pode-se perceber,ela tem os cabelos louros e longos como os de Rapunzel,tem o rosto fino como o de uma portuguesa da Escandinávia.Olhos azuís como os do Céu.Corpo esguio como o de uma "Deusa".E educação primorosa como o de uma princesa.Voz melíflua como de uma cantora sinfônica.Eis a somatória concisa de todos os vossos predicados.Assim,não deixem-se enganar,pois a mesma é uma fugida de seus senhores!Quem a localizar,entrem agilmente em contacto com a "Fazenda Santa Genoveva",geograficamente localizada na "Província de Campos dos Goytacazes",que a recompensa é exorbitantemente confortável:15 contos de réis.Válida para quem precisamente a recapturar!Assim não perca tempo e traga-nos esta mulher,que o dinheiro será de vós mercê que a prender!..."-é o que acaba de lêr um tal senhor,sentado à poltrona de algum grande hotel.
E tal homem é um barão paulista da "Província de Santa Adélia",no Estado de São Paulo.Ele é Paulo Cardoso Veroneze de Albuquerque,que guarda consigo a página do jornal,na qual contém a foto em que encontra-se retratada Isaura,por esta ser muito bonita.Ele acabara de chegar de uma viagem a negócios realizada no Rio de Janeiro,onde esteve para vender novos escravos provenientes do tráfico negreiro-sua específica rede de aquisições financeiras.E foi exatamente em Estado fluminense que adquiriu tal jornal,através do qual teve acesso à história da procura,recaptura e fuga de Isaura.











segunda-feira, 17 de junho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA"-CAPÍTULO 25:

-Estás vendo esta rosa,Leoncio?!Estás vendo,claro!Ela está murchando,e é exatamente assim que encontro-me agora:murchando de desgosto pela tua desonra de carácter!Tua torpeza d'alma!Isaura não merecia isso,jamais!Como tú és vil!É por isto que quero agora,que vá te embora que eu por enquanto,por um bom tempo não quero mais ter a visão de tua pessoa!Seu crápula!-o joga a rosa murcha no rosto.
Bufando de ódio,assim que a mãe dá as costas,Leoncio pisa na rosa murcha com a bota,dizendo em tom baixo.
-É assim que farei com Isaura!Vou espezinhar,espezinhar,espezinhar!Ela há de me pagar,por ter delatado-me!Isto não ficará assim!-promete vingança contra a linda escrava loura dos olhos azulados,corpo de sereia,voz adocicada e beleza de deusa:uma "Afrodite do Engenho".
Agora Isaura e Estér estão rezando no oratório,fervorosamente à "Virgem de Nazaré",para que a santa faça Leoncio mudar,converter-se a Deus e deixar de ser influenciado por atitudes más.Sinhá Vera aprova a atitude da sogra,e não faz nada para Leoncio não ír embora.Enquanto isso o crápula finge que vai embora,ainda permanecendo na fazenda,no sótão.É lá que ele trama algo.Pede para Rosa dizer ao cochêiro que não vá embora.
-Como que de costume Rosa faça tudo o que eu ordeno,que tú só tens a ganhar!-fala,dando-lhe um beijo nos seus lábios carnudos.
-"Inhô,nhô mandô isperá" na cavalariça que daqui a meia-hora ele volta,pra tú "levá eli" pra "cidadi"!"Num" vai "imbora" não "qui eli" já vem!-passa a ordem.
Como uma cobra,Leoncio abre levemente a porta do quarto de Isaura,adentrando ao seu recinto de descanso.Ele umedece um lenço negro no frasco do éter e a obriga cheirar,dormindo.Ela fica desacordada.Levando-a em seus braços,Leoncio assim a rapta,sequestra Isaura,levando-a na carruagem para a Côrte.Ele suborna o cochêiro,dando-o algumas patacas para que ele não conte nada.Na chácara residencial,Leoncio mantém Isaura aprisionada no quarto de hóspedes.
-Daí tú nao vais saír,enquanto eu não te libertar!-diz o louco ficando sentado numa cadeira na porta do quarto,enquanto bebe várias taças de vinho,tornando-se um homem embriagado,chegando a chorar pela sua obsessiva paixão e pelo ato de Isaura o repugnar.
-Porque tú não me queres Isaura,se posso fazê-la a deusa do meu harém,a sereia do meu mar,a rainha do meu castelo,a figura máxima de meu palácio?!Como podes renuncíar ao meu amor,ao meu dinheiro que a tudo para ti pode comprar,até tua liberdade?!Miserável!Sua miserável!Eu te odeio!Eu te odeio!Porque te amo e tú não me queres amar!-vocifera e dá vários socos na porta batendo-a com violência,acordando a Mãe Joana,que acolhida em seu quarto,só lhe resta rezar,"pro demônio saír do corpo dele".
A reza de Mãe Joana é forte e Leoncio cochila por alguns minutos,ao mesmo tempo que Isaura acorda.Mãe Joana rapidamente tira a chave da fechadura e a coloca para o quarto,por debaixo da porta.Ela logo vai embora de volta para os seus aposentos.Isaura como não lembra-se como do engenho foi parar ali em seu quarto,na Côrte,concluí que por Leoncio foi raptada,olhando pelo buraco da fechadura que o crápula encontra-se cochilando na porta de seu quarto,entendendo que Mãe Joana aproveitando-se deste seu estado,para salvarguardá-la põs a chave por baixo da porta para que Leoncio não consiga entrar no quarto e importuná-la.Isaura fica apreensiva,encolhida na cama,embrulhada no lençol.Não pára,com os lábios,de rezar em silêncio,com a chave em mãos.Pára,ajoelhada no oratório,continuar a fazê-lo.Leoncio acorda do cochilo,a confessando.
-Isaura,tú és a razão de meu viver,mesmo que tú não me queiras,por desgraça!Tú não me aceitas,tú não me aceitas Isaura,desabando o Céu sobre mim!-confessa,chorando,embriagado,não demorando para que o pústula,dominado pelo sono,opte por dormir no assoalho,após olhar rapidamente para a fechadura e fechar os olhos,abrindo-os ao raiar do sol,exatamente às 6 da manhã,e ao perceber que a chave não está mais ali,acorda-se furiosa e recomeça a bater na porta,perturbando a Isaura,claramente.
-Abra esta porta,Isaura!Abra esta porta!-brada.-Eu faço questão que tú abras,para que sirvas ao teu senhor,minha escrava!-ordena,fazendo Isaura acordar-se,assustada,afrontando-o.
-Eu não abrirei!Nem que o sol desabe sobre esta casa!Eu não abrirei ao louco devasso que deseja atentar contra a minha pureza,vilipendíar a minha castidade!-o afronta,segurando um crucifixo.-Que Deus o castigue,o exorcize e mande a sua horda de demônios,que apossaram-se de vossa alma,para os lugares mais infinitamente longínquos do abismo!...-continua a afrontá-lo.-Por isto,por misericórdia,pare-me de atentar-me!Vá embora!Esqueça-me!Vá descansar!-roga-lhe,tentando sugerí-lo que a deixe em paz.
-Então nao abrirás por bem!Pois então tú escolhestes o teu opróbrio:vais receber-me por mal!-tenta retirar a chave do bolso de sua calça,mas ao não encontrá-la(pois não lembra-se que esqueceu-se dela fincada na fechadura do lado de fora),pensa que a mesma foi furtada por Isaura.Só que friamente tira uma cópia da mesma guardada na bota do pé esquerdo,mostrando ser um vilão prático e prudente,claro,para com a execução,e ante,premeditação de suas maldades.Isaura ouve o barulho da chave na fechadura.Levanta-se rapidamente,após deixar o crucifixo no oratório,pegando um vaso de porcelana.Quando Leoncio abre a porta,disposto a violentar Isaura,esta encontra-se escondida atrás da porta aberta,pára às costas dele,quebrar-lhe o vaso na cabeça.Ele desmaia.É aí que mais-do-que-depressa,Isaura retira-se da Chácara,fugindo em disparada.É aí que por uma carrruagem é atropelada.Um rapaz desce imediatamente para socorrer a moça.Eles olham-se fixamente,para Isaura em seguida o pedir-lhe,prostrada aos seus pés,lagrimando.
-Pelo amor de Deus,leve-me daqui em sua carruagem,que estou fugindo de um crápula!Este é o principal socorro,o qual pode promover-me!Senhor!Por misericórdia!-o implora,pegando em suas mãos,sobre o chão.
-Sim,claro!Minha sinhorinha!Deixa eu ajudar-lhe!-prontifica-se imediatamente o cavalheiro,e a carrega nos braços,colocando-a na carruagem.
Enquanto isto,no engenho,sinhá Estér,sente a ausência de Isaura.
-Por onde anda a minha menina?Ela nunca fez isto!-observa.
Até que alguém passe-a uma mensagem,chegada por pombo-correio.Eis o teor da mesma,abaixo:
"Leoncio raptou Isaura,levou-a para a Côrte e ela fugiu da chácara".
-Desta vez Leoncio foi longe por demais!É um escandalo!E de âmbito social sem proporções!Que Vera há de saber!-e corre até o quarto da nora para mostrar-lhe o teor do bilhete.
-Meu Deus!Que troça de Leoncio para conosco minha sogra!-espanta-se,revoltada.-Escarnecendo-nos,ridicularizando-nos perante toda a sociedade!Tornando-se até um raptor de moças!Que horror!-concluí seu queixume,após ajoelhar-se diante de sinhá Estér,enquanto esta afaga-lhe a cabeça com a mão direita,segurando um terço,consternada,no salão principal da casa-grande.
-Que desgosto!Que desgosto Vera,Leoncio está a provocar-me!-acrescenta.-Agora Isaura deve estar a sofrer...na iminência da sarjeta!Se já não o está!...-tece seu rosário de lamentos,no salão,respondendo a continuidade dos queixumes de Vera,enquanto começa a chover.-Que opróbrio "Nosso Senhor Jesus Cristo"!Que opróbrio!Livre a minha Isaura daquele crápula!-também vale-se de seu queixume,sinhá Estér,só que agora no interior da carruagem que para o caminho da Côrte as levará.
  À estas alturas na Côrte,Leoncio mente na delegacia em torno da fuga da escrava,sempre dissimulado como o é conveniente,visto que seu perfil condiz com o de um canalha frio e calculista.
-Ela colocou sonífero no meu chá de camomila,que já é um calmante natural,e foi-se fugida,aproveitando de meu estado letárgico!-mente.-Ela veio comigo para servir-me de mucama na Côrte!-prossegue com suas mentiras advindas de sua baixeza de carácter.
O delegado Orlando Bitar,questiona-lhe:
-Mas senhor Leoncio,vós mercê não está precipitando-se?!A escrava pode ter voltado para o engenho,para debaixo da saia de vossa mãe!-ventila-o esta possibilidade.-Se vós mercê írdes até lá,e não a encontrar,aí,sim,a fuga da escrava há de se confirmar!Enquanto isto,resta-nos esperar...-diz entre uma baforada e outra de seu inseparável cachimbo de prata.-Um acréscimo de nova pergunta:porque se ela veio de livre e espontânea vontade,porque decidiu fugir de vossa companhia?-o indaga,desconfiado.
-Ora,ora delegado!Porque é uma fingida!-o responde,sempre falso,mas inteiramente persuasivo.-Disse-me que veio de bom grado e quando vejo sinto que foi à contra-vontade,enganando a mim e a sí própria!-cria nova mentira,fumando também seu cachimbo,só que de ouro,com as inicíais "LA".

domingo, 16 de junho de 2013

'UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA":CAPÍTULO 24:

Seu Jocelino e Maria José correm até Isaura para acudí-la.Quando se vê,ela está abraçada ao pai que nunca conhecera,antes.Retiram-se para os aposentos de sinhá Estér,que é quem conta toda a verdade para Isaura sobre as reais circunstâncias de sua origem familiar.
Ela está sentada sobre a cama.Somente agora Comendador Almeida volta da esbórnia,deparando-se com o velório de Camilo e o regresso de seu ex-feitor,Jocelino.
-Voltastes para comprar a liberdade de tua filha,não foi?!Decerto dê-me um tempo...-e senta-se sobre a escrivaninha,munido de caneta tinteiro,a fim de preparar o documento.-Não precisas mais comprar,tão pouco se preocupar,seu Jocelino!Aqui está a carta de alforria de Isaura!Tome-a e deleite-se com a vossa liberdade!...-entrega-lhe em mãos,fazendo Leoncio bufar de ódio,vendo toda a cena através da porta entreaberta.
-Muitíssimo obrigado,senhor Comendador!A este documento vou guardá-lo com bastante apreço,pois Isaura,é o símbolo de tua gloriosa liberdade!-agradece-lhe,Jocelino,que logo após esta cena corre para comunicar Isaura sobre o teor deste papel,abraçando-se à sua filha,revelando-a diante do caixão com o cadáver de Camilo,que acabou de ganhar a vossa alforria tão almejada.
Isaura então ajoelha-se e com a carta de alforria em mãos,levanta-a em direção ao Céu,agradecendo enormemente a Deus pelo fato de ganhá-la.
-Ao lado da tragédia,uma grande graça me concedestes agora meu "Diviníssimo Pai Celestial"!...-chora,emocionada,Isaura,na frente de todos os presentes.
Duas horas depois,ao lado do vosso pai,este já no "Cemitério da Soledade",a indaga,diante do sepulcro de Camilo que acabara de ser sepultado.
-Querida filha,agora quem decidirás os caminhos do teu próprio destino será vós...O que farás agora que estás livre como a uma gaivota?...-a indaga.
Diante do sepulcro do amado,após o enterro deste,Isaura o responde,visivelmente emocionada,abraçada ao pai.
-Vou voar muito meu caro pai,vou voar muito...Até que estes vôos levem-me aos caminhos da felicidade...Os quais certamente não me separarão daquela que considero a minha mãe de coração...O que significa que não vou abandonar a minha caríssima madrinha,meu pai!Pois tenho-a como grande mãe!Portanto sería isto uma terrível ingratidão de minha parte!...-concluí Isaura,decidindo permanecer na fazenda "Santa Genoveva",mas no entanto aceitando passar alguns dias na Côrte,desfrutando da companhia paterna,após ter testemunhado o sepultamento do grande e primeiro amor de sua vida.
Leoncio,óbvio,não conforma-se e passa a tramar com Rosa algo que possam fazer para anular esta liberdade e fazer Isaura voltar a ser escrava.É simples:enquanto estiver hospedados na chácara da Côrte,será muito fácil roubar a carta.E é o que acontece:na sorrêlfa,aproveitando que todos estão a passeio,Leoncio rouba a epístola da alforria de Isaura.Mas não adiantará nada,pois o Comendador fará outra.Mas não será preciso.Leoncio provoca algo que joga seu pai contra Jocelino:fazendo-se de vítima,como se estivesse sendo caluníado,Leoncio convence em seu torpe espetáculo,deixando o comendador furioso,quando presencía a acusação do seu ex-feitor contra o filho,que através de Rosa faz com que reapareça a carta no mesmo lugar,de onde ela sumiu:a mala de Jocelino.A escrava pulou a janela aberta,para reintroduzir na mala a carta,e da mesma maneira saíu,sem ser vista.Sinhá Estér pede a Jocelino que procure-a direito,pois pode achá-la.E é o que acontece,conforme a premeditação de Leoncio,que fingindo-se de caluníado em sua própria vivenda,convence o pai a tomar uma atitude injusta e drástica:tomar a carta das mãos de Seu Jocelino e rasgá-la em pedacinhos na frente de todos,além de serem expulsos,pelo comendador,de vossa casa.E o imputa:se quizer a liberdade de sua filha,agora terá de comprá-la pela exorbitante quantia de 17 contos de réis.Desta maneira,Isaura volta a ser escrava,exatamente como Leoncio desejava.
Estér implora ao marido que perdoe Seu Jocelino e devolva a liberdade para Isaura,mas o Comendador é irredutível:só a libertará se a liberdade de Isaura for comprada."Eis que o destino desse-me nova fatalidade!...Como se houvessem cortado as minhas asas..."-chora Isaura,enlutada,no colo de sua madrinha.
Seu Jocelino e a mulher Maria José,como não possuem dinheiro suficiente para comprar a liberdade de Isaura,pensam em trabalhar como escravos de lavoura no engenho do Comendador,cuja proposta é veementemente rejeitada,pois não remunera escravos.Henrique assim decide acolhê-los em sua casa e só não os empresta o dinheiro para não trazer problemas à irmã,que é nora do Comendador,que na frente de todos,na Côrte,comunica-os que Leoncio passe a tomar conta de tudo em seu lugar,pois "já cansou dos negócios e por isto só quer gozar os deleites prazerosos da vida".Portanto Comendador Almeida Prado só se dedicará às esbórnias e aos jogos de baralhos,deixando o filho no comando dos seus negócios,livre para fazer de suas maldades.
Enquanro isso,a esta noite sonha Isaura.
-Quis-me aqui que o meu romance imitasse a vida real,e estou aqui amada Isaura aos teus pés para pedir-te em casamento!-aparece Camilo Castelo Branco em sonho,ajoelhado,beijando-lhe as mãos na beira do "Lago Azul Encantado".
Isaura acorda,emocionada,ainda mais que ao término do sonho,Camilo criava asas de anjo nas costas e virava uma estrela no Céu.Virgi Santa e sinhá Vera oram por ela,para que lhe apareça um novo grande amor e Isaura volte a gozar de novos momentos felizes.E é o que acontece.Uma semana depois,Isaura passeia com a vaca branca Belém pelos pastos verdejantes da fazenda quando um cavalheiro aparece,cortejando-a,oferecendo-lhe uma rosa.Ele apresenta-se como Teotônio Villas-Boas,filho do Barão Cartorário.Ele acha muito graciosa a vaca,sendo conduzida por uma corda,pelas mãos de Isaura.Mais graciosa ainda é o sino pendurado ao pescoço da mamífera,sobre a qual,à medida em que caminha ouvem-se as graciosas badaladas do objeto.A cena deixa Teotônio bastante encantado.Isto ambientado na "Fazenda Santa Genoveva".
O feitor Cipriano vê a cena à distancia,sem ser visto,conta para Rosa,que conta para Leoncio,que logo ao saber que o novo pretendente de Isaura é o filho do Barao Cartorário,convida-os para um sarau.Detalhe:Isaura não revelou que morava na fazenda,que só estava ali de passagem,nem muito menos que é uma escrava,fugindo destas revelações,encantando ainda mais a Teotônio pelo ar ingenuo do mistério.Rosa ouvíu isto ela contar para Virgi Santa e sinhá Vera.É o que basta para Leoncio arquitetar sua mais nova maldade.Assim não revela aos pais quem são seus dois convidados especiais.Quando se vê,ao mesmo tempo em que chegam no sarau,Isaura também põe os pés na sala.Tanto a Teotônio,quanto a Isaura,resta-lhes dupla surpresa,pelas circunstâncias surpreendentes deste reencontro.
-Ora,ora,creio que estão encantados com a imensa beleza desta moça,cuja pele,cujos cabelos reluzem como ouro...Mas enfim sem mais delongas,deixem-me apresentá-la...Eis aqui a nossa escrava,a escrava Isaura!Com quem vosso filho,Barão Cartorário,pretende a namorar!-despeja,venenoso,Leoncio,a verdade,constrangendo a Isaura,ao bombardeá-la com tamanha surpresa humilhante.
Sinhá Estér passa mal,sofrendo uma pontada no coração.Leoncio leva uma bofetada do pai,da mulher Vera e do próprio Teotônio,que o chama de vil e maldito.Pressionado pelo pai,Teotônio retira-se para um colégio interno na Europa,se não quizer ser deserdado.É de lá que ele escreve cartas à Isaura-todas interceptadas e queimadas por Leoncio,que também com a ida da mãe para a Europa,em companhia do pai,passando lá longa temporada não pára de assedíar e infernizar Isaura,que o repulgnando e o dando um tapa,após ele querer pegá-la à força,a manda para o tronco,aproveitando que Vera e Virgi Santa foram à Corte visitar Henrique e por dois dias ficarão lá.
Sem imaginar que Rosa e Leoncio fazem sexo no quarto de Isaura,com Rosa passando-se por ela,para satisfazer ao seu senhor,a um capricho indecente dele.Surgem então Jocelino e Maria José para libertar Isaura,que ao tronco está por uma corda amarrada.
-Estamos aqui para libertá-la das garras do diabo e levá-la para uma fuga de Deus!-e as leva para a casa-grande de Henrique.
Vera fica furiosa com o ato abominável do marido,lançando-lhe a repreensão.
-Enquanto a tua mãe não estiver aqui eu serei a guardiã de Isaura!Seu pústula!-o dá um tapa.Leoncio não revida.
-Quanto mais tú bates em mim,mais eu me apaixono por ti!...-é cínico o canalha,mostrando ser sadomasoquista em relação à mulher,abandonando-a sempre que leva um tapa,índo para a esbórnia na
"Casa-Grande dos Prazeres de Madame Simone Bertolli",pagando orgias com mulheres de lupanar,tal como o pai.
-Nunca mais te deixarei exposta a este monstro,Isaura!-a promete,Vera,por trás dela,enquanto a mesma encontra-se orando diante do seu oratório.
Assim,desta maneira,Vera funciona como um escudo a Isaura,protegendo-a das maldades do marido.
O tempo naturalmente acelera-se.Vera e Henrique decidem ír à Europa,conversar com sinhá Estér sobre os assédios de Leoncio para com Isaura,pedindo-a que seja forte durante a sua ausência.Isaura aceita o desafio,pois "mais do que Deus,ninguém!"
Assim,à cada dia em que rejeita Leoncio,ele imputa à Isaura um castigo diferente.Nesta segunda-feira é castigada a trabalhar carregando barris de vinhos no carrinho-de-mão,para a adega da fazenda.Na terça-feira a manda para a sala de bordar,com as outras escravas.Na quarta-feira a condena a passar o dia inteiro na cozinha,cozinhando e à lavar-louças.Rosa mesquinhamente,invejosa e "intriguenta",antes que ela acorde-se,coloca novamente uma boa quantidade de louças que já foram limpas,de volta à pia,só para que Isaura tenha mais trabalho em de novo lavá-las.-Isaura não é princesa!É plebéia como nós!Por isso tem de trabalhar!Só assim essa preguiçosa vai saber o que é ter o que fazer!...-é venenosa.-Só assim nao vai ficar "de boa" por aí,passeando com vaca,nem cuidando de bezerro desmamado,nem de gata...Ela tem é que pegar no pesado!...-costuma a invejosa falar.
Já na quinta-feira a obriga a cuidar do jardim e a limpar terrenos em companhia de Belchior.Na sexta-feira a varrer a casa-grande,de manhã,à tarde e à noite.No sábado,a ficar na senzala lendo o dia inteiro para as escravas e os escravos.Enquanto que no domingo a castiga a ficar presa 24 horas,isolada,em seu quarto.Com um detalhe:ela é submetida a todos estes castigos,mas permitida a comer à vontade e a tomar os sucos que desejar.
-Comida e água à vontade não irão lhe faltar!Para ti Isaura engordar!Aliás a obesidade sería perfeita para ti!Pois nenhum homem iría mais te desejar!E não serías de mais ninguém!E terminaría teus dias obesa e encalhada,obrigada ao tédio eterno,mergulhada na mais absoluta frustração,por nenhum ter te escolhido para seres mãe e assim não ter arrumado um bom marido!-debocha e a ironiza,o crápula,como que ao mesmo tempo praguejando Isaura,portando uma bandeja com comidas cenográficas,que na verdade são artesanatos comprados em Minas Gerais,feitos de barro.
-Nao tería castigo pior do que o de ser obrigada a entregar-me a um pústula como vós mercê!-o diz,Isaura,corajosa,derrubando-lhe a bandeja com os artesanatos em forma de comidas,com alguns espatifando-se e sendo quebrados,após serem chocados contra o assoalho.
Leoncio,imprevisivelmente,segura a fúria diante de tamanha afronta agressiva proveniente de Isaura,proferíndo meio que rude as seguintes palavras,abaixo:
-Pois tens muita boa sorte,por não seres obrigada a comigo deitar-se sua atrevida!-a rebate,o vilão.-Eu só não a estupro,porque pelos meus pais não pretendo ser deserdado!Mas se eles não fossem vivos,tú não terías como escapar!Mas logo,logo,o meu dia chegará!...-sorri,malicioso,Leoncio,dando tal confissão para com a escrava.-Agora limpes a sujeira,qu tú mesma fizestes!Aliás é para isto mesmo a que tú serves:limpar todo o chão que eu pisar!...-e cospe no assoalho,humilhando-a,e retirando-se para os seus aposentos.Isaura,chora,prostrada.
Até que chegando a Portugal,sinhá Vera confidencía à sogra sobre os atos desrespeitosos de Leoncio para com Isaura.Sinhá Estér fica furiosa,pedindo ao marido que voltem o quanto antes ao Brasil.O Comendador discorda.Henrique tenta convencê-lo,ambos acabam discutindo,e Almeida o chama de intrometido.Mesmo não tendo dinheiro que lhe é negado pelo marido,isto não ímpede Estér de voltar ao Brasil,já que após calorosa altercação verbal com o próprio,o abandona em Portugal,para regressar ao vosso país,acompanhada de Vera e Henrique,que é quem financía a viagem da sogra da irmã,para alívio de Isaura,que vê na volta das duas protetoras sua salvação.Leoncio no entanto as diz que não poderão fazer nada,pois Isaura é de sua alçada.Sinhá Estér pega e segura firmemente a sua bengala.
Erguendo-o determinada,sinhá Estér o desafia,tirando Isaura do castigo.Leoncio é esbofeteado pela mãe ao ofendê-la de "sinhora intrometida".Sem titubear,ela o fala.
-Isaura não é escrava tua,nem de ninguém!É minha afilhada!Enquanto eu for viva ela estará comigo,ouvistes bem?!Sob os meus auspícios,sob a minha guarda e de ninguém mais!Se quizer escrava,que vás comprar com as tuas próprias patacas!Pois o teu pai ainda nem morreu,para todos os bens dele te apossar!E ainda mais Isaura já é alforriada em sua alma,mesmo que ainda não o seja em documento!-a protege.-Se tú fazeres algo que atente contra a minha "filha"(pega em seu coração),denuncio-te à milícia!-o comunica,ameaçando-o sob inteira e parcial legalidade.
A Leoncio não resta outra saída a não ser deixar de castigar Isaura com serviços pesados.Só que continuando perturbá-la com os seus assédios,tais como:"Ou tú te tornas minha ou eu te venderei para que sejas escrava de terras bem mais distantes do que esta!",chega a ,sob ironia,chantageá-la.Mesmo temerosa,Isaura não se faz de rogada,contando tudo em seguida para a sua "mãe de afeto",que expulsa a Leoncio temporariamente do engenho.
-Saias daqui,seu safardana!Indecente!Quer atentar tiranicamente contra a pureza de Isaura!Mas isto eu jamais vou deixar,seu paquiderme!Tú és o grande crápula deste engenho!Mas a partir de agora não serás mais!Pegue os teus pertences,e parta-te daqui,já!-o ordena,com a bengala em mãos,direcionando-lhe no rosto.-Ieda Neuza!Ieda Neuza!-a chama.
-Sim,sinhá!-atende ao seu chamado,indagando-a sobre a razão do mesmo.
-Peça ao feitor que chame o cochêiro e que o mesmo conduza este imoral para a Côrte!-a ordena.
-Sim!É pra já!O que sinhá "mandá" eu faz!Hum!-e vai.