Até que na sequência do estrondo de um trovão,aconteça o inesperado...
-Ai!Ai!Ai!Ai!Meu Deus!Está chegando!Eu não estou aguentando!...-grita Isaura,desesperada enquanto passa as mãos no ventre.-Segurem-me, por favor!-suplica,Isaura,pegando em sua barriga,completando folhetinescamente o espetáculo,sendo acometida pelas dores do parto.
Álvaro e Virgi Santa correm para acudí-la.
Colocam-na sobre o tapete,sob o assoalho,no meio da sala.Ali todos os convidados podem ver ao vivo Isaura entrando em trabalho de parto,auxiliada por Mãe Joana,que mostra habilidade como parteira,enquanto ao mesmo tempo segura firmemente nas mãos do amado Álvaro.
Enquanto faz muita força para dar à luz,começa a caír uma chuva torrencial sobre "Campos dos Goytacazes",ao mesmo tempo que,paralelamente,sinta-se olfativamente um fortíssimo odor suavicíssimo de rosas sendo injetado e invadindo agradabilissimamente por entre os ares da cidade.Até que após muitas contrações,no mesmo momento em que a chuva cessa,vê-se a lua cheia sendo descoberta por uma grande nuvem negra,saíndo e reinando absoluta "Nos Céus",parindo em definitivo,Isaura,na Terra.
-Nascera!Nascera!Sob os maiores auspícios desta vida,eclodindo no maior espetáculo de todas as visões e satisfações!É meu filho!-chora,eufórico,Álvaro,segurando o recém-nascido aos berros nos braços,com Isaura olhando-o,chorosa,e como num encerramento de um grande espetáculo da vida real,são euforicamente aplaudidos por todos os convidados.
-Chamar-se-à Tobias...Tobias...-decide Isaura,pegando-o nos braços,enquanto lança-lhe o olhar materno.
Enquanto isto Leoncio é lançado no manicômio.
Enlouquecido,começa a ter visões irreais,sintomáticas de vossa demência.
-Receba-me Isaura,em tua alcôva,que dou-te todo o meu reinado!E assim podes transformar-me em teu escravo!O teu mais humilde escravo!-abre os braços,assim que desce da carruagem,o põem na camisa-de-força,ajoelhando-se em frente ao portão principal,como se estivesse dirigindo-se à Isaura,tendo-a em sua visão.
-Larguem-me seus condenados!Pústulas desprezíveis!Isaura!Minha rainha!Salve-me destes abutres!Decapite-os!Mande-os para a guilhotina!Ou crive vossos corpos com punhaladas!-vocifera,enquanto levam-no para uma cela do manicômio judiciário,agora passando a xingá-la.
-Isaura!Sua desgraçada!Já não é mais a minha rainha!Estás destronada!Do meu coração estás destronada!Guardas,prendam-na,na masmôrra!No calabouço!Porém não privem-na de alimentar-se e beber bastante água!Para que volte a ser a minha escrava!-pronuncía tais palavras desconexas,
comumentes a um louco perverso,obcecado pelos desejos mais obsessivamente vis deste mundo,vítima dos próprios intentos perniciosos.
Ele dá continuidade às suas desconexidades,que apesar de serem provenientes do seu distúrbio mental,não deixam,óbvio,de imprimír genialidade,visto que completa o nosso espetáculo de palavras.
-...cuja socapa um véu que encobria-lhe a face!Da próxima tú já sabes!Venderei vós mercê para o capitão-do-mato mais asselvajado destes lados:Donato!Eu estou tão fulgurado que se colocasse minhas mãos em Isaura,a daría muitas chibatadas!Deixem-me chicotear Isaura!Não!Sería muito mais fácil pedir-me para chicotear vós mercê!...Caro Álvaro,és acima de tudo um paradoxal assumidíssimo diante de todo este mar de escravismos!Elogia-o!Um pústula maligno,decerto,para todos os que representam esta sociedade escravocrata!-prossegue,Leoncio,falar a só,sintoma de seu transtorno mental.
Novo terremoto acontece na história,e desaba o manicômio judiciário,na Côrte,matando a todos ou loucos presidiários.Leoncio agora é somente um cadáver em meio aos escombros...Eis o seu trágico final.
Como o abalo sísmico só atingiu a Côrte do Rio de Janeiro,e na sua ocorrência Isaura e Álvaro estão em "Campos dos Goytacazes",como que por milagre,ao mesmo tempo que acontece a morte do crápula,seus pais sinhá Estér e o Comendador Almeida Prado,levantam-se da cama,completamente recuperados,como se suas doenças morressem junto com o maldito filho.
-Meu Deus!Madrinha está boa!Deus seja louvado!Glória a Jesus!Glória!Glória!Glória!Aleluia,Senhor!-louva e agradece,Isaura,ajoelhada,chorando de emoção,enquanto beija uma das mãos de Estér,que também ajoelha-se e abraça-se à ela,extremamente emocionada,enquanto uma das janelas do quarto é aberta por Ieda Neuza,e os raios solares iluminam o ambiente,adentrando-no iluminosamente,anunciando festas.
Até que Mãe Joana relembra,manifestando-se.
-É esse remédio que é milagroso!Divina seja a "Aguardente Alemã"!!!
-Muito auspiciosa!!!Homeopaticamente maravilhosa!-acrescenta,Isaura.
...Velório do Leôncio e uma revelação bombástica caí em um momento determinado no ambiente em que o defunto está sendo velado...
Eis que surge Camilo Castelo Branco vivíssimo,ao lado de uma linda mulata...
-Meu Deus!É um fantasma!-balbucia,Ieda Neuza,quase assustada,prestes a desmaiar,com Izaura,pondo-se atrás dela,prestes a lhe segurar.
-Não é não,senhoras e senhores,moças e rapazes...!Eis-me aqui,ressurgido das cinzas,não ressuscitado de nenhum sepulcro,nem advindo de cemitério algum,porque meu corpo,como vêem nunca havería de ter descido aquela cova,entrado naquele caixão,como este meu grande algoz(apontando para o cadáver de Leoncio) planejou,e quizera que todos pensassem!...É isto mesmo!Se alguém tivesse de fato me assassinado,este que agora encontra-se velado neste referido caixão teria sido o assassino deste vosso varão!-revela,Camilo assim que adentra a porta do salão,falando em frente ao caixão,que encontra-se ao centro do ambiente.
-Minha Nossa!Meu primo adorado,que glória de Deus não terem tido te matado!Aleluia,meu Deus!Aleluia,Jesus!Aleluia!-prostra-se aos vossos pés,chorosa e ao mesmo tempo sorridente,sinhá Vera.
-Deus de maravilhas!-exclama sinhá Estér,ao mesmo tempo que uma forte ventania abra todas as janelas,e por ali adentrem profundos raios solares.
-JESUS!CONTE-NOS CAMILO,QUE HISTÓRIA É ESTA,AFINAL?COMO VIVO ESTÁS?SE EU MESMA VI O SEU CORPO QUEIMAR E ARDER NAS LABAREDAS DE TÃO TERRÍVEL CHAMA?!...-pergunta-lhe em exclamação,Izaura.
-Não vistes não,Izaura!Ouvistes sim,não vistes nada,só ouvistes gritos lancinantes meus,que sob a mira de uma arma,fui obrigado a urrar,depois que caí naquele buraco feito atrás da porta,o Leoncio surgíu armado de uma arma...
Cenas de flash-back...
-Agora fiques calado!Se tú gritares,eu rebento-lhe o crânio,dilacero-lhe o cérebro!...-surgira o crápula,ameaçando-o com uma arma,no que após ter sido ajudado pelo jagunço Valpirâno,este tirou Camilo rapidamente do buraco,pára que na sequência um cadáver recente de um escravo fosse ali jogado no lugar de Camilo.Aí jogaram querosene em cima do mesmo e atearam-lhe fogo.
-Agora grites,seu desgraçado,para que Isaura pense que sejas tú o incendiado!-ordenou Leoncio,mirando o revólver sob a cabeça de Camilo,que assim foi obrigado a forjar gritos lancinantes,para fingír que estava sendo morto num incêndio criminoso,enquanto o cadáver de um morto é quem estava sendo realmente queimado.
Quando estavam por de trás da cabana,com Camilo amordaçado por um pano negro na boca,ainda sob a mira do revólver de Leôncio,Valpirâno espalhou querosene nas paredes da cabana,ateando fogo completamente nela,pára rapidamente entrarem num buraco ocultado por algumas folhagens,e ao descerem as escadas,Leôncio ordenou.
-Agora bebas,maldito!Bebas!-obrigando Camilo a beber um suco de maracujá misturado a sedativos bem fortes.
Assim que caíu num sono profundo.Camilo foi carregado por aquele grande corredor de um túnel subterrâneo,que o conduzia até uma outra fazenda,onde foi jogado numa carruagem e levado para um navio,e neste pôsto numa cela.Dali foi obrigado a ír para Portugal,para a província de Santiago do Cacém,onde ficou esse tempo inteiro prisioneiro como escravo branco de uma fazenda portuguesa de um amigo de Leôncio,Calisval Carvalhares.
Tempos depois,a escrava Lucélia(uma linda mulata dos olhos verdes) e ele perdidamente apaixonaram-se,que mancomunados tramaram um plano que culminou com a fuga de ambos:ela dopou a todos,misturando um sedativo poderoso no suco de laranja,que aproveitando-se do adormecimento coletivo dos dopados,obtiveram êxito na fuga.Dali o casal fugiu para Lisboa,onde Camilo possuí família e bens.Casaram-se e ele resolveu reaparecer(sem avisar obviamente a ninguém) coincidentemente justo no momento do velório de Leoncio.
-Conclusivamente,foi assim que tudo ocorreu!-concluí Camilo de mãos dadas com a esposa Lucélia na frente de todos.Munido de sua "Bíblia Sagrada",ele fala.
-Como está escrito nestas palavras,perdoai setenta vezes sete os vossos inimigos!Assim eu já perdoei este ímpio!Que não matou-me por toda a eternidade,mas sim aprisionou a minha liberdade por uma certa temporariedade!Mas graças a ele,eu encontrei de fato a minha grande amada,depois de ti,Isaura,que se acaso não tivessem forjado o meu falecimento e cerceado-me a liberdade,seria eu para ser o teu cônjuge,mas agora vejo que encontrasses também a felicidade....Já estava tudo escrito.Assim estamos felizes!Isto é o que realmente interessa!Aleluia,Jesus!Aleluia!Glórias!Glórias!Glórias aos Céus!-ajoelha-se,agradecendo ao "Deus Maior".
E assim todos os presentes acabam por dá-lo uma salva de palmas,enquanto Isaura o abraça,como forma de aceitá-lo numa grandiosa e respeitosa amizade.
-É Leoncio,desta tú escapou!Quem sabes por tú não teres te tornado um assassino,de fato,Deus não te perdôou e absolveu-te de todos os teus pecados!E que agora te encontras lá perto do nosso Criador!...-lamenta uma esperançosa sinhá Estér,acreditando na hipótese da salvação de sua alma,com um véu negro sobre a cabeça,acaricíando a face do filho sob o caixão.
-É Estér,muito difícil,Leôncio estar agora lá no Céu!Porque não foi muito bom em vossa terrestre trajetória,mas como Deus é infinitamente bom,ele deve absolver até mesmo aqueles que pensávamos estarem de certa maneira condenados...-resigna-se o Comendador diante do corpo do filho.
-Amém-balbucía,fazendo o Sinal-da-Cruz,Isaura.
Enquanto isso,Rosa tem uma lembrança maldita...
-Estás vendo este vidrinho,Rosa?...-indagara-lhe,Leoncio.
-Tô,sim!Pra "qui servi amantí"?...-respondera-lhe o crápula,momentos antes da tragédia do casamento imposto à Isaura,que culminara com a libertação da cativa,o anúncio de vossa falência e o vosso aprisionamento no manicômio judiciário.
-Ah!É veneno,"amantí"!"Prá acabá" com a vida dela!-pensou,precipitadamente,Rosa.
-Pensou errado,Rosa!É veneno sim,mas não para riscá-la do livro dos viventes e sim para matar a beleza de Isaura,para sempre!-respondera-lhe Leoncio.
-"Qui" bom,"amantí"!Mas o que é isto?-indagou-o.
-É dioxina!Uma substância que servirá para deformar o rosto de Isaura!É só misturar um pouco deste pó na comida ou na bebida da vítima!É infalível!...-a explicara,ofertando-a um plano perfeito para revitimizar a pobre escrava.
-Eu já sei como vou "acabá" com Isaura!...-malignamente,balbucia.-Vou "vingá" Leoncio,e por mim também,já que ela não merecia tanta felicidade!"Qui" ódio!...-planeja,pérfida,cortando uma maçã ao meio com uma faca.
Leoncio é enterrado.Após seu enterro Álvaro devolve aos pais do crápula tudo aquilo que lhe tomara por trâmites legais.Eles agradecem-no,bastante.
-Álvaro,vós merce é um santo!Mereces o "Céu" e toda a boa sorte de felicidade deste Universo!Muito obrigada!-agradece-lhe sinhá Estér,ajoelhada aos vossos pés.
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