sexta-feira, 5 de julho de 2013

"UMA OUTRA ESCRAVA ISAURA"-O GRANDE FINAL-PARTE 1:

A grande cantora de fados portugueses Amália Rodrigues está a cantar um clássico do fado lusitano,a música "Casa da Mariquinhas" no palco do teatro de arena do domicílio de Doña Sol,para um público seleto em mais um sarau,quando acontece um fenômeno mais-do-que espetacular:"A Chuva de Meteoritos",como se várias estrelas caíssem do "Céu da Espanha",enchendo a noite de "raríssima beleza visual".
-Meu Deus!Que formidabilíssimo!!!-suspira Isaura,saltando os olhos de admiração,como se visse algo inverossímil.
Até que no mesmo céu apareça-o desenhado um "Escorpião de Estrelas".
-É  a "Constelação do Signo de Escorpião",avisando-nos de uma profunda transformação!Sejam elas fatídicas ou auspiciosas!Só Deus sabe...-explica-lhes Doña Sol,sabedoura dos recados astrais.
Assim que dá-se a sua interpretação,surgem Leoncio,Rosa e a milícia espanhola,para prender Isaura.
-Vós mercês estão presos!-anuncia-os o crápula,referíndo-se ao casal Isaura e Álvaro,ao mesmo tempo que ouvem-se os estrondosos "7 Trovões" no "Céu" sob ares noturnos.
Ambos são acorrentados e para a presiganga assim levados.Ambos recolhidos em celas diferentes do navio-presídio.O tempo passa muito rápido,como se "atravessassem o mapa".Isaura e todos já estão no Brasil.Álvaro é penalizado a pagar uma multa por desrespeito à Justiça,ao ajudá-la empreender a sua quinta fuga.E aguardar um novo julgamento,que decidirá se ele será ou não expulso do país.Algo pleiteado pelo crápula,que achou por "bem" ingressar com este pedido em esfera judicíal,pára que se Álvaro,se acaso for ao exílio condenado,seja para sempre de Isaura,separado.
Quanto à Isaura,Leoncio volta à decisão de deixá-la enclausurada em seu próprio quarto na casa-grande do engenho,a "Fazenda Santa Genoveva".Desta maneira,Isaura vive a sua solitária e sacrificada gestação.Condenada novamente à prisão domicíliar e também afastada do grande amado.Como também a ser penalizada com a triste notícia do afastamento de vosso pai e a "tia-madrasta",vendidos pelo algoz para um barão escravocrata residente em longínquas e desconhecidas terras.E como se não bastasse, mais uma ruim novidade:ela é obrigada a enxugar ovos caipiras da granja do engenho,12 horas por dia.Pega-os mergulhados n'água em grande tonel de madeira,e um a um vai enxugando-os munida de algum guardanapo,trocando-o por outro,à medida em que o que está sendo usado encontra-se molhado.Colocando os ovos enxugados em uma cesta de palha.Trabalho punitivo criado pelo cérebro maligno da própria e invejosa Rosa,sugerido a Leoncio,para que o mesmo castigasse Isaura e assim a ocupasse,para que a mesma não voltasse a ter "ares de princesa preguiçosa e desocupada"!
Só que ao decorrer dos meses Leoncio vai desperdiçando quantias vultosas do patrimônio de vosso pai,desperdiçando principalmente com mulheres de lupanar ou "pônas",bebidas,jogatinas e farras.Como consequência vê-se completamente endividado,pois para completar sua tragédia financeira tem prejuízos com o tráfico negreiro,por naufragar dois navios de sua frota,repleto de escravos,oriundos da África e como se não bastasse,sua lavoura açucareira ser atingida por pragas.
Não havendo outra saída pede empréstimos exorbitantes ao banco,hipotecando todos os vossos bens.É aí que o banqueiro português Antônio Calvário de Santiago,amigo de um amigo de Álvaro avisa-o,que por sua vez,avisa ao amado de Isaura.Sem perder tempo,Álvaro faz o pagamento completo das dívidas do inimigo,e automaticamente apodera-se,em benefício próprio,por direito,de tudo aquilo que já lhe pertenceu.Só que por enquanto Álvaro empreende todas estas ações em segredo.Esperando para "dar o bote" fatal em ocasião oportuna.
É quando ao saír do banco,após pagar todas as dívidas do adversário,tomar os bens do mesmo,decide empreender uma visita aos amigos Henrique,Virgi Santa e sinhá Vera.
-Álvaro!Estávamos saindo exatamente para encontrarmos contigo!Pois desta vez Leoncio foi tenebroso demais!...-o diz,Vera,abrindo a porta,para visitá-lo,quando o mesmo já estava ali para lhes visitar e o segredo os contar.
-Meu Deus!O que fôra?Nao diga-me que Leoncio atentou contra a vida de Isaura?!-adentra a casa,Álvaro,sobressaltado.
-Não para tanto!Acalme-se,Álvaro!Sente-se!-o pede encarecidamente,Vera.-Virgi Santa vá buscar o chá de camomila para Álvaro se acalmar...-a solicita.
-O que foi sinhôra Vera?!Afinal o que desta vez Isaura sofreu?!Conte-me,por obséquio!-a indaga Álvaro,visivelmente desnorteado.
-Acalme-se Álvaro!Acalme-se!Não desnorteie-se tanto!Serei-lhe concisa no conto!Simplesmente Leoncio decidiu anular por conta própria o casamento entre Belchior e Isaura e a obrigá-la em um futuro sarau a anunciar-se como a sua nova mulher!A sua mais nova mulher!...conta-lhe,concisamente,Vera.
-Que canalha!Pústula miserável!Mas asseguro-lhes que este cruel constrangimento não acontecerá!Muito pelo contrário!Eu é quem o farei passar por uma cruel humilhação!-garante.-Aqui está a prova!...-revela-lhes,amostrando-os um documento comprobatório de que comprou as dívidas de Leoncio,e assim é o novo dono de tudo o que ele tem.
-Nossa Senhora!É inacreditável,mas já era de se esperar!Quanto castigo!Melhor impossível!...-diz sinhá Vera espantada e ao mesmo tempo admirada,dando uma pausa olhando fixamente para a parede,até que recobre o olhar,voltando a mexer com as pálpebras.-É Leoncio chafurdando-se na própria lama do pecado!Matando a própria riqueza para entregar-se de bandeja!...-concluí sinhá Vera,munida do documento de Álvaro,após analisar minuciosamente o seu teor.
-Muito bem executado!Meus parabéns Álvaro!Então é assim que vós pretende vingar-se?!Tomando tudo do canalha para o condená-lo à bancarrota!Chafurdá-lo na lama da miséria!Mais-do-que-perfeitamente tramado!Ele merece e como o merece!...-elogia-o,Henrique,ao ler o teor do papel.
-É "inhô"!"Demôrô",mas "ú castigú chegô"!-diz,Virgi Santa.
E vai chegar...É "11 de Maio de 1888".Dia do "fatídico" sarau para Leoncio e o mais redentor da vida inteira de Isaura.O crápula adentra o salão de sua casa na Côrte,anuncíando o início do "Baile das Mascarilhas",acompanhado de Isaura,que está mais linda do que nunca,trajando um belíssimo vestido vermelho de gala,cuja mascarilha que adorna-lhe o rosto é côr de prata.
-Senhoras e senhores!Apresentear-lhe-eis nesta pontual ocasião a minha mais nova sinhôra!Eí-la aqui!-aponta-lhe com a mão,objetivando apresentá-la.
-Páre Leoncio!-e Isaura retira a mascarilha,chorando,segurando-a com uma das mãos.-Desculpem pela infâmia que este senhor encontra-se a agir para com vós mercês!Visto que eu estou sendo vítima da mais constrangível fatalidade moral e socíal,sentindo-me vilipendiada como ser humano,escravizada no sentido mais peculíar do âmago de minha'lma!-protesta.-Pois não sou mulher deste homem,nem o serei jamais!...-desabafa corajosamente na frente de todos os convidados,revelando-os tamanha aflição que espinha-lhe o espírito,afrontando a Leoncio,consequentemente.
-Cala-te Isaura!Cala-te Isaura!O que estás fazendo Isaura?!-a pega fortemente pelos braços,pondo-se a balançá-la,exigindo.-Peça perdão aos convidados,redima-se e diga-lhes que és a minha mais nova mulher,Isaura!Eu ordeno-te!Obedeça-me!Agora!-a ordena,constrangendo-a.
-Jamais ser infâme e arbitrário!Jamais!Eu nunca serei tua!Nem vestida,nem nua!-volta a protestar.
-Já que não o queres jamais ser a minha mulher!Serás eternamente a minha escrava!Desgraçada!-prepara-se para dar-lhe um tapa,quando surge alguém para pegá-lo fortemente em seu pulso.É Álvaro.
-Desgraçada é a vossa covardia,seu abutre!-o olha com fúria,impedindo-o que esbofeteie Isaura,empurrando-o com violência,fazendo com que Leoncio caía sobre o assoalho.
-Maldito intrometido!Vou cobrí-lo de pancadas!-e levanta-se com fúria,preparado para espancar o inimigo.
-Nao vais não!Páre aonde está Leoncio,ou eu atiro!-surge sinhá Vera,munida de uma arma,ameaçando rebentar-lhe o crânio.
-Então terás que atirar porque eu não vou parar!-desafia-lhe o crápula,fazendo com que sinhá Vera dê-lhe um tiro no braço,na frente de todos os convidados.
-Eu o falei Leoncio!Vós mercê não obedeceu-me,e agora recolha-se às tristes e dolorosas insignificâncias de vossas inconsequências!Seu pústula!Envergonhando-me diante de toda a sociedade!Expondo Isaura a tamanha ridicularidade!Seu inútil!É isto que serás agora!Pois perdestes tudo o que tú tens!Não tens mais nenhum dos teus bens!Agora és um nada!...-o desabafa,olhando-o com raiva,cujos olhos estão cheios de lágrimas.-Ouvistes?!Um nada!Um nada!Um nada!-bate no chão com um dos pés,como que se o estivesse esmagando,espezinhando-o,pulverizando-o.
-É isto mesmo senhor LeoncioAlmeida Prado de Guianazes!Antes que venha acusá-la de louca,é bem surreal o que a sinhôra Vera vos fala!Eu paguei todas as vossas dívidas!E tudo o que era seu agora é meu!Acabou o pesadelo de Isaura!Seu crápula!-anuncia-lhe Álvaro,mostrando-lhe o documento de arrêsto que apreende todos os seus bens por decisão judicial,e os transfere para sí.
-Maldito embargo!Dê-me aqui!-toma a arma rapidamente da mão de Vera,a empurra e mirando a arma em direção a Álvaro,mas surpreendentemente na sequência,mirando-a para a sua própria cabeça,anuncía.
-Agora eu vou me matar!-e quando está prestes a apertar o gatilho,surge Rosa por trás dele,impedindo-o do suicídio,quebrando-lhe um vaso de porcelana na cabeça,fazendo-o desmaíar e levando sinhá Vera a uma triste conclusão.
-Ah!Meu Deus!Definitivamente Leoncio ficou louco!Levem-no para o manicômio!Agora!-concluí racionalmente sinhá Vera,ordenando ao feitor Cipriano que o leve para a carruagem.


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